Israel Enfrenta Ostracismo Internacional por Conflito em Gaza

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O isolamento internacional de Israel se intensifica em meio à prolongada guerra em Gaza, levando analistas a traçar paralelos preocupantes com a África do Sul na era do apartheid. A crescente pressão política e os diversos boicotes econômicos, culturais e esportivos sugerem que o país pode estar se encaminhando para uma posição de pária internacional, em um cenário complexo impulsionado pelas ações de seu governo e as reações da comunidade global.

A pergunta central para diplomatas e observadores é se a atual administração israelense, liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, conseguirá superar esta tempestade diplomática. O objetivo seria manter a liberdade para perseguir seus interesses em Gaza e na Cisjordânia ocupada sem comprometer irreversivelmente sua reputação no palco global. Ex-primeiros-ministros israelenses, como Ehud Barak e Ehud Olmert, já manifestaram publicamente suas preocupações, acusando Netanyahu de conduzir Israel ao status de pária internacional.

Analistas e figuras políticas divergem sobre o impacto dessas medidas e qual seria o limiar para o completo isolamento.

Israel Enfrenta Ostracismo Internacional por Conflito em Gaza

A crise atual reacende discussões históricas, notadamente a comparação com a África do Sul entre 1948 e 1994, quando um regime de segregação racial institucionalizado enfrentou uma combinação de intensa pressão política e severos boicotes econômicos, esportivos e culturais, culminando no abandono do apartheid. A situação atual de Israel inclui um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra o primeiro-ministro, restringindo drasticamente suas opções de viagem.

Pressão Diplomática e Acusações de Genocídio na ONU

Diversas nações, incluindo Reino Unido, França, Austrália, Bélgica e Canadá, sinalizaram a intenção de reconhecer a Palestina como Estado em uma futura sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, 147 dos 193 membros da ONU, entre eles o Brasil, já conferem este reconhecimento formal.

Adicionalmente, uma comissão de inquérito da ONU divulgou nesta semana um relatório apontando que Israel cometeu genocídio contra palestinos em Gaza no contexto do conflito atual. O documento detalha que quatro dos cinco atos definidos como genocidas pelo direito internacional – como matar membros de um grupo, causar danos físicos e mentais severos, impor condições calculadas para destruir o grupo e impedir nascimentos – teriam sido perpetrados desde o início da guerra com o Hamas em outubro de 2023. Para mais detalhes sobre as investigações, você pode consultar o site da Organização das Nações Unidas. O Ministério das Relações Exteriores de Israel, contudo, rejeitou as conclusões, classificando-as como “distorcidas e falsas”, e acusou os peritos da comissão de atuarem como “representantes do Hamas”, baseando-se em “falsidades desmascaradas”.

Impacto Humanitário e Reações Regionais

Desde o ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de cerca de 1,2 mil pessoas e na captura de 251 reféns, mais de 64,9 mil pessoas morreram em Gaza em ataques israelenses, conforme dados do Ministério da Saúde do território. A infraestrutura em Gaza está em colapso, com mais de 90% das casas danificadas ou destruídas, e os sistemas de saúde, saneamento e abastecimento de água comprometidos. As declarações de líderes israelenses e o padrão de conduta das forças de defesa são citados pela comissão da ONU como evidência da alegada intenção genocida.

Paralelamente, após um ataque israelense a líderes do Hamas no Catar em 9 de setembro, países do Golfo se reuniram em Doha para debater uma resposta unificada. Alguns desses países estão incentivando nações com laços diplomáticos com Israel a reavaliar suas posições. O primeiro-ministro Netanyahu admitiu em 15 de setembro que Israel está lidando com “uma espécie de” isolamento econômico global, atribuindo o problema à publicidade negativa e defendendo investimentos em “operações de influência” na mídia e redes sociais.

Sanções e Medidas Restritivas por Governos Europeus

A insatisfação de governos europeus se manifesta em ações concretas que vão além de declarações. Em 15 de setembro, a Bélgica anunciou uma série de sanções, incluindo a proibição de importações de assentamentos judeus na Cisjordânia, a revisão de contratos com empresas israelenses e restrições consulares para cidadãos belgas que residem nesses assentamentos. Adicionalmente, dois ministros de linha-dura do governo israelense, Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, além de colonos acusados de violência contra palestinos na Cisjordânia, foram declarados persona non grata. Medidas semelhantes já foram implementadas por países como Reino Unido e França, embora as sanções impostas por Joe Biden contra colonos violentos tenham sido revertidas por Donald Trump.

Uma semana após a decisão belga, a Espanha impôs suas próprias restrições. Estas incluíram a formalização de um embargo de armas já existente, a proibição parcial de importações e a recusa de entrada no território espanhol para qualquer pessoa implicada em genocídio ou crimes de guerra em Gaza. Navios e aeronaves transportando armas para Israel também foram proibidos de atracar em portos ou entrar no espaço aéreo espanhol. Em resposta, Gideon Saar, ministro das Relações Exteriores de Israel, acusou a Espanha de antissemitismo, sugerindo que o país sofreria mais do que Israel com a proibição comercial.

O Crescimento de Boicotes Culturais, Esportivos e Financeiros

Outros indícios preocupantes para Israel incluem o anúncio, em agosto, de que o fundo soberano da Noruega, com um valor de US$ 2 trilhões (aproximadamente R$ 10,8 trilhões), iniciaria o desinvestimento em empresas listadas em Israel. Até meados de setembro, 23 companhias foram retiradas do portfólio, com a expectativa de que outras sigam o mesmo caminho, segundo o ministro das Finanças Jens Stoltenberg.

A União Europeia, principal parceira comercial de Israel, também considera sanções contra ministros de extrema-direita e uma suspensão parcial dos termos do acordo de associação. Em 10 de setembro, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou em discurso que os acontecimentos em Gaza “abalariam a consciência do mundo”. No dia seguinte, 314 ex-diplomatas e autoridades europeias enviaram uma carta pedindo ações mais duras, incluindo a suspensão completa do acordo de associação com Israel.

Israel Enfrenta Ostracismo Internacional por Conflito em Gaza - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Na década de 1990, a África do Sul sofreu boicotes culturais e esportivos que ajudaram a pressionar o fim do apartheid. Há sinais de que algo semelhante começa a se desenvolver contra Israel. O festival Eurovision Song Contest, onde Israel tem presença notável e já venceu quatro vezes desde 1973, está em xeque. Irlanda, Espanha, Holanda e Eslovênia indicaram que podem se retirar do evento de 2026 caso Israel seja mantido. A decisão final é esperada para dezembro.

Em Hollywood, uma petição para boicotar produtoras, festivais e emissoras israelenses “implicadas em genocídio e apartheid” coletou mais de 4 mil assinaturas em uma semana, incluindo nomes como Emma Stone e Javier Bardem. Tzvika Gottlieb, CEO da Associação Israelense de Produtores de Cinema e TV, classificou a iniciativa como “profundamente equivocada”, argumentando que silenciar os criadores de conteúdo prejudica a causa defendida pelos signatários.

No cenário esportivo, a prova de ciclismo Vuelta a España foi marcada por interrupções causadas por protestos contra a equipe Israel-Premier Tech em 13 de setembro, levando ao cancelamento do pódio. O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez elogiou os protestos como motivo de “orgulho”, enquanto políticos da oposição criticaram as ações governamentais. Em outro incidente na Espanha, sete enxadristas israelenses abandonaram um torneio após serem impedidos de competir usando a bandeira de seu país.

A Posição Desafiadora do Governo Israelense e Percepções Diplomáticas

O governo israelense tem adotado uma postura majoritariamente desafiadora diante do que a mídia descreveu como um “tsunami diplomático”. Netanyahu chegou a acusar a Espanha de “ameaça genocida flagrante” após o primeiro-ministro espanhol expressar que seu país, sem bombas nucleares ou grandes reservas de petróleo, não poderia barrar sozinho a ofensiva israelense em Gaza. Gideon Saar criticou as sanções da Bélgica como “lamentáveis”, argumentando que Israel enfrenta uma “ameaça existencial” e que alguns não conseguem superar sua “obsessão anti-Israel”. Em 15 de setembro, Netanyahu enfatizou a necessidade de Israel reduzir sua dependência de comércio exterior, especialmente em áreas como armamentos, visando aumentar a autossuficiência. “Podemos nos ver bloqueados não apenas em pesquisa e desenvolvimento, mas também na produção industrial propriamente dita”, declarou.

Entre diplomatas israelenses que representaram o país no exterior, a apreensão é palpável. Jeremy Issacharoff, embaixador de Israel na Alemanha entre 2017 e 2021, afirmou à BBC que nunca viu a imagem internacional de Israel tão “abalada”. Ele ressaltou que algumas medidas são “altamente questionáveis” por afetarem todos os israelenses, e que o reconhecimento do Estado da Palestina poderia ser contraproducente, fortalecendo figuras como Smotrich e Ben-Gvir. Embora preocupado, Issacharoff não considera o isolamento irreversível, descrevendo-o como um “possível preâmbulo” para um “momento sul-africano”.

Por outro lado, Ilan Baruch, ex-diplomata israelense e embaixador na África do Sul após o apartheid, acredita que mudanças mais profundas são indispensáveis para reverter a trajetória de Israel em direção ao status de pária. Ele, que renunciou ao serviço diplomático em 2011 devido à discordância com a ocupação nos territórios palestinos, defende as sanções recentes, afirmando que “foi assim que a África do Sul foi colocada de joelhos”. Baruch está disposto a enfrentar as consequências, como alterações nos regimes de vistos e boicotes culturais, se isso gerar pressão assertiva sobre Israel.

Contudo, alguns observadores experientes, como Daniel Levy, ex-negociador de paz israelense, mantêm o ceticismo sobre a iminência de um precipício diplomático. Levy sugere que poucos países seguirão o exemplo da Espanha e que ações coletivas dentro da União Europeia, como suspender elementos do acordo de associação ou excluir Israel do programa Horizon, provavelmente não obterão apoio suficiente, com a resistência de nações como Alemanha, Itália e Hungria. Além disso, Israel continua a contar com o firme apoio dos Estados Unidos, reforçado pela recente visita do Secretário de Estado, Marco Rubio, que reiterou a força da relação bilateral. Embora Daniel Levy considere o isolamento internacional de Israel “irreversível”, ele pondera que o apoio americano persistente impede que o país chegue a um ponto onde não possa mais alterar o rumo do conflito em Gaza.

O cenário geopolítico atual demonstra que o futuro de Israel e suas relações internacionais dependem cada vez mais de como o governo reagirá às crescentes pressões e às dinâmicas da política internacional. Para continuar acompanhando os desdobramentos desta e outras análises globais, clique aqui e navegue em nossa editoria de Política.

Crédito, Reuters


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