Jane Goodall Morre: O Legado de Uma Vida Dedicada a Chimpanzés

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TÍTULO: Jane Goodall Morre: O Legado de Uma Vida Dedicada a Chimpanzés
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META DESCRIÇÃO: Jane Goodall, primatologista renomada, faleceu aos 91 anos. Descubra o legado de sua pesquisa revolucionária que transformou nossa compreensão dos chimpanzés e da natureza humana.

Jane Goodall Morre: O Legado de Uma Vida Dedicada a Chimpanzés

A comunidade científica e os defensores da conservação lamentam o falecimento de Jane Goodall, primatologista que mudou a visão sobre Chimpanzés, Morre. A renomada cientista e conservacionista britânica, cujo trabalho inestimável com chimpanzés na Tanzânia remodelou fundamentalmente nossa compreensão dos animais e, por extensão, de nós mesmos, partiu nesta quarta-feira, 1º de outubro, aos 91 anos de idade.

Goodall, cujo impacto se estende por mais de seis décadas, faleceu por causas naturais enquanto estava na Califórnia, parte de sua agenda em uma turnê de palestras pelos Estados Unidos. A notícia de seu óbito foi divulgada por seu instituto em um comunicado oficial publicado nas redes sociais.

Jane Goodall Morre: O Legado de Uma Vida Dedicada a Chimpanzés

Seus estudos revolucionários, majoritariamente realizados no Parque Nacional Gombe Stream, representaram um desafio direto às abordagens científicas convencionais da época. Jane Goodall imergiu no complexo universo dos chimpanzés, revelando facetas do comportamento animal que antes eram desconhecidas ou atribuídas exclusivamente aos seres humanos.

Descobertas Pioneiras em Gombe Stream e uma Trajetória Singular

Entre as revelações mais significativas de sua carreira, destacam-se a capacidade dos chimpanzés de utilizar ferramentas, seu comportamento de caça para obtenção de carne e a participação em intrincadas interações sociais, desafiando a premissa de que tais aptidões seriam privilégio apenas da espécie humana. Em 14 de julho de 1960, com apenas 26 anos e desprovida de formação ou conhecimento científico formal, a jovem inglesa desembarcou na Reserva Ambiental de Gombe Stream, na Tanzânia. Ali, ela iniciaria um estudo seminal com chimpanzés selvagens, que culminaria em descobertas que não apenas transformariam a percepção sobre o comportamento animal, mas também redefiniriam nossa própria identidade como seres humanos.

Goodall, desde a infância, por volta de um ano e meio ou dois anos de idade, nutria uma paixão por observar a natureza, seja insetos ou outros elementos do ambiente. Essa curiosidade inicial evoluiu para um profundo interesse pela vida selvagem, alimentado pela leitura de livros como “A História do Doutor Dolittle” e “Tarzan”. Como ela mesma compartilhou em 1986 durante uma entrevista à BBC, a África se consolidou como seu grande objetivo de vida.

Para financiar sua ambição de estudar e viver com animais, Goodall trabalhou como garçonete e assistente de produção de filmes após concluir a escola, além de cursar secretariado. Em 1957, com as economias acumuladas, ela conseguiu viajar para Nairóbi, Quênia, para visitar uma amiga. Foi lá que ela buscou uma oportunidade para conversar sobre animais com o renomado paleoantropólogo queniano-britânico Louis Leakey. Leakey ficou impressionado com a determinação serena de Goodall e com seu vasto conhecimento autodidata sobre a vida selvagem africana. Aproveitando uma recente demissão de sua secretária, ele ofereceu-lhe um posto como sua assistente no Museu de História Natural.

Leakey se tornaria um mentor fundamental para Goodall, orientando-a e reconhecendo sua visão única. Ele acreditava que a ausência de formação acadêmica prévia seria, na verdade, uma vantagem. A perspectiva de Goodall não estaria, assim, limitada por teorias científicas preexistentes. “Ele que me disse, ‘bem, estou procurando alguém para ir estudar chimpanzés, pois conhecer o comportamento deles pode aumentar nossa compreensão sobre o comportamento dos primeiros humanos'”, Goodall relembrou em sua conversa com Wogan. As regulamentações coloniais da época, por segurança, exigiram que Goodall tivesse uma acompanhante em sua viagem a Gombe. Sua mãe, Vanne, a acompanhou.

