Marco Rubio: Perfil do Secretário de Estado “Linha-Dura” de Trump

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O político americano Marco Rubio, figura proeminente na diplomacia dos Estados Unidos e atual Secretário de Estado, está no centro das atenções ao liderar as negociações com o Brasil. Nomeado pelo presidente Donald Trump, Rubio agendou um encontro com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, para esta quinta-feira, 16 de outubro. A pauta crucial do encontro envolve a imposição de tarifas de 50% sobre diversos produtos brasileiros, além de sanções dirigidas a autoridades do país.

O agendamento da reunião foi consolidado após uma chamada telefônica entre Rubio e Vieira na última semana e teve sua confirmação oficializada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um evento no Rio de Janeiro, realizado na quarta-feira, 15 de outubro. O compromisso está marcado para as 14h (horário de Washington) na agenda oficial do Secretário de Estado, equivalente às 15h no fuso de Brasília.

Marco Rubio: Perfil do Secretário de Estado “Linha-Dura” de Trump

A escolha de Marco Rubio para prosseguir com essas discussões é vista como significativa. Ele é reconhecido por seu alinhamento com a ala ideológica do governo Trump e por sua reputação como defensor de uma política externa “linha-dura”. Antes de assumir a secretaria, Rubio foi um dos principais articuladores das sanções contra o Brasil, atuando como porta-voz em questões sensíveis. Além da tarifa imposta, o atual Secretário de Estado esteve à frente das sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a quem ele chegou a acusar de orquestrar uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente condenado por golpe de Estado.

Rubio também teve um papel ativo na revogação de vistos de autoridades brasileiras, como forma de retaliação ao Programa Mais Médicos. Entre os alvos dessa medida, esteve Alexandre Padilha, que hoje ocupa o cargo de ministro da Saúde. Seu histórico diplomático também inclui posturas inflexíveis contra nações como Cuba, Venezuela e, notavelmente, a China – que, ironicamente, é o principal parceiro comercial do Brasil. Suas críticas à relação entre Brasília e Pequim, por exemplo, datam do período em que atuava como senador.

Críticas a Lula e a Escolha Diplomática

As declarações passadas de Marco Rubio, nas quais criticou o próprio presidente Lula, adicionam uma camada de complexidade às atuais negociações. Há um registro de que o governo brasileiro, em particular, preferia outro interlocutor. No entanto, o presidente Lula, em entrevista à TV Mirante do Maranhão, disse ter solicitado a Trump que Rubio se aproximasse do Brasil sem pré-conceitos, argumentando que as declarações anteriores de Rubio revelavam um certo “desconhecimento da realidade do Brasil”. Apesar da preferência por um outro diplomata, o fato de Rubio ter o aval direto de Trump é visto como um ponto positivo, facilitando a tomada de decisões no contexto da alta cúpula política americana.

À frente da diplomacia dos EUA, Marco Rubio atualmente gerencia uma força de trabalho de mais de 70 mil funcionários no Departamento de Estado, e é a primeira pessoa de ascendência latino-americana a ocupar o cargo mais relevante do governo americano na história do país. Compreender o papel crucial do Secretário de Estado na política externa dos EUA é fundamental, e o site oficial do Departamento de Estado oferece mais detalhes sobre as atribuições do órgão.

A Trajetória de Marco Rubio: Da Infância Cubana à Política Americana

Nascido em Miami, em maio de 1971, Marco Rubio é o terceiro dos quatro filhos de Mario e Oriales, imigrantes cubanos que haviam chegado aos Estados Unidos 25 anos antes de seu nascimento em busca de novas oportunidades. Desde tenra idade, Rubio demonstrava interesse pela política, sonhando inclusive em ser presidente, conforme relatado por seu primo Moises (Mo) Denis. Sua infância foi marcada pelas discussões políticas em família, especialmente com o avô. Nelson Diaz, amigo de Rubio por mais de 30 anos, conta que a família de Rubio “veio para este país [EUA] sem nada e trabalhou em quantos empregos precisaram para garantir que seus filhos tivessem não apenas uma oportunidade melhor do que a deles, mas algo ainda muito melhor”.

Quando Rubio – conhecido como “Tony” em casa – tinha 8 anos, a família se mudou para Las Vegas. Lá, seu pai trabalhou como barman no Sam’s Town Hotel, e sua mãe como camareira. Foi durante este período que Rubio, de origem católica, se converteu ao mormonismo, tornando-se inclusive um fã da banda Osmonds. Após seis anos em Las Vegas, a família retornou a Miami, e Rubio se converteu novamente ao cristianismo.

Sua ascensão educacional incluiu a universidade, viabilizada por uma bolsa esportiva, onde estudou Ciência Política, e posteriormente a faculdade de Direito na Universidade da Flórida. Nesse período, em 1996, conheceu Nelson Diaz durante o trabalho voluntário na campanha presidencial do senador republicano Bob Dole. Ele também ficou noivo de Jeanette, com quem se casou em 1998 e teve quatro filhos. O valor da família e os princípios cristãos são pilares de sua identidade pública, amplamente conhecidos pelos eleitores.

Da Câmara da Flórida ao Senado, e os Confrontos com Donald Trump

No final da década de 1990, Marco Rubio iniciou sua carreira política com um cargo discreto na Comissão de Governo Municipal de West Miami. Sua ascensão foi rápida: em 2000, ele foi eleito para a Câmara dos Deputados da Flórida, chegando a se tornar presidente da Casa em 2005. Em 2010, deu um passo ousado ao concorrer ao Senado contra o então governador da Flórida, o democrata Charlie Crist. Apesar de começar com uma desvantagem de mais de 30 pontos nas pesquisas e quase desistir, foi encorajado por sua esposa, Jeanette, e venceu a eleição, tornando-se senador pela Flórida aos 39 anos. No Senado, ganhou destaque como especialista em política externa, integrando os Comitês de Relações Exteriores e de Inteligência.

Em 2015, Marco Rubio lançou sua candidatura à presidência dos Estados Unidos. A campanha de 2016 foi marcada por embates intensos com Donald Trump, que acabou por conquistar a nomeação republicana e a presidência. Trump rotulou Rubio como “Little Marco”, em referência à sua altura. Rubio, por sua vez, retaliou publicamente, ironizando o tamanho das mãos de Trump. Em determinado momento, chegou a declarar que “ficava cada vez mais difícil justificar o apoio” a Trump, acusando-o de transformar a eleição em um “circo”.

Contrariando as expectativas após os ataques pessoais, as desavenças entre Marco Rubio e Donald Trump foram superadas com a chegada de Trump à Casa Branca. Analistas apontam que eles se reconciliaram e passaram a colaborar em diversas agendas importantes. O apoio de Rubio a Trump nas eleições de 2024 e sua participação em comícios reforçaram essa aliança. Em novembro de 2024, Trump nomeou Rubio para um dos mais altos cargos de seu governo: o de Secretário de Estado. Na ocasião, Trump elogiou Rubio como “um grande defensor de nosso país” e um “guerreiro feroz”, enquanto Rubio prometeu “promover a paz através da força”.

Marco Rubio: Perfil do Secretário de Estado “Linha-Dura” de Trump - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Posturas Geopolíticas e as Críticas ao Governo Lula

A indicação de Marco Rubio para a negociação com o Brasil foi recebida com satisfação por aliados de Bolsonaro. Brian Winter, brasilianista e editor da Americas Quarterly, pontuou que a escolha de Rubio para lidar com o Brasil representaria “o caminho mais difícil”, dada a sua antiga desconfiança em relação a Lula e a provