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O esforço de gigantes da tecnologia para atender à crescente demanda energética de suas operações e ambições em inteligência artificial tem gerado debates significativos sobre a sustentabilidade e o futuro do consumo de energia. Recentemente, a empresa de tecnologia Google fez um movimento estratégico que acende a discussão, anunciando seu apoio a um projeto de usina de gás natural que incorporará tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CCS).
Essa iniciativa, embora apresentada como uma abordagem inovadora para reduzir emissões, suscita questionamentos sobre sua eficácia e real impacto ambiental. A promessa é de uma geração de energia com emissões significativamente menores, mas críticos alertam para o risco de prolongar a dependência de combustíveis fósseis em vez de acelerar a transição para fontes mais limpas e renováveis.
Google Apoia Gás com Captura de Carbono para Data Centers
A mais recente incursão da gigante tecnológica no campo da energia limpa é, para ser preciso, uma usina termelétrica a gás equipada com dispositivos de filtragem destinados a capturar suas emissões de carbono. Este modelo, o qual tem recebido consideráveis dúvidas quanto à sua viabilidade técnica e financeira, se apresenta como um caminho disputado no enfrentamento das alterações climáticas, especialmente face ao rápido crescimento de infraestruturas como os data centers Google, que consomem vasta quantidade de energia.
A aliança selada pela empresa prevê o desenvolvimento de uma nova central elétrica movida a gás em Illinois, Estados Unidos, batizada de Broadwing Energy Center. A usina operará em conjunto com um sistema de captura e armazenamento de carbono (CCS), uma tecnologia que tem como meta principal filtrar o dióxido de carbono (CO2) diretamente das emissões da chaminé e, em seguida, armazená-lo no subsolo para evitar seu acúmulo na atmosfera. O objetivo é atenuar os efeitos do aquecimento global, prevenindo desastres como o aumento do nível do mar e a morte de recifes de coral.
O projeto do Google se destaca pela afirmação de ser capaz de armazenar permanentemente cerca de 90% das emissões de dióxido de carbono geradas pela usina, uma taxa superior à alcançada por muitos outros empreendimentos de CCS até o momento. A gigante da tecnologia confirmou seu compromisso de adquirir a maior parte da energia produzida pela Broadwing Energy Center, uma usina com capacidade de 400 MW, assim que ela entrar em operação, prevista para 2030.
Em comunicado oficial, o Google enfatizou que o objetivo primordial de seu apoio é “ajudar a trazer novas e promissoras soluções de CCS para o mercado, ao mesmo tempo em que aprendemos e inovamos rapidamente”. Esta visão estratégica ocorre em um cenário onde a demanda energética dos data centers, impulsionada em grande parte pelas crescentes ambições da empresa em inteligência artificial, tem visto um aumento notável, contribuindo inclusive para o encarecimento das contas de serviços públicos em algumas regiões.
Apesar da retórica otimista, o histórico da tecnologia CCS nos Estados Unidos tem sido irregular. Um relatório de 2021 do Government Accountability Office (GAO) revelou que o Departamento de Energia (DOE) dos EUA investiu centenas de milhões de dólares em projetos de CCS que fracassaram. Dos quase 684 milhões de dólares destinados a seis projetos em usinas de carvão, apenas um chegou a ser operacional. Segundo o GAO, os demais projetos sofreram com fatores que afetaram sua viabilidade econômica.
Um exemplo notório foi o único projeto CCS que progrediu com o apoio do DOE e entrou em funcionamento em 2017, mas que, posteriormente, foi desativado por alguns anos a partir de 2020. A paralisação coincidiu com a queda drástica dos preços do petróleo durante a pandemia de COVID-19, expondo uma dependência financeira. Curiosamente, essa usina a carvão era sensível aos preços do petróleo porque vendia o CO2 capturado para projetos de recuperação avançada de petróleo, nos quais o gás é injetado no subsolo para extrair reservas de difícil acesso.

Imagem: Hugo Herrera/The via theverge.com
A central que o Google está respaldando apresenta diferenças cruciais em relação aos empreendimentos anteriores. Primeiramente, a usina funcionará a gás natural, uma fonte que se tornou mais acessível para a geração de energia em comparação com o carvão. Em segundo lugar, o CO2 capturado será armazenado a cerca de um quilômetro abaixo do solo em um poço adjacente à usina, em vez de ser comercializado para projetos de recuperação de petróleo, visando um sequestro mais permanente.
No entanto, a escolha pelo gás natural não está isenta de controvérsias adicionais. Embora a indústria prefira o termo “gás natural”, o principal componente queimado é o metano, um gás de efeito estufa significativamente mais potente que o dióxido de carbono. Além disso, vazamentos de metano são frequentes em poços de petróleo e gás, bem como em oleodutos e gasodutos, um problema que a captura de CO2 em usinas não resolve. Usinas a gás também são fontes de outros poluentes atmosféricos, representando riscos à saúde das comunidades próximas.
Em contraste, fontes de energia como a solar e a eólica em terra não apresentam os mesmos problemas de poluição climática e geralmente são mais econômicas de implantar do que as usinas a combustíveis fósseis nos dias atuais. Vale destacar que o Google tem sido um dos maiores compradores corporativos de energia renovável por anos, impulsionando a ascensão da energia eólica e solar como as fontes de eletricidade de crescimento mais rápido. A própria Agência Internacional de Energia (IEA) destaca regularmente a importância da transição energética em seus relatórios.
Curiosamente, a empresa não faz menção a essa trajetória de sucesso com as renováveis em seu anúncio recente. Essa omissão pode refletir um cenário político em transformação nos EUA, onde há uma tendência desfavorável às energias renováveis sob algumas administrações. Exemplo disso são iniciativas para encerrar incentivos fiscais para projetos solares e eólicos, enquanto os destinados à tecnologia CCS são mantidos, o que indica um ambiente favorável ao fomento da captura de carbono.
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Em resumo, o Google se encontra em um dilema energético: como alimentar seus cada vez mais intensos data centers Google e suas ambições em IA sem aumentar significativamente sua pegada de carbono? O apoio ao projeto Broadwing Energy Center e à captura de carbono para gás é uma tentativa de conciliar esse crescimento com a responsabilidade ambiental, embora persista o debate sobre a real eficácia e sustentabilidade dessa abordagem. Acompanhe mais análises sobre os rumos da economia e da tecnologia em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Hugo Herrera / The Verge
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