“Inicialmente, eu não tinha autorização para ficar sozinha”, explicou a primatologista à BBC. “O governo britânico da época disse ‘Não, é totalmente amoral uma jovem sair para a floresta’. Por isso, precisei escolher uma acompanhante e minha mãe ficou comigo por três meses.” Os primeiros meses na reserva foram árduos. Goodall e sua mãe viveram em uma antiga tenda militar e enfrentaram a malária. Mesmo após sua recuperação, Goodall só podia explorar a reserva acompanhada de um local. Frequentemente, os chimpanzés desapareciam rapidamente na densa vegetação ao ouvirem passos.

A Imersão e a Revolução do Conhecimento Animal

Com persistência, Goodall aprendeu as trilhas da floresta e começou a se locomover pelo terreno intrincado, momento em que, segundo ela, “as autoridades concluíram, bem, que eu era louca e ficaria ok”. A primatologista então passou a acampar sozinha nos morros florestados, utilizando binóculos para observar os esquivos primatas de um pico entre dois vales. Essa fase marcou o início de sua abordagem de imersão não convencional.

Diariamente, Jane Goodall aproximava-se cautelosamente da área de alimentação dos chimpanzés, nutrindo a esperança de, eventualmente, conseguir se sentar entre os animais e estudá-los mais detalhadamente em seu ambiente natural. Sua estratégia envolvia vestimentas de cores consistentes e uma abordagem paciente e respeitosa. “Eu vestia roupas das mesmas cores todos os dias e acho que o mais importante é que nunca forcei”, disse ela em 2014 ao programa de rádio Witness History da BBC World Service. “Nunca tentei chegar perto demais. Eu esperava perto de uma árvore frutífera, para onde eu sabia que os chimpanzés estavam vindo, e, quando eles saíam, eu não os seguia.”

A cientista continuou: “Não no início, porque eu achava que seria abusar da minha sorte. Por isso, eles acabaram aceitando gradualmente que eu não representava perigo”. À medida que os chimpanzés superavam a desconfiança, Goodall pôde sentar-se por horas, observando pacientemente seu complexo sistema social e comportamento, até então desconhecido pela ciência. Ela revelou que os chimpanzés não são exclusivamente vegetarianos, como se pensava, mas onívoros, e que se comunicam para caçar. A pesquisa testemunhou a força dos laços familiares entre os animais e como a individualidade de cada um moldava o comportamento do grupo. As fêmeas podiam acasalar com vários machos ou formar laços com um único parceiro, e os machos mantinham laços coesos, patrulhando fronteiras, afastando intrusos, trazendo fêmeas jovens ao grupo e agindo como pais gentis e protetores para todos os filhotes na comunidade.

Diferente da prática comum em projetos de pesquisa, que usam um sistema de numeração para os animais, Goodall atribuiu nomes aos chimpanzés, reconhecendo sua singularidade. Um desses machos foi nomeado David Greybeard. Ao observá-lo, ela percebeu pela primeira vez que ele fabricava e usava ferramentas – uma atividade que, na época, os cientistas consideravam exclusiva dos seres humanos. A produção de ferramentas exige raciocínio abstrato para conceber seu uso em cenários futuros, sendo um dos traços que definiam a humanidade. Como Jane contou a Wogan, “[Os chimpanzés] usam mais objetos diferentes como ferramentas do que qualquer outra criatura, exceto nós”. Ela citou exemplos como pequenos galhos, com folhas removidas para comer cupins; ou galhos longos, sem casca, para capturar formigas; e até folhas amassadas para absorver água de pequenos orifícios ou sangue de seus corpos. Além disso, foram observadas pedras arremessadas e galhos usados como bastões para intimidação ou como armas. Esta era uma ideia radical, desafiando décadas de pensamento científico consolidado. Desde então, pesquisas posteriores em todo o reino animal demonstraram o uso de ferramentas, desde polvos na Indonésia que utilizam cascas de coco como proteção, até corvos da Nova Caledônia que dobram galhos e arames para criar ganchos e remover larvas de cascas de árvores. Enquanto Goodall observava os chimpanzés, ela percebeu as profundas semelhanças entre os laços familiares e a comunicação não verbal dos chimpanzés e dos humanos.

“Se os chimpanzés se encontrarem após uma separação, eles se dão as mãos, eles se abraçam, eles se beijam”, relatou a cientista a Terry Wogan. Essa constatação de similaridade entre humanos e chimpanzés levantou “novas questões sobre a forma como criamos nossos filhos no Ocidente”. A pesquisadora levantou a hipótese de que, ao deixar crianças chorando à noite ou em cercadinhos por longos períodos, ou em creches com constantes mudanças de cuidadores, poderíamos, embora criasse uma criança inteligente, haver consequências a longo prazo. “Pela nossa experiência com chimpanzés que passaram por dificuldades de criação, existe a sugestão de que aquela criança, quando chegar à idade adulta, pode ter dificuldade para criar relacionamentos próximos com os demais”, ela afirmou. “Eles podem ter dificuldade para lidar com situações estressantes. Isso é muito importante.”

Goodall reconheceu não apenas as semelhanças nas emoções e comportamentos ritualizados dos chimpanzés, mas também os impulsos violentos e destrutivos, capazes de gerar brutais matanças, espelhados nos nossos. “Descobrimos depois dos 10 primeiros anos que, embora os chipanzés fossem muito parecidos conosco nos seus modos amigáveis, eles também podem se tornar muito agressivos, como nós”, explicou. “Descobrimos que, em certas situações, pode haver canibalismo e também uma interação entre comunidades que, de certa maneira, é uma forma primitiva de guerra humana.” Para aprofundar-se no trabalho de conservação de Jane Goodall, visite o Instituto Jane Goodall.

Legado Acadêmico e o Ancestral Comum entre Primatas e Humanos

Impulsionada por Louis Leakey e, apesar de não possuir graduação, Jane Goodall iniciou seu PhD em 1962, baseada nas suas detalhadas e excepcionais descobertas. No mesmo ano, a National Geographic Society enviou o fotógrafo e cineasta de vida selvagem holandês Hugo van Lawick (1937-2002) para documentar o trabalho de Goodall. O resultado foi o documentário de 1965, “Miss Goodall and the Wild Chimpanzees”, narrado por Orson Welles (1915-1985), que levou suas descobertas ao grande público. Van Lawick e Goodall se casaram, e em 1967 (um ano após ela obter seu doutorado), tiveram um filho, Hugo, carinhosamente apelidado de Grub. Para garantir a segurança do bebê, os pais de Jane construíram um abrigo protetivo, permitindo que ela continuasse seu trabalho de campo.

Jane Goodall pontuou que “Os chimpanzés são caçadores, exatamente como nós”, realizando caças cooperativas de mamíferos de porte médio. Existiam relatos de chimpanzés caçando crianças humanas, assim como humanos caçavam chimpanzés. Por isso, quando seu filho era muito pequeno, antes que aprendesse a andar, “ele [Hugo] ficava em uma espécie de varanda engaiolada e sempre precisávamos ter pessoas por perto”, explicou Goodall. A pesquisa transformadora de Jane Goodall em primatologia ofereceu provas contundentes de que os seres humanos não estão isolados do reino animal, mas que o Homo sapiens e os chimpanzés partilham um ancestral comum. Pesquisas subsequentes confirmaram que chimpanzés são geneticamente próximos aos seres humanos, compartilhando aproximadamente 98,6% de nosso DNA.

“Este é o ponto”, enfatizou Goodall. “O comportamento que observamos hoje nos homens e nos chimpanzés, provavelmente, era daquele ancestral comum.” Ela gostava de imaginar os povos da Idade da Pedra com relações familiares de longa data e amigáveis, usando pequenos galhos para se alimentar e se abraçando, uma forma de contemplar a profunda ligação que partilhamos com nossos parentes primatas.

A vida e as pesquisas de Jane Goodall estabeleceram um marco inquestionável na ciência e na conservação. Sua dedicação aos chimpanzés não só expandiu nosso conhecimento sobre o mundo natural, mas também nos forçou a refletir sobre a essência da nossa própria humanidade. Para mais análises aprofundadas sobre ciência e sociedade, continue explorando nossa editoria.

Crédito, Getty Images

Jane Goodall Morre: O Legado de Uma Vida Dedicada a Chimpanzés - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com


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