Jossette Rivera: Como Superar a Perda do Amor da Vida

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A experiência de superar a perda do amor da sua vida é o ponto central da obra e do depoimento da jornalista Jossette Rivera. Em seu livro “964 días o cómo sobrevivir a la muerte del amor de tu vida”, ainda sem edição em português, Rivera narra, com notável coragem e até humor, os detalhes de sua vivência com a perda precoce de seu marido, Juan Fernando. O relato da ex-jornalista da BBC News Mundo não só é um testemunho pessoal, mas também uma profunda reflexão sobre as complexas fases do luto.

Através de sua perspectiva íntima, Jossette Rivera aborda questões universais que muitos enfrentarão em algum momento da vida: a duração do luto, as diferentes maneiras de lidar com a dor da perda de um ente querido e os desafios de seguir em frente. Sua história convida o leitor a desmistificar noções comuns sobre o luto, oferecendo um panorama realista e, ao mesmo tempo, esperançoso sobre a adaptação a uma nova realidade sem a pessoa amada.

Jossette Rivera: Como Superar a Perda do Amor da Vida

O romance de Jossette e Juan Fernando começou de uma forma moderna, em 2010, quando se conheceram no site de relacionamentos match.com, em Miami, época anterior aos aplicativos de paquera. Ambos com mais de 35 anos, cada um trazia sua própria bagagem: ela, um novo emprego e um desejo de evitar um relacionamento sério; ele, 47 encontros frustrados e o resquício de um término anterior. Apesar das expectativas iniciais, a relação prosperou, e um relacionamento à distância foi mantido quando Jossette se transferiu para Londres. O conto de fadas culminou com um pedido de casamento em frente à Torre Eiffel.

Contudo, a felicidade plena foi bruscamente interrompida uma semana antes da cerimônia. Em novembro de 2011, Juan Fernando recebeu o diagnóstico de câncer renal. Mesmo diante da notícia avassaladora, o casamento foi realizado, com todas as celebrações planejadas. Em vez de uma lua de mel tradicional, o casal passou a primeira semana pós-casamento no Hospital Mount Sinai, em Miami, onde Juan Fernando foi submetido à remoção do rim pouco antes do Natal daquele ano.

Três anos após a cirurgia, a família celebrava a boa notícia: Juan Fernando estava livre do câncer. No entanto, o alívio foi efêmero. No final de 2014, uma metástase surpreendeu o casal, coincidindo com a chegada de seu bebê de seis meses. Os quatro anos seguintes foram marcados por uma busca incansável por tratamentos. Jossette e Juan Fernando exploraram todas as opções médicas disponíveis, incluindo protocolos experimentais e segundas opiniões em diversos países. Entre os tratamentos, a imunoterapia destacou-se por sua eficácia, contribuindo para manter a qualidade de vida de Juan Fernando por um período, levando-os a crer que a doença estava sob controle.

Infelizmente, a imunoterapia não foi suficiente para deter o avanço da doença. Em 2018, o câncer se espalhou para o cérebro, culminando em um derrame. Juan Fernando passou os últimos seis meses de sua vida hospitalizado, dependente de um ventilador mecânico. Em dezembro de 2018, Jossette e seu filho de 4 anos deram o último adeus a ele. Seu corpo foi doado à ciência, um gesto final em prol do ensino e da pesquisa.

O “Prazo de Validade” do Luto

Logo após a morte de Juan Fernando, Jossette ouviu a frase comum, mas equivocada: “O luto dura dois anos.” Para alguém confrontando a morte de seu companheiro com absoluta inocência em relação ao processo, essa ideia de um prazo para a dor parecia uma promessa de salvação. Jossette percebeu, contudo, que essa era uma crença popular sem fundamentação real, contradizendo a natureza profunda e complexa do luto.

As diversas culturas ao redor do mundo têm seus próprios rituais e tempos designados para o luto. Os judeus, por exemplo, observam sete dias de shivá e até doze meses se a perda for de um filho. Viúvas muçulmanas cumprem quatro meses e dez dias de iddah, período no qual não podem se casar, mudar de residência ou usar adornos. Os hindus se isolam por treze dias, e em algumas partes da América Latina, o rosário é rezado por nove noites consecutivas.

Além dos rituais, existem os símbolos do luto, como minutos de silêncio, bandeiras a meio mastro, ou o ano inteiro em que a avó de Jossette usou preto após a morte do marido, em uma tentativa de domar a dor através de ritos. Em seu próprio caso, a crença de que apenas 728 dias seriam necessários para superar as lágrimas e a nostalgia e retornar à pessoa que era antes se tornou uma obsessão. Jossette iniciou uma contagem regressiva meticulosa, documentando seu progresso com registros gráficos e digitais compartilhados nas redes sociais, convencida de que o luto chegaria, cumpriria seu curso e a deixaria uma pessoa melhor. Ela descobriu, porém, que estava completamente equivocada. Nem a contagem regressiva nem suas consequências se manifestaram como esperava.

Jossette Rivera: Como Superar a Perda do Amor da Vida - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

O Luto como Espiral, Não Linha Reta

Longe de simplesmente desaparecer, o luto de Jossette Rivera se estabeleceu. Em vez de uma linha reta com um ponto final, ele se assemelhava a uma espiral ou às ondas que quebram na praia: quando se pensa que se pode respirar, elas retornam e arrastam para baixo. A ex-jornalista vivenciou todas as etapas descritas pela psiquiatra suíço-americana Elisabeth Kübler-Ross em seu seminal livro “Sobre a Morte e o Morrer”: negação, raiva, barganha, tristeza profunda e aceitação. Mas, contrariando a teoria de uma sequência linear, Jossette experimentou-as fora de ordem, e mais de uma vez, como “lições que, se não aprendidas, se repetem”. Para aprofundar a compreensão sobre estas etapas, pode-se consultar materiais adicionais sobre as cinco fases do luto, fundamentais para quem busca entender o processo.

A percepção da complexidade do luto se solidificou quando ela acompanhou seu filho a uma oficina para crianças enlutadas e participou de uma dinâmica com outras viúvas. No centro de uma tigela de vidro com água, garrafas de tinta anilina colorida – tristeza, raiva, frustração, solidão – representavam os sentimentos. Cada mulher adicionava gotas de acordo com o que sentia. Uma, há três meses de sua perda, colocou um leve tom azul; outra, com apenas duas semanas, esvaziou meia garrafa de tinta vermelha de raiva, tornando a água turva e espessa.

Jossette Rivera sussurrou, com um misto de vergonha e resignação: “Sou Jossette Rivera, e meu marido morreu há quase três anos,” sem saber qual cor escolher, e com a certeza de que o calendário que prometia o fim da dor era, na verdade, uma armadilha. Ela compreendeu que a duração do luto e a adesão a comportamentos “socialmente aceitáveis” (como rir ou ir a uma festa) não têm correlação direta com a profundidade do amor sentido. O que existe é uma forte pressão social para que o luto tenha uma “data de validade”.

Nos Estados Unidos, por exemplo, não há uma lei federal que estabeleça licença por luto; a concessão de dias (em média de três a cinco) varia entre empregadores e estados. O mesmo se aplica às escolas. Contudo, esses prazos são estabelecidos por médicos, empresas e seguradoras, na tentativa de sustentar uma sociedade que não pode, ou não quer, parar para o sofrimento individual. A não “funcionalidade” após um período pode levar ao rótulo de luto patológico, uma categorização clínica para o que, na realidade, é o complexo ato de sobreviver à perda.

Encontrando uma Resposta Pessoal e Construindo um Legado

Em paralelo à sua jornada de luto, Jossette colaborou em um podcast que explorava as diferentes etapas do processo. Escrever sobre sua perda tornou-se uma ferramenta para dar sentido ao caos, uma forma de construir uma ponte para aqueles que, como ela, buscavam respostas e formas de lidar com o vazio. Sua vida pós-perda foi amplamente exposta na internet por quase três anos, em uma pasta intitulada “luto” no Instagram, onde compartilhava imagens de dias cinzentos, momentos de silêncio e a quebra de rotinas.

Mais tarde, essas janelas para sua alma se transformaram em um livro, um “manual de sobrevivência”. Jossette enfatiza que não encontrou uma fórmula mágica para encerrar o processo, mas sim uma compreensão de que sua adaptação, aceitação e reconstrução possuíam seu próprio ritmo intrínseco. Após a publicação de “964 días o cómo sobrevivir a la muerte del amor de tu vida”, em uma entrevista onde lhe foi questionado “Quanto tempo dura o luto?”, Jossette respondeu sem hesitação: “O tempo que for preciso.” Sua jornada e sua obra ressoam como um testemunho poderoso de que o luto não é um evento a ser superado, mas sim uma parte integrante da vida que se transforma.

A experiência de Jossette Rivera nos lembra que a dor da perda, embora universal em sua natureza, é profundamente pessoal em sua manifestação. O que se aprende em sua história é que o caminho para superar a perda não segue um cronograma rígido, mas sim o ritmo do próprio coração. Para continuar explorando relatos e análises sobre questões humanas e sociais, visite nossa seção de Análises e aprofunde seus conhecimentos. Fique conosco e acompanhe as histórias que movem o mundo.

Crédito: Jossette Rivera


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