Hamas intensifica controle em Gaza pós-cessar-fogo e desafia rivais

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O Hamas intensifica controle em Gaza após um acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, enfrentando a oposição de grupos rivais na Faixa. As ações do grupo para reafirmar sua autoridade geraram uma dura advertência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ameaçou desarmar “violentamente” a organização caso esta não se desarme em um “prazo razoável”, sem especificar a data limite para tal.

Os comentários do líder americano foram feitos na terça-feira (14/10), coincidindo com a disseminação online de imagens que documentavam execuções públicas e outras demonstrações ostensivas de poder realizadas por combatentes do Hamas em Gaza. Tais manifestações ocorrem desde o início do cessar-fogo na semana passada, gerando preocupações sobre a estabilidade regional e o cumprimento dos termos acordados.

A escalada da violência e as exibições de força evidenciam a complexa dinâmica regional, com o grupo tentando solidificar sua influência. A situação se torna ainda mais tensa conforme o foco se volta para as táticas empregadas para manter o domínio. Compreender o contexto atual é essencial para analisar como o Hamas intensifica controle em Gaza e as repercussões dessa conduta sobre a população local e as relações internacionais.

Demonstrações de Força em Gaza Pós-Cessar-Fogo

A recente execução em um cruzamento central da Cidade de Gaza, registrada em vídeo e confirmada quanto à localização e autenticidade pela equipe da BBC Verify, seguiu-se à promessa do Hamas de erradicar o que descreveu como “anarquia” na Faixa de Gaza. Essas demonstrações são parte de uma estratégia mais ampla para consolidar o poder e silenciar dissidências, um padrão que vem sendo observado nas semanas seguintes ao armistício.

Outras gravações autenticadas pela BBC Verify mostram homens armados em patrulha exibindo insígnias que os identificam como integrantes da força de segurança interna do Hamas. Também foram registrados vídeos de combatentes mascarados realizando disparos contra indivíduos desarmados, práticas que intensificam a percepção de um cenário de tensão e opressão dentro do território controlado pelo Hamas.

Analistas consultados pela BBC Verify indicam que estas exibições de força visam, em grande parte, conter a ascensão de clãs armados que, nos últimos dois anos, têm desafiado de forma crescente a autoridade do Hamas sobre a Faixa de Gaza. A presença ostensiva de militares do grupo é uma tentativa clara de restaurar o monopólio da violência e da governança na região, apesar das complexas ramificações políticas e humanitárias.

O Cenário dos Conflitos Internos em Gaza

As tensões entre o Hamas e seus grupos rivais na Faixa de Gaza são anteriores ao recente conflito com Israel. Histórico de rivalidades e interesses conflitantes há muito caracterizam o cenário político e de segurança do enclave, com diversas facções competindo por influência e recursos.

Um exemplo notório é o clã Dughmush, tradicionalmente envolvido com atividades de contrabando ao longo da fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel, conforme elucidado por um especialista à BBC Verify. Conflitos recentes entre o clã Dughmush e o Hamas resultaram em um saldo trágico de mais de 50 mortos, incluindo 12 membros do próprio Hamas, destacando a ferocidade dessa disputa interna.

As autoridades israelenses já afirmaram em ocasiões passadas que forneceram armamento a outros grupos armados na Faixa de Gaza, sugerindo um esforço para minar o controle do Hamas por meio da fomentação de facções opositoras. Essa interferência externa adiciona uma camada de complexidade à dinâmica interna, exacerbando as hostilidades entre os diferentes atores armados na região.

Em resposta à percepção de desafios à sua autoridade, uma unidade de segurança interna do Hamas comprometeu-se publicamente a “erradicar gangues e milícias” as quais acusou de colaboração “com o inimigo”. Esta declaração sublinha a determinação do grupo em reprimir qualquer forma de oposição interna, mesmo que isso signifique o uso de força letal e demonstrações públicas de poder.

Os Detalhes das Execuções Públicas Verificadas

Um vídeo divulgado na segunda-feira (13/10) revelou o ato de combatentes do Hamas executando um grupo de oito homens. A geolocalização da gravação pela BBC Verify permitiu determinar que o incidente ocorreu em um cruzamento no bairro central de Zeitoun, na Cidade de Gaza. Esta área havia sido palco de uma significativa ofensiva terrestre israelense semanas antes, mas agora estava novamente sob controle do Hamas após a retirada militar de Israel.

Hamas intensifica controle em Gaza pós-cessar-fogo e desafia rivais - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Nas chocantes imagens, combatentes, alguns trajando coletes à prova de balas e faixas do Hamas, obrigam homens a formar uma fila em frente a uma multidão que incluía até uma criança pequena. Após serem compelidos a ajoelhar-se, ouve-se a multidão gritando termos como “colaborador” ou “agente”, legitimando a ação em massa. Os combatentes então abrem fogo contra os homens amarrados, que sucumbem ao chão. Subsequentemente, os atiradores disparam para o ar enquanto proclamam: “Viva as Brigadas al-Qassam!”, em uma exaltação ao braço militar do Hamas.

