📚 Continue Lendo
Mais artigos do nosso blog
A série House of Guinness Netflix promete desvendar os complexos bastidores de uma das mais renomadas dinastias empresariais da história. Lançada em 25 de setembro, a nova produção original da gigante do streaming mergulha nas histórias de uma família cujo legado se entrelaça com a icônica cerveja escura irlandesa. Inspirada por uma observação perspicaz, a série baseia-se em uma extensa sinopse que transformou relatos familiares em um drama cativante, recheado de ambição e reviravoltas que ecoam através das gerações.
A ideia original para o programa surgiu de Ivana Lowell, uma descendente direta de Arthur Guinness, o visionário fundador da lendária cervejaria. Durante um momento de lazer em Castletown, Irlanda, enquanto assistia à aclamada série de televisão “Downton Abbey”, Lowell teve um insight revelador. Na grandiosa mansão palladiana restaurada por seu primo Desmond Guinness, ela ponderou sobre as disputas e intrigas ficcionais, percebendo que a saga de sua própria família era não apenas mais interessante, mas também totalmente real, repleta de tramas e personagens que superavam qualquer roteiro. Essa constatação a impulsionou a compor uma detalhada sinopse de vinte páginas, visando transpor os triunfos e dilemas de seu clã para o formato televisivo.
House of Guinness Netflix: Série Desvenda História da Família
Uma década após o ponto de partida de Ivana, Steven Knight, o aclamado diretor e roteirista por trás de “Peaky Blinders” (2013-2022), foi o responsável por levar o conceito de Lowell para as telas. A produção foi finalizada e disponibilizada globalmente, com os créditos destacando claramente que é “Baseada na ideia de Ivana Lowell.” A obra se debruça sobre a intricada trajetória dos herdeiros da cervejaria, explorando o impacto de seus antecessores e o vasto império que Arthur Guinness (1725-1803), o criador da célebre stout irlandesa, fundou e transformou em um fenômeno mundial. Atualmente, a famosa bebida escura é vendida em volumes que superam dez milhões de copos diariamente, um testamento ao gênio e à visão do patriarca original da família.
O Legado Guinness e a Irlanda do Século XIX
A narrativa central da série, embora recheada de intrigas familiares, também ressoa com a atmosfera dramática da premiada “Succession”, da HBO, que explora os relacionamentos conturbados entre um magnata e seus filhos. Em “House of Guinness”, contudo, os filhos do falecido patriarca não só conspiram entre si, mas também devem confrontar os desejos póstumos do pai e as turbulentas condições sociais e políticas da Irlanda no século XIX. Naquela época, o país integrava o Reino Unido (de 1801 a 1922) e era palco de um ativo movimento de temperança, que advogava pela moderação ou total abstinência de álcool, e de intensa agitação política, exacerbada pela predominância de uma próspera elite protestante – da qual os Guinness faziam parte – sobre uma maioria católica empobrecida.
Ivana Lowell descreve os quatro jovens herdeiros como estando sob um fardo “de imensas responsabilidades e um vasto legado” deixados pelo pai. Cada um, segundo ela, foi compelido a trilhar seu próprio caminho diante das circunstâncias. O falecido Benjamin Guinness (1798-1868), neto do fundador, havia transformado a cervejaria original de seu avô, em St. James Gate, Dublin, em uma das maiores do planeta. Seus descendentes figuravam entre os indivíduos mais abastados da Irlanda, mas a partilha da herança gerou disputas e revezes pessoais que são o coração do drama da nova série.
Heranças e Rivalidades Familiares
Entre os filhos, a única mulher, Anne Guinness, recebeu apenas um valor simbólico, uma prática comum da época. No entanto, ela se comprometeu a utilizar os recursos da família para efetuar melhorias significativas na vida dos pobres e enfermos em Dublin e no interior irlandês, evidenciando um legado filantrópico notável. Seu irmão, também chamado Benjamin, foi considerado fraco e com propensão ao alcoolismo pelo pai, o que o impediu de receber uma grande parte da fortuna ou a liderança do clã. A história da cervejaria Guinness, fundada em 1759 por Arthur Guinness em Dublin, é profundamente entrelaçada com os eventos e a cultura da Irlanda, servindo de pano de fundo para as relações familiares.
O primogênito, Arthur Guinness, almejava a incumbência total e o controle irrestrito da cervejaria, uma posição de enorme poder. Contudo, a leitura do testamento revelou uma condição inesperada: ele seria obrigado a partilhar a posse da empresa com seu irmão Edward, conhecido por sua inteligência, mas também por um temperamento austero. Essa complicada aliança entre dois irmãos opostos, frequentemente marcados por ressentimentos mútuos, forma o núcleo dramático de “House of Guinness”, revelando as tensões e os sacrifícios exigidos para a manutenção de um império familiar.
A série apresenta uma família de comerciantes altamente bem-sucedidos, mas que não hesitaram em empregar todos os meios necessários para expandir seus negócios, aproveitando a vasta mão de obra disponível da época. Embora grande parte da história se desenrole na Irlanda, as filmagens para as docas de Liverpool, na Inglaterra, substituíram a cervejaria de St. James Gate. Algumas cenas também são ambientadas em Nova York, onde um primo dos Guinness é encarregado de promover a expansão internacional da empresa. Revolucionários irlandeses conhecidos como Fenianos são retratados atacando os interesses dos Guinness, refletindo eventos reais da época. No entanto, a companhia era também conhecida por tratar bem seus funcionários, oferecendo salários acima da média e aposentadorias por idade. Edward Guinness, mais tarde Conde de Iveagh (1847-1927), chegou a afirmar: “você só pode ganhar dinheiro com as pessoas, se estiver disposto a fazer com que as pessoas ganhem dinheiro com você”, sintetizando uma filosofia que permeou a expansão dos negócios.
O desenrolar da ação ocorre nas imensas instalações da cervejaria, nos luxuosos salões de baile e mansões de Dublin, e também no desolado interior irlandês. Nesse ambiente, cerca de duas décadas após a Grande Fome da Irlanda (1845-1849), as pessoas que não haviam “fugido para Boston”, conforme expresso por um dos personagens, viviam em casebres com tetos de palha, retratando um cenário de contrastes sociais e privação.
Lowell relata a difícil decisão de como captar o tom exato da história, buscando evitar transformar os personagens em meros vilões. Para ela, “todo comerciante precisa ser implacável, ainda mais naquela época”. Para adicionar “o conflito e a paixão que tornam uma história interessante”, um personagem fictício foi introduzido: o charmoso e capataz da cervejaria, Sean Rafferty, interpretado pelo ator James Norton. Rafferty atua como o faz-tudo implacável da família. No entanto, apesar de toda sua astúcia e lealdade aos Guinness, especialmente às mulheres da família, ele é constantemente lembrado de seu status como funcionário, e não um igual, sublinhando as rígidas barreiras sociais da época.

Imagem: bbc.com
A Inspiração Pessoal de Ivana Lowell
Ivana Lowell, hoje com 58 anos, não possuía formação formal como roteirista de ficção ou para televisão. Contudo, ela acredita que os longos períodos de infância passados em mansões isoladas, com pouco aquecimento e sem televisão, na Irlanda e na Inglaterra, foram cruciais para desenvolver suas habilidades. “Contar histórias era a nossa forma de entretenimento”, relembra Ivana. Ela cresceu com suas irmãs mais velhas, Natalya e Evgenia Citkowitz, e um irmão mais novo, Sheridan Lowell, observando sua mãe e seu padrasto, o poeta americano Robert Lowell (1917-1977), dedicarem-se integralmente à escrita. Naquele tempo, essa rotina não a atraía: “Para mim, era aborrecido ficar trancado no seu próprio mundo o tempo todo”, admite.
A vida de Lowell foi marcada por perdas precoces. Seu padrasto sofreu um ataque cardíaco fulminante, e sua irmã Natalya faleceu aos 18 anos devido a uma overdose de heroína. Caroline Blackwood, sua mãe, era alcoólatra e frequentemente negligente, optando por ocultar de Ivana a verdade sobre sua paternidade. Ivana acreditava que seu pai era Israel Citkowitz (1909-1974), o segundo marido de sua mãe. Contudo, após a morte de Blackwood, um amigo levantou dúvidas sobre o assunto. Lowell descobriu que sua mãe havia levado dois homens a crerem que eram seu pai: Robert Silvers (1929-2017), editor da New York Review of Books e com quem Ivana mantinha um relacionamento carinhoso, e Ivan Moffat (1918-2002), roteirista e produtor de cinema, por quem não nutria grande afeto. Um exame de DNA confirmou que Moffat era de fato seu pai.
Lowell narrou a complexa odisseia dessa descoberta em suas memórias eloquentes e, em certos momentos, angustiantes, intituladas Why Not Say What Happened? (“Por que não dizer o que aconteceu?”, em tradução livre). Para coincidir com o lançamento da série “House of Guinness”, o livro, originalmente publicado em 2010, será relançado ainda este ano pelas editoras Vintage, nos Estados Unidos, e Bloomsbury, no Reino Unido. Para a autora, a herança literária dos pais não simplifica a arte da escrita. “Quando li a obra completa da minha mãe (Caroline Blackwood), depois de adulta, observei como ela escrevia bem”, revela. “E li Giant [a peça teatral da qual (Ivan) Moffat foi um dos autores, em 1956] e é boa. Inevitavelmente, tive um certo medo”, conta, revelando as inseguranças de uma criadora diante de antecessores tão ilustres.
A Estética da Série e Seu Legado Cultural
O fato de Steven Knight ter identificado o potencial na história desenvolvida por Lowell foi uma emoção significativa. A série televisiva resultante definitivamente não se enquadra como um drama de época delicado, nos moldes de “Downton Abbey”. É, ao contrário, uma produção vibrante, acelerada e repleta de acontecimentos sinistros, reminiscentes do estilo ousado de “Peaky Blinders”. Lowell elogia o hábil roteiro político de Knight, que magistralmente lida com a complexa relação entre os irmãos Arthur e Edward, interpretados respectivamente por Anthony Boyle e Louis Partridge. Ela destaca particularmente as “tiradas brilhantes” concedidas ao personagem Arthur, que adicionam camadas à dinâmica familiar.
Todo esse reconhecimento surge como um grande alívio para Lowell, que temia desapontar sua legião de primos da família Guinness, incluindo figuras conhecidas como Daphne Guinness, estilista e atriz, e o escritor Ned Iveagh, o quarto Conde de Iveagh. A autora expressa certeza de que eles não se importarão com a revelação das histórias familiares mais íntimas. “Não somos arrogantes quanto à nossa reputação”, ela assegura. “Temos ótimo senso de humor sobre nós mesmos.” Uma série que apresentasse apenas “bobagens fofas” não obteria sucesso, mas esse risco foi prontamente descartado. Assim como a cerveja escura que, por tanto tempo, foi associada a bares irlandeses tradicionais e homens mais velhos, mas que agora goza de popularidade renovada entre os jovens, a saga dos Guinness possui uma energia contagiante – e uma trilha sonora marcante – que a torna tudo, menos entediante. A série, que estreou na Netflix em 25 de setembro, certamente irá agradar ao paladar de muitos espectadores em todo o mundo, convidando-os a desvendar os mistérios e as paixões que moldaram esta inesquecível dinastia.
Esta adaptação ficcional de uma história tão rica demonstra o potencial de relatos verídicos para capturar a atenção global. Para continuar explorando histórias intrigantes e se manter por dentro das últimas notícias sobre entretenimento e personalidades, visite a seção Celebridade em nosso site.
Crédito da imagem: Netflix, Getty Images, Alamy
Recomendo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados