Lula e Xi Jinping no Brics Criticam Políticas de Trump

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O recente encontro virtual do Brics, realizado nesta última segunda-feira, dia 8 de setembro, evidenciou um alinhamento de posturas críticas às políticas implementadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os protagonistas dessa manifestação foram o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da China, Xi Jinping, que utilizaram a plataforma para emitir recados, em parte diretos, em parte velados, contra a administração americana.

Esta reunião, atípica e convocada por iniciativa do governo brasileiro, congregou os líderes dos 11 países que compõem o bloco de nações emergentes. O contexto de sua realização é marcado por tensões crescentes na geopolítica mundial, especialmente em torno da chamada “guerra tarifária” iniciada por Donald Trump desde o princípio de sua gestão, que impactou diretamente economias como as do Brasil, China, Índia e África do Sul, membros fundamentais do Brics.

Em um cenário de disputas comerciais e questões de soberania internacional, a agenda do encontro foi fortemente influenciada pelas preocupações compartilhadas por essas nações. Os discursos de ambos os presidentes focaram em tópicos cruciais. Quais foram, afinal, os

Recados de Lula e Xi Jinping no Brics a Trump

? Os chefes de Estado trouxeram à tona pontos que vão desde a imposição de barreiras econômicas até intervenções estratégicas em áreas sensíveis do globo, destacando uma visão coletiva pela promoção de um comércio global mais equitativo e respeito à autonomia dos Estados.

Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro a adotar um tom veemente. O presidente brasileiro qualificou a política de tarifas elevadas, adotada por Trump contra produtos importados, como uma clara “chantagem tarifária”. Indo além das questões econômicas, Lula expressou séria reprovação ao envio de forças militares americanas para a região do Mar do Caribe, descrevendo tal presença como um “fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”. Essas declarações refletem uma inquietação de diplomatas brasileiros que, em caráter reservado, alertam para o risco de os Estados Unidos justificarem intervenções militares sob o pretexto de combater o narcotráfico. Essa apreensão ganhou contornos mais nítidos com o anúncio de Washington de enviar navios de guerra à região e a divulgação, há duas semanas, de imagens de um suposto ataque americano a uma embarcação que estaria transportando drogas na costa da Venezuela. Em uma nota divulgada em 5 de agosto, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que reúne 21 países, já havia manifestado “profunda preocupação com a recente movimentação militar extrarregional na região”.

Para o governo brasileiro, esse cenário levanta a possibilidade de medidas semelhantes serem consideradas para o país, por meio da classificação de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. Por essa razão, diplomatas indicam que o Brasil mantém uma firme oposição a tal iniciativa. Em seu discurso, Lula foi taxativo: “Em poucas semanas, medidas unilaterais transformaram em letra morta princípios basilares do livre-comércio como as cláusulas de Nação Mais Favorecida e de Tratamento Nacional. Agora assistimos ao enterro formal desses princípios. Nossos países se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais”. Adicionalmente, o presidente fez um aceno positivo a um encontro prévio, em agosto, entre Donald Trump e Vladimir Putin no Alasca, o qual classificou como um passo na direção correta para resolver o conflito na Ucrânia, visando uma solução que respeite as legítimas preocupações de segurança de todas as partes.

Por sua vez, o líder chinês, Xi Jinping, optou por uma retórica mais matizada, mas não menos incisiva, na sua crítica à política externa de Donald Trump. Xi advertiu sobre o avanço do “Hegemonismo, unilateralismo e protecionismo”, argumentando que as “guerras comerciais e guerras tarifárias travadas por algum país afetam severamente a economia mundial e minam as regras internacionais de comércio”. A declaração reflete a posição chinesa diante de um período de forte atrito comercial com os EUA, que chegou a registrar tarifas superiores a 100% sobre diversos produtos. Em abril, Trump aplicou tarifas sobre itens chineses, e a China retaliou com taxas sobre produtos americanos e restrições a exportações de matérias-primas cruciais, como as terras raras. Houve um recuo em maio, com a China concordando em reduzir tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%, enquanto os EUA diminuíram as taxas sobre produtos chineses de 145% para 30%, mas um acordo definitivo ainda está pendente. Complementando sua intervenção, o presidente chinês sublinhou a necessidade de cooperação internacional, enfatizando que “nenhum país pode se dar ao luxo de recuar a um isolamento auto-imposto”. Xi também reiterou a defesa do programa de investimentos “Cinturão e Rota”, conhecido como a “Nova Rota da Seda”, uma iniciativa bilionária de infraestrutura global, ressaltando o interesse da China em promover uma cooperação de alta qualidade sob a Iniciativa de Desenvolvimento Global com os demais membros do Brics.

Críticos ocidentais, entretanto, veem o projeto do “Cinturão e Rota” como uma estratégia para países em desenvolvimento se tornarem financeiramente dependentes do capital chinês, afastando-os da esfera de influência europeia e americana.

Lula e Xi Jinping no Brics Criticam Políticas de Trump - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

A organização da conferência virtual pelo governo brasileiro levou cerca de três semanas e foi marcada pela continuidade da política de guerra tarifária de Donald Trump, que já havia atingido diversos membros do bloco. É importante ressaltar que, apesar das manifestações de Lula e Xi Jinping, diplomatas brasileiros que atuaram nos bastidores da organização do evento indicaram, de forma reservada, que não se esperava um coro uníssono de críticas aos Estados Unidos por parte de todos os países do Brics. Essa nuance se explica pela relação próxima que alguns membros, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, tradicionalmente mantêm com o governo americano no Oriente Médio.

Este encontro online se seguiu à cúpula presencial do Brics realizada no Rio de Janeiro, em julho, que havia sido palco para comentários críticos de Donald Trump ao próprio grupo e que, logo após, culminou no anúncio de sanções diretas ao Brasil. Em específico, tarifas de 50% foram impostas a centenas de produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos. A justificativa de Trump, comunicada via carta, vinculou essas medidas ao processo de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por seu suposto envolvimento em uma trama golpista. O ex-presidente americano classificou o processo como uma “caça às bruxas” que deveria ser encerrada de imediato. Contudo, a administração brasileira tem sustentado, reiteradamente, a independência do Poder Judiciário nacional, afirmando que o país não irá renunciar à sua soberania ou tolerar ingerências estrangeiras em assuntos internos. Observadores do cenário político especulam a possibilidade de novas ações ou medidas restritivas contra o Brasil ou suas autoridades serem anunciadas em breve, especialmente em vista do encerramento previsto para esta semana do julgamento de Bolsonaro pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).

Diferentemente das cúpulas presenciais, o encontro virtual de 8 de setembro não resultou em uma declaração final conjunta do grupo. Este fato, por si só, é um indicador da diversidade de interesses e posicionamentos internos que convivem no seio do Brics, reforçando a natureza do evento como um fórum para manifestações individuais, em vez de uma deliberação coletiva harmonizada. As discussões sobre a imposição de tarifas e a necessidade de preservar as normas de livre-comércio global, como a cláusula de Nação Mais Favorecida, ecoam os princípios defendidos por organismos como a Organização Mundial do Comércio. Mais informações sobre os princípios e acordos que regem o comércio internacional podem ser encontradas diretamente no site da Organização Mundial do Comércio, que defende o comércio sem discriminação, entre outros pilares de comércio justo: https://www.wto.org/.

Em suma, o encontro virtual do Brics demonstrou a união de países emergentes na defesa de seus interesses soberanos e comerciais contra o que veem como práticas unilateralistas e protecionistas. Lula e Xi no Brics criticaram Trump e suas políticas, enviando sinais claros de que buscam um cenário global mais multilateral e equitativo. Para continuar acompanhando as notícias e análises sobre política internacional, economia e os desdobramentos desses importantes encontros, continue navegando em nossa editoria de Política.

Crédito: Ricardo Moraes/Reuters


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