Hospital de Israel se prepara para receber reféns libertados

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O Hospital de Israel, especificamente o Centro Médico Rabin, localizado em Petah Tikva, nas proximidades de Tel Aviv, está em um estado de intensa preparação e aprendizado contínuo. Nesta segunda-feira, 13 de outubro, vinte reféns israelenses libertados pelo Hamas foram transportados de helicóptero para esta instituição. Uma equipe multidisciplinar os aguardava com uma abordagem pioneira, caracterizada como “medicina do cativeiro” — uma área da saúde que, segundo os próprios profissionais, está sendo inventada e refinada a cada nova experiência de libertação.

No setor de atendimento especializado, localizado no sexto andar do hospital, a chefe de enfermagem Michal Steinman acompanhou o aguardado reencontro desses indivíduos com seus familiares. Após mais de 700 dias de cativeiro, a chegada ao hospital marca o início de uma recuperação que será monitorada e examinada em todas as suas etapas por uma equipe dedicada de nutricionistas, médicos e especialistas em saúde mental.

Para Michal Steinman, este momento transcende a rotina profissional. Ela descreve a oportunidade de presenciar e auxiliar neste processo como um privilégio marcante, algo que certamente figurará entre os dois ou três eventos mais memoráveis de sua vida, tamanha a carga simbólica e humanitária da tarefa. A preparação para receber os ex-reféns em 13 de outubro representa a terceira operação do Centro Médico Rabin nesse sentido. A BBC visitou o setor no sábado anterior (11/10), quando a equipe de saúde já havia sido informada sobre as identidades dos que seriam atendidos e intensificava os preparativos para o retorno.

Hospital de Israel se prepara para receber reféns libertados

A abordagem inovadora desenvolvida no Centro Médico Rabin demonstra um compromisso não apenas com o restabelecimento físico dos indivíduos, mas também com a complexa rede de apoio psicológico e social necessária após experiências tão traumáticas. Essa tarefa desafiadora coloca o hospital na vanguarda de uma especialidade médica ainda não formalmente catalogada, exigindo constante adaptação e uma grande dose de humildade por parte da equipe envolvida.

A Inovação da “Medicina do Cativeiro”

“Não existe uma área chamada medicina do cativeiro, estamos inventando uma”, declarou Steinman à BBC, sublinhando a natureza inédita e o esforço colaborativo do trabalho em andamento. Essa área em desenvolvimento é fruto das experiências acumuladas nas libertações de reféns anteriores, ocorridas em novembro de 2023 e janeiro deste ano, que ofereceram lições cruciais para aprimorar os protocolos de atendimento e reabilitação. O hospital, sob a liderança de Steinman e sua equipe, tornou-se um epicentro de inovação em resposta a uma crise humanitária sem precedentes.

Primeira Lição: O “Detetive Médico”

Uma das primeiras grandes lições apreendidas foi a necessidade de atuar como “detetive médico”. Isso implica em um meticuloso esforço para compreender os eventos e condições que marcaram os longos dias e noites de cativeiro. Nos casos anteriores, muitos reféns apresentavam-se desnutridos, algemados e, em algumas situações, espancados. Steinman relata que, à época, observavam-se “alterações nos exames de sangue, nas enzimas, que não conseguíamos entender” de imediato. A compreensão profunda dos traumas físicos e fisiológicos exige uma investigação aprofundada, quase como um quebra-cabeça, onde cada dado contribui para uma visão mais clara do estado de saúde.

Além disso, a equipe percebeu que alguns sintomas podem demorar dias ou semanas para se manifestar plenamente. “O cativeiro deixa marcas que o corpo lembra”, enfatiza Steinman, ilustrando como as camadas de sofrimento se revelam progressivamente. A complexidade do cenário exige paciência e um olhar atento, pois, mesmo com os reféns que retornaram em janeiro e fevereiro, descobertas médicas são feitas a cada semana. Essa contínua aprendizagem demonstra a profundidade e a longevidade dos impactos do cativeiro tanto no corpo quanto na mente dos indivíduos.

Segunda Lição: O Poder do Tempo e do Espaço

A segunda lição fundamental reside na importância de conceder tempo aos reféns. O Centro Médico Rabin estruturou sua equipe de atendimento de forma multidisciplinar, contando com nutricionistas, assistentes sociais, especialistas em saúde mental, além de todo o corpo médico. Cada refém libertado recebe um quarto privativo, cuja porta exibe uma placa de “não perturbe”.

O ambiente dos quartos é intencionalmente concebido para simular um “clima de hotel”, priorizando o acolhimento e o conforto. Kits de cuidado personalizado, uma decoração suave, iluminação amena, uma cama hospitalar de última geração e monitores discretos são elementos que compõem este espaço. Para aqueles que não desejam ficar sozinhos durante a noite, uma cama de solteiro extra é disponibilizada, permitindo que um parente próximo ou acompanhante pernoite. Os familiares mais próximos, por sua vez, também têm um quarto próprio localizado convenientemente em frente ao do refém libertado, facilitando o apoio e a proximidade necessária.

Steinman destaca o desafio de equilibrar a prática médica tradicional com a sensibilidade exigida pela situação. Enquanto profissionais da saúde são frequentemente orientados por tarefas e cronogramas, a “medicina do cativeiro” exige muito mais espaço e flexibilidade. É preciso discernir o que é verdadeiramente urgente do que pode aguardar, mantendo a responsabilidade médica. Essa abordagem se estende a detalhes como a determinação da dieta, crucial para reféns que, em alguns casos, perderam mais da metade de seu peso corporal.

Hospital de Israel se prepara para receber reféns libertados - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

O Apoio Psicossocial e a Reintegração à Realidade

A recuperação física representa apenas uma faceta da complexa jornada. Karina Shwartz, diretora de serviço social do Centro Médico Rabin, é outra figura central na equipe, com a responsabilidade de prestar suporte não apenas aos reféns, mas também a seus familiares mais próximos. Parte de seu trabalho é calibrar delicadamente a dinâmica familiar, discernindo quando intervir e quando o silêncio é a melhor resposta.

Shwartz afirma que, por vezes, “o mais importante é o que não estamos dizendo”. Um silêncio em resposta a relatos de experiências de quase-morte no cativeiro pode ser “um silêncio muito alto”, carregado de significado e compreensão. Contudo, ela também salienta a necessidade de contenção. “Não podemos falar sobre dois anos em uma semana. Os reféns precisam de espaço e tempo. Também precisam de silêncio. Temos que ouvir. Ouvir a história deles”, diz ela, reforçando que a prioridade é a escuta empática e respeitosa, permitindo que cada um processe suas vivências no próprio ritmo.

A equipe da unidade de retorno de reféns enfatiza que o trabalho não se encerra com a alta hospitalar. A reabilitação médica e psicológica continuará, e os reféns também necessitam ser preparados para o “momento em que o mundo real chega”. Durante dois anos, eles foram figuras públicas, e Shwartz e sua equipe se empenham em transmitir a eles e suas famílias uma mensagem crucial: muitos vão querer vê-los e interagir, buscando contato e amizade. A orientação é que “é aceitável dizer não. É seguro dizer não”, um reconhecimento de que o retorno à normalidade é um processo gradual e pessoal.

O nervosismo e a expectativa da equipe do hospital são quase palpáveis, revela Steinman. Ela menciona que seu WhatsApp está repleto de mensagens, com quase todos os 1.700 enfermeiros do complexo médico se oferecendo para fazer turnos extras na unidade, um testemunho do senso de propósito coletivo. Para Steinman, o trabalho ali representa uma renovação da esperança, reforçando a crença de que “a vida e os seres humanos são bons” e permitindo que se perceba “a força do espírito humano”. A experiência dos profissionais do Centro Médico Rabin em desenvolver uma “medicina do cativeiro” sublinha a urgente necessidade de adaptações na saúde diante de crises humanitárias complexas, uma realidade que muitas regiões do mundo continuam a enfrentar.

Ainda assim, o maior desejo e prazer para Steinman será quando o trabalho em sua unidade finalmente chegar ao fim. Esta é a terceira vez que a unidade é aberta, e a esperança de que esta seja a última vez — de que, ao fecharem o local e declararem a missão cumprida, saberão que o pesadelo de muitos se encerrou de forma definitiva — é o que impulsiona a todos.

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Este esforço humanitário e inovador do Hospital de Israel ressalta a importância da resiliência e da capacidade de adaptação da medicina diante das mais adversas circunstâncias. A “medicina do cativeiro” emerge não apenas como uma especialidade necessária, mas como um testemunho da dedicação incansável em cuidar do corpo e da alma daqueles que suportaram provações inimagináveis. Para aprofundar-se em análises e notícias sobre saúde e acontecimentos importantes, convidamos você a continuar explorando nossa editoria de Política e muito mais em nosso site.

Crédito da imagem: Reuters


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