Casos de intoxicação por metanol: cenário global e riscos

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O avanço da intoxicação por metanol tem se tornado uma grave preocupação global e no Brasil. No estado de São Paulo, a recente confirmação da segunda fatalidade ligada à ingestão de bebidas adulteradas com esta substância química industrial intensifica o alerta das autoridades de saúde.

De acordo com o mais recente balanço do Ministério da Saúde, divulgado neste domingo (5/10), o Brasil já contabiliza um total de 225 notificações, que incluem casos tanto confirmados quanto sob investigação, além de óbitos. Destes, 16 casos foram oficialmente confirmados em todo o país, enquanto 209 seguem em análise. Sete mortes, incluindo as duas já confirmadas em São Paulo, estão atualmente sob escrutínio para determinar sua conexão direta com o metanol.

Casos de intoxicação por metanol: cenário global e riscos

O estado paulista emerge como o principal foco de ocorrências, com 192 notificações, representando cerca de 85% do total nacional. Em São Paulo, 14 casos foram confirmados, culminando em dois óbitos, com 178 registros ainda sendo investigados. A suspeita predominante, conforme sinalizado pelas autoridades, é que a substância tenha sido intencionalmente adicionada a bebidas falsificadas, visando aumentar o volume e reduzir os custos de produção, e não uma mera contaminação acidental.

Dados Mundiais de Intoxicação por Metanol

A dimensão do problema extrapola as fronteiras nacionais. A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) estima que, desde 1998, aproximadamente 40 mil pessoas em escala global foram acometidas por envenenamento por metanol, resultando em cerca de 14,4 mil falecimentos. Contudo, a entidade sublinha que esses números são baseados em levantamentos de reportagens, publicações e comunicações pessoais, não representando, portanto, estatísticas oficiais totalmente precisas, mas fornecendo uma base alarmante sobre a extensão do perigo.

Anualmente, milhares de indivíduos sofrem com a intoxicação por metanol. Em cenários onde o tratamento médico adequado não é providenciado em tempo hábil, as taxas de mortalidade podem variar expressivamente, de 20% a 40%, dependendo diretamente da quantidade ingerida e da concentração da substância. Para mais informações sobre saúde pública e segurança, o site da Organização Mundial da Saúde oferece diretrizes e alertas sobre a prevenção de surtos de metanol. O MSF reforça a crença de que os índices disponíveis tendem a subestimar a real gravidade do problema, uma vez que muitos casos não são corretamente diagnosticados, e diversos surtos de intoxicação jamais são formalmente identificados como envenenamento por metanol.

O continente asiático registra a maior incidência de surtos de intoxicação por metanol, com focos persistentes em países como Indonésia, Índia, Camboja, Vietnã e Filipinas. Em 2024, a BBC News noticiou a trágica perda de três cidadãs britânicas após intoxicação por metanol em Laos, na Ásia. No mesmo país, o britânico Calum Macdonald sobreviveu, mas teve sua visão comprometida de forma permanente devido à substância. As projeções do Médicos Sem Fronteiras para o período entre 2019 e 2025 indicam que Indonésia, Índia e Rússia são as nações com maior número de ocorrências.

Mais recentemente, dados de 2025 apontam a Turquia como o país mais severamente afetado, com grandes surtos nas cidades de Istambul (235 casos) e Ancara (94 casos). No ano anterior, 2024, a Índia liderou as estatísticas, com 227 ocorrências em Tamil Nadu e aproximadamente 165 em Bihar.

A Grave Diferença: Metanol Versus Etanol

A crucial distinção entre o etanol, álcool presente nas bebidas alcoólicas usuais, e o metanol reside nos seus efeitos biológicos devastadores. Visualmente, ambas as substâncias são quase idênticas: transparentes, com similar viscosidade e aroma. A olho nu ou pelo olfato, a percepção não é capaz de diferenciá-los, o que torna a adulteração extremamente perigosa e indetectável para o consumidor.

Entretanto, os efeitos que o metanol produz no corpo humano são radicalmente diversos e fatais. A infectologista Jessica Fernandes Ramos, membro do Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, explica essa diferença: “No fígado, ambos os álcoois são metabolizados pela mesma enzima, porém com resultados distintos. Enquanto o etanol origina substâncias menos prejudiciais, o metanol é convertido em formaldeído (o conhecido formol, empregado para embalsamar) e em ácido fórmico, que é de altíssima toxicidade.”

Casos de intoxicação por metanol: cenário global e riscos - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Sintomas e Mecanismo de Ação do Metanol

O ácido fórmico, um metabólito do metanol, é particularmente corrosivo para o nervo óptico, atingindo estruturas vitais do sistema nervoso central e alterando drasticamente o pH do sangue, uma condição médica conhecida como acidose metabólica grave. “Essa acidose pode comprometer severamente o metabolismo celular, afetar o funcionamento de órgãos cruciais e culminar em complicações severas, incluindo falência de múltiplos sistemas orgânicos”, detalha a especialista.

A absorção do metanol no organismo é notoriamente rápida, com os primeiros sintomas manifestando-se em um intervalo que pode variar de duas a 48 horas após a ingestão, dependendo da quantidade consumida. A infectologista Ramos adverte que “em muitos casos de intoxicação, a lavagem gástrica pode ser útil, mas no contexto da intoxicação por metanol, essa intervenção é ineficaz, dada a velocidade de sua absorção. Uma vez no trato digestivo, o metanol rapidamente alcança o fígado, onde é processado nos dois metabólitos tóxicos que logo se espalham pela corrente sanguínea”.

Os metabólitos tóxicos do metanol rapidamente atingem o sistema nervoso, onde as células neuronais se mostram particularmente vulneráveis. Dessa forma, os sinais iniciais frequentemente incluem dor de cabeça intensa, alterações visuais relacionadas ao nervo óptico, visão turva ou embaçada. Em casos de maior gravidade, pode haver uma redução significativa da acuidade visual, progredindo para cegueira irreversível. Paralelamente, o organismo passa a produzir substâncias altamente ácidas durante a digestão do metanol, elevando o pH sanguíneo a níveis anormais, desencadeando a já mencionada acidose metabólica.

Impacto no Organismo e Prognóstico

Em uma tentativa fisiológica de compensar o excesso de acidez, a pessoa afetada passa a respirar de maneira acelerada e superficial, esforçando-se para expelir esse acúmulo de acidez através do sistema respiratório. “Esse desequilíbrio afeta todas as células corporais, mas o coração é um dos primeiros órgãos a sofrer as consequências, exigindo uma estabilidade funcional vital para manter os batimentos. O sistema respiratório também é severamente sobrecarregado, precisando operar além de sua capacidade normal para tentar equilibrar o corpo. Enquanto isso, os rins assumem um papel central nesse processo, tentando reter bicarbonato, uma substância alcalina, para neutralizar a acidez. No entanto, esse esforço desmedido acarreta um custo elevado: a função de filtração renal fica gravemente comprometida, e o paciente pode evoluir rapidamente para um quadro de insuficiência renal aguda”, conclui a médica.

A sinergia desses efeitos nocivos – toxinas circulando na corrente sanguínea, acidose metabólica profunda e sobrecarga em órgãos vitais como o coração, pulmões e rins – culmina invariavelmente em uma falência múltipla de órgãos. Cada sistema biológico vital passa a operar de forma deficiente, impondo uma sobrecarga adicional aos demais e comprometendo a capacidade fundamental do corpo de sustentar suas funções essenciais. A médica reitera que, para o metanol, não existe nenhuma dose que possa ser considerada segura para o consumo humano, ressaltando o perigo intrínseco e fatal da substância.

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A gravidade da intoxicação por metanol é inegável, evidenciada pelos números alarmantes de casos e óbitos tanto no Brasil quanto globalmente. A falta de conhecimento sobre os perigos e a semelhança com o etanol ressaltam a urgência de vigilância e informações claras. Para acompanhar outros temas relacionados à saúde pública, segurança e o cotidiano das cidades, continue navegando pela editoria de Cidades do nosso portal, onde você encontrará análises e atualizações diárias.

Crédito: Getty Images


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