Lula e Trump: Por Que o Encontro Oficial Não Aconteceu?

noticias
Artigos Relacionados

📚 Continue Lendo

Mais artigos do nosso blog

Mais de dez dias se passaram desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mencionou a possibilidade de um encontro com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Naquela ocasião, Trump sinalizou que a reunião ocorreria “na semana que vem”, um prazo que já expirou, gerando questionamentos sobre a ausência de um contato formal entre os líderes.

A menção de um possível contato surgiu em 23 de setembro, após um breve encontro nos bastidores do evento em Nova York. Trump, que discursou logo depois do brasileiro, relatou no plenário da ONU uma “química excelente” entre eles, com um abraço e a promessa de um futuro diálogo. No entanto, informações concretas sobre a data, formato ou local desse novo contato permanecem escassas até o momento.

Lula e Trump: Por Que o Encontro Oficial Não Aconteceu?

Fontes ligadas ao Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, esclarecem que a situação não se configura como uma demora incomum, mas sim como um intervalo esperado para conciliar as complexas agendas de ambos os presidentes. Essas mesmas fontes enfatizam que as negociações para a concretização do encontro estão ativamente em andamento.

Diplomatas tanto brasileiros quanto americanos, que acompanham a evolução do tema de forma reservada, informaram que diversas possibilidades estão sob análise. Um contato prévio por telefone ou videoconferência pode preceder uma reunião presencial. A capital americana, Washington, é uma das opções aventadas por Lula para sediar o encontro, embora um país neutro também figure entre as alternativas consideradas.

Uma oportunidade para os líderes dialogarem pessoalmente seria a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), marcada para iniciar em 26 de outubro em Kuala Lumpur, na Malásia, evento que ambos os chefes de Estado têm presença esperada. A expectativa principal é que os Estados Unidos proponham uma data específica, cabendo ao governo brasileiro avaliar a disponibilidade na agenda do presidente Lula e, então, fornecer uma resposta. Entretanto, o lado americano ainda não divulgou qualquer definição oficial a respeito. Ademais, os assessores mais próximos de Trump não demonstram particular entusiasmo com a perspectiva de uma aproximação bilateral.

Marco Rubio, Secretário de Estado americano, cujo papel se equipara ao de ministro das Relações Exteriores no Brasil, é um dos nomes que advogam pela aplicação de medidas contra o Brasil, com diversas declarações nesse sentido nos últimos meses. A complexidade do cenário é acentuada pela paralisação parcial do governo americano (shutdown), que começou em 1º de outubro devido à ausência de consenso no Congresso sobre o orçamento federal. Diplomatas de ambos os países, em conversas sigilosas, avaliam que, apesar de não impactar diretamente as negociações, o shutdown pode postergar os preparativos para o encontro, relegando-o a segundo plano diante das urgências da crise doméstica.

Questionado sobre um posicionamento oficial, o Itamaraty preferiu, até o momento, não se manifestar sobre a situação.

Contexto das Articulações Diplomáticas

Um encontro formal entre os presidentes Lula e Trump representaria o primeiro passo para a normalização das relações após um período de escalada de tensões entre os dois países, oferecendo uma via para destrancar negociações bilaterais. Há meses, Washington impõe tarifas comerciais e outras medidas restritivas contra o Brasil, uma reação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump. Bolsonaro foi sentenciado em setembro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, transferiu-se para os Estados Unidos este ano, dedicando-se a articulações junto à Casa Branca para pleitear sanções ao Brasil. Seu objetivo é pressionar por uma absolvição ou anistia para seu pai. As sanções mais recentes foram anunciadas pelos EUA na véspera do aceno de Trump na ONU: Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, e a LEX – Instituto de Estudos Jurídicos, empresa ligada à família do magistrado, foram incluídas na Lei Magnitsky. Esta legislação prevê punições para estrangeiros considerados pelo governo americano como responsáveis por violações graves de direitos humanos e atos de corrupção. Desde o início, Donald Trump classificou as ações contra o Brasil como de natureza política, reiteradamente se referindo ao julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas”.

Nesse cenário de pressões e desentendimentos, diplomatas de ambas as nações indicam que ocorreram diversas articulações com o intuito de mitigar as tensões. Esse processo culminou no breve contato entre Lula e Trump à margem da ONU. Conversas em caráter reservado envolveram figuras proeminentes como o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado americano, Marco Rubio, que mantiveram contatos desde julho, incluindo uma reunião presencial na capital americana.

O setor empresarial brasileiro também se mobilizou diante da sobretaxa de 50% imposta sobre produtos exportados para os EUA, em vigor desde agosto. Apesar da isenção para cerca de 700 produtos, a medida impactou múltiplos setores no Brasil e reverberou na própria economia americana. No mês passado, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) organizou uma comitiva de mais de 120 empresários que visitou Washington, com o objetivo de reativar os canais de diálogo. Poucos dias depois, Joesley Batista, empresário brasileiro da JBS, também se deslocou à capital americana para discutir as taxas que afetam o setor de carne.

Lula e Trump: Por Que o Encontro Oficial Não Aconteceu? - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Em setembro, o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, participou de uma videoconferência com o representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer. O escritório liderado por Greer, USTR, atualmente investiga o Brasil por alegadas práticas comerciais desleais, processo que teve início em julho, simultaneamente ao anúncio das tarifas. Dois dias após os discursos na ONU, em 25 de setembro, Alckmin também se reuniu virtualmente com o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, uma conversa que já estava previamente agendada antes do discurso de Trump.

Resistência e Desafios para um Acordo

Observadores apontam que, no círculo próximo a Donald Trump, Howard Lutnick e Jamieson Greer são considerados mais receptivos ao diálogo com o Brasil. No entanto, apesar da intensa movimentação de autoridades e empresários e da antecipação de um contato breve entre os presidentes nos bastidores da ONU, o aceno de Trump em seu discurso foi feito de improviso e surpreendeu a muitos.

O discurso oficial, redigido antecipadamente, continha duras críticas ao Brasil. Donald Trump proferiu estas críticas no púlpito da ONU, ao mesmo tempo em que acenava para uma possível aproximação com Lula. “O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta a seus esforços sem precedentes visando interferir nos direitos e nas liberdades de nossos cidadãos americanos e de outros. Com censura, repressão, utilização da corrupção no sistema judiciário como arma e perseguição de críticos políticos nos Estados Unidos”, declarou o presidente americano na ocasião. Membros do alto escalão do Departamento de Estado, como Marco Rubio e seu secretário adjunto, Christopher Landau, lideram o grupo que defende a aplicação de medidas rigorosas contra o Brasil.

Poucos dias antes da Assembleia Geral da ONU, Rubio reagiu à condenação de Bolsonaro, criticando “perseguições políticas” e prometendo “uma resposta à altura”. No Departamento do Tesouro, sob a chefia do secretário Scott Bessent e responsável pela implementação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, sua esposa e sua empresa, há também um forte apoio à aplicação de medidas punitivas contra o Brasil. É neste ambiente de divisões internas sobre o Brasil dentro do governo americano que se desenvolvem as negociações atuais para programar uma conversa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.

Diplomatas envolvidos nas discussões reiteram, em caráter reservado, que não há urgência. Eles lembram que a organização de reuniões de alto nível pode requerer um período considerável de preparação. Adicionalmente, enfatizam a necessidade de prudência para assegurar que qualquer encontro seja genuinamente proveitoso para o Brasil, e não uma oportunidade que agrave ainda mais o quadro diplomático.

Cautela no Salão Oval

Experiências recentes de líderes estrangeiros que enfrentaram constrangimentos na Casa Branca exemplificam os riscos de um encontro presencial com Donald Trump no Salão Oval. Tradicionalmente, reuniões entre o presidente americano e homólogos de outros países são minuciosamente planejadas e coreografadas. Segundo diplomatas com vivência na organização desses encontros, as equipes de ambos os lados estabelecem previamente todos os pontos a serem discutidos e os comunicados a serem emitidos. A reunião em si costuma servir para declarações formais sobre a importância da relação bilateral e sessões de fotos com apertos de mão protocolares.

Contrariando essa praxe, Donald Trump frequentemente conduz essas reuniões no Salão Oval sob o escrutínio das câmeras, sendo comum que ele se desvie da pauta principal e lance acusações inesperadas ao interlocutor. Um caso frequentemente citado em Washington é o do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que em uma reunião em fevereiro foi surpreendido com acusações de ingratidão, culminando em uma ríspida discussão. Em maio, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi confrontado com alegações infundadas de genocídio contra a população branca de seu país, em um encontro que a imprensa americana classificou como uma “emboscada”. Em entrevista recente à BBC News Brasil, o historiador político Matthew Dallek, professor da Universidade George Washington, alertou que “qualquer líder estrangeiro que se encontre com Trump em Washington” corre o risco de vivenciar situações semelhantes, incluindo o presidente Lula. No entanto, pessoas próximas ao presidente brasileiro consideram improvável que Lula se sujeitaria a um constrangimento como os enfrentados por Zelensky ou Ramaphosa.

Envolvidos nos preparativos consideram provável que uma reunião presencial entre Lula e Trump, independentemente do local, só ocorrerá após um contato telefônico inicial e com base nos resultados desse diálogo. Contudo, salientam que a decisão final dependerá unicamente da vontade de ambos os presidentes. O status quo das relações entre Estados Unidos e Brasil, conforme dados do Departamento de Estado dos EUA, pode ser acompanhado no site oficial para informações atualizadas.

Confira também: crédito imobiliário

Em suma, a possibilidade de um encontro entre os presidentes Lula e Trump segue incerta, permeada por desafios diplomáticos e o intrincado contexto político de ambos os países. A complexidade das agendas e as resistências internas refletem a cautela necessária em uma relação bilateral tensa, sugerindo que um desfecho positivo depende de estratégias cuidadosas. Mantenha-se informado sobre os desenvolvimentos da política internacional acompanhando nossa editoria de Política para mais análises.

Crédito, Daniel Torok/Casa Branca


Links Externos

🔗 Links Úteis

Recursos externos recomendados

Deixe um comentário