Julgamento Bolsonaro: Wagner Moura vê ‘inveja’ dos EUA do Brasil

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O ator baiano-pernambucano Wagner Moura trouxe à tona uma perspectiva intrigante sobre o julgamento de Jair Bolsonaro no Brasil durante a estreia de seu mais recente filme, “O Agente Secreto”, em Recife. O artista, ovacionado por uma plateia entusiasmada, contrastou a atmosfera vivenciada nos Estados Unidos com o atual cenário político e jurídico brasileiro, indicando que o funcionamento das instituições nacionais estaria gerando “quase uma inveja” entre os americanos.

A declaração de Moura foi concedida à BBC News Brasil na última quarta-feira, 10 de setembro. Enquanto no Brasil ele observa “as instituições funcionando”, com a Justiça processando um “crime contra a democracia”, o mesmo não seria visto nos festivais norte-americanos, onde uma “certa tristeza” pairava. Ele reside em Los Angeles há sete anos, o que lhe proporcionou essa percepção sobre o ambiente internacional.

Julgamento Bolsonaro: Wagner Moura vê ‘inveja’ dos EUA do Brasil

As palavras de Moura fazem referência direta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais sete indivíduos ligados ao seu governo, incluindo membros da cúpula militar. O grupo foi declarado culpado nesta semana pela acusação de golpe de Estado, em um processo conduzido pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro. Tal desfecho, para o ator, demonstra a vitalidade e a atuação das instâncias democráticas no país, diferenciando-se de paralelos internacionais.

A análise do ator compara os eventos brasileiros com episódios ocorridos nos Estados Unidos após as eleições de 2020. Naquela ocasião, Donald Trump foi igualmente acusado de instigar uma rebelião contra os resultados eleitorais. Contudo, conforme mencionado por Moura e o artigo da BBC, Trump não apenas foi absolvido das acusações relacionadas, como, de acordo com o veículo, “se reelegeu presidente, em 2024”, embora ele negue qualquer irregularidade. Essa diferença de desfecho ressalta, para Moura, a força da democracia brasileira em contrastar com o modelo norte-americano.

Vivendo na Califórnia, Wagner Moura também dedicou críticas veementes à gestão de Trump em relação aos imigrantes indocumentados. Ele descreveu a situação como um “horror”, compartilhando que conhece muitos imigrantes nesta condição em Los Angeles, uma metrópole com significativa população latina, especialmente mexicana. “As pessoas estão com medo”, pontuou o ator, salientando a arbitrariedade nas abordagens.

De acordo com o depoimento de Moura, os indivíduos são alvo de ataques na rua por “identificação visual e racial”, correndo o risco de nunca mais retornarem para casa se não portarem a documentação exigida. Para o ator, os Estados Unidos deixaram de ser uma democracia e apresentam hoje “tendências autoritárias evidentes”, uma visão reforçada pela maneira como o país trata seus imigrantes. As queixas de Moura ressoam com diversas organizações de defesa de direitos migratórios nos EUA, que consistentemente denunciam o uso de critérios raciais para abordagens e deportações por parte das agências migratórias.

No âmbito jurídico americano, uma decisão recente da Suprema Corte autorizou os órgãos migratórios a empregar critérios raciais em suas abordagens. Essa postura está alinhada às promessas eleitorais de Trump de deportar milhões de imigrantes considerados ilegais durante seu período no poder. A complexidade da legislação migratória e os desafios enfrentados por aqueles sem documentação nos EUA podem ser aprofundados consultando informações adicionais sobre a política migratória e leis de imigração nos Estados Unidos.

A exibição de “O Agente Secreto” no Recife, nos Cinemas do Teatro do Parque São Luiz, marcou o fim de uma bem-sucedida turnê internacional. Antes de chegar ao Brasil, o filme foi exibido no 50º Festival de Cinema de Toronto, no início de setembro. Aclamado globalmente, o longa havia conquistado os prêmios de melhor diretor e melhor ator no Festival de Cannes, em maio, e também passou por festivais na Polônia, Austrália, Portugal e Nova Zelândia, consolidando sua trajetória internacional de reconhecimento.

Julgamento Bolsonaro: Wagner Moura vê ‘inveja’ dos EUA do Brasil - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Durante sua passagem por Recife, Moura expressou sua “felicidade e à vontade”, afirmando ter uma conexão intrínseca com a região: “Eu sou baiano, mas nasci em Rodelas, bem na fronteira com Pernambuco, e tenho esse Estado no sangue.” O ator rememorou momentos significativos de sua carreira no estado, como a peça “A Máquina”, em 2000, e o filme e a série “Ó Paí Ó” em 2002, ambos ao lado de Lázaro Ramos.

Em “O Agente Secreto”, Wagner Moura encarna o protagonista Marcelo, um professor viúvo que tenta fugir do Brasil com seu filho em meio à ditadura. Este thriller marca o aguardado retorno do ator ao cinema nacional após 11 anos dedicados a produções estrangeiras, com seu último trabalho em “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz. Para Moura, o retorno em português é pontual: “Não tinha momento melhor para voltar a filmar em português.” A obra aborda questões cruciais como abuso de poder e ameaças à democracia, contextualizando-se na segunda metade da década de 1970.

O filme, para Moura, é um reflexo do que diretores e roteiristas pretendem comunicar e de como a obra é recebida pelo público em determinado tempo. Ele salientou que a ideia de “O Agente Secreto” nasceu durante “um momento difícil” entre 2018 e 2022, período do governo Bolsonaro, quando, segundo o ator, artistas, universidades e a imprensa brasileira enfrentaram adversidades devido ao presidente da época enxergar esses setores como “inimigos ideológicos”, promovendo cortes de verbas federais.

A colaboração entre Wagner Moura e o diretor Kleber Mendonça Filho, coroada por esta produção, teve início em uma “aproximação por razões políticas” durante os anos do governo Bolsonaro. No entanto, Moura acredita que o atual cenário político é mais animador. Ele manifestou orgulho pelo momento vivido pelo Brasil, pelas suas instituições e pela democracia. Refletindo sobre a Lei da Anistia de 1979, que perdoou “torturadores e assassinos”, Moura expressou que “É tão bonito ver que hoje, finalmente, o Brasil está reencontrando-se com sua memória”, numa clara alusão ao atual julgamento e suas repercussões históricas.

As percepções de Wagner Moura oferecem uma visão única sobre a situação política brasileira e seu contraste com a experiência nos Estados Unidos. Para compreender mais profundamente o impacto do ativismo político e do cenário democrático nacional, convidamos você a explorar outras análises e notícias em nossa editoria de Política. Continue acompanhando nosso portal para se manter informado sobre os principais acontecimentos.

Crédito: Tiago Calazans/BBC News Brasil


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