Em outra gravação verificada pela BBC Verify, combatentes mascarados e armados são vistos forçando um homem a se ajoelhar no mesmo cruzamento de Zeitoun antes de disparar contra sua perna. Outros tiros e gritos podem ser ouvidos em seguida, embora as imagens não permitam confirmar se outra pessoa foi atingida. Finalmente, diversos homens armados posicionam-se em guarda ao redor do indivíduo ferido, gesticulando para as testemunhas presentes no local. A origem do incidente, que apareceu online pela primeira vez na semana passada (10/10), permanece incerta, sem evidências de publicações anteriores.

Palestinos que compartilharam suas perspectivas com a BBC manifestaram profundo temor diante das execuções públicas. Um advogado residente em Gaza questionou a lógica por trás dos aplausos ao caos: “Por que as pessoas aplaudem o caos? Um homem mascarado mata outro homem mascarado sem provas, sem investigação, sem julgamento, sem sequer um tempo para recurso. Como chamamos isso? Resistência? Não, isso é anarquia”. Similarmente, um ativista da Faixa de Gaza central argumentou: “Não se pode corrigir um erro com outro. As execuções sem julgamento justo são um crime. Que Deus guie nosso povo”.

Enquanto essas execuções aconteciam, membros da força de segurança interna do Hamas se espalhavam pela Cidade de Gaza, realizando uma demonstração adicional de poder. Dois desses combatentes, portando insígnias de unidades de segurança interna e armados com fuzis, foram geolocalizados pela equipe da BBC Verify em um cruzamento na Cidade de Gaza. Outras exibições de força incluíram a marcha de homens armados com fuzis em um mercado na área de Zeitoun, acompanhados por um pequeno grupo que agitava uma bandeira palestina, reafirmando visualmente o domínio do Hamas.

A Estratégia de Consolidação do Poder e o Posicionamento Internacional

Para Fawaz Gerges, professor de relações internacionais na London School of Economics, “acredito que o Hamas vem tentando mobilizar suas forças, utilizando as do Ministério do Interior, para afirmar e consolidar seu controle”. Ele acrescentou que, “nas zonas sob seu controle, o Hamas poderá destruir vários clãs, gangues, invasores e milícias porque suas forças são mais experientes, mais habilidosas e mais determinadas”, sublinhando a estratégia metódica do grupo.

Apesar da persistência de rivalidades com diferentes grupos armados em Gaza, Yaniv Voller, professor titular de política do Oriente Médio na Universidade de Kent, aponta que os bombardeios israelenses e o enfraquecimento do Hamas acabaram por permitir o fortalecimento de alguns desses clãs. “O colapso de outras instituições sociais aumentou o apelo dos clãs, que podem servir como uma rede social para seus membros”, afirmou Voller, sugerindo uma mudança na estrutura social e política local. Além disso, “foi relatado que ao menos alguns dos clãs têm recebido armas e outros tipos de apoios das Forças de Defesa de Israel (FDI) para atuar como intermediários contra o Hamas”, disse o professor, complicando ainda mais o cenário de alianças e confrontos. Milícias também operam em áreas controladas pelas FDI, e a BBC Verify, através de análises de vídeos em redes sociais, identificou bases de dois grupos rivais nesses territórios, uma perto de Rafah (sul) e outra próxima a Beit Hanoun (norte).

Em face do ressurgimento do Hamas e da atuação de suas forças de segurança na vigilância de Gaza, o presidente Donald Trump havia declarado anteriormente que tais ações não violavam o acordo de cessar-fogo. “O [Hamas] quer pôr fim aos problemas e expressou isso abertamente, e nós lhes demos nossa aprovação por um tempo”, disse o presidente dos EUA na segunda-feira (13/10). Trump justificou essa postura pela necessidade de garantir a segurança, enfatizando: “Temos cerca de 2 milhões de pessoas voltando a edifícios demolidos, e muitas coisas ruins podem acontecer. É por isso que queremos que tudo aconteça com segurança”.

Fawaz Gerges reiterou que os Estados Unidos e seus aliados se viram sem alternativa senão permitir que o Hamas exercesse alguma força em Gaza para que o cessar-fogo produzisse um impacto significativo. A complexidade da segurança em territórios conflagrados, como a Faixa de Gaza, frequentemente levanta questões sobre o papel de diferentes atores armados e o impacto humanitário, cenário monitorado de perto por organizações internacionais como as Nações Unidas, conforme detalhado em seus relatórios. Gerges concluiu que: “Sem segurança, não se pode oferecer ajuda. Sem segurança, não se pode viver. Os americanos percebem que a única força é o Hamas, e essa é a ironia”, evidenciando o dilema enfrentado pelos mediadores internacionais.

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A consolidação do poder do Hamas na Faixa de Gaza, marcada por tensões internas e demonstrações públicas de força após o cessar-fogo, continua a moldar a paisagem política e humanitária da região. As complexas dinâmicas entre o Hamas, grupos rivais e a postura internacional revelam um cenário em constante evolução. Para análises aprofundadas sobre a geopolítica do Oriente Médio e seus desdobramentos, continue acompanhando nossa editoria de Política.

Crédito: Getty Images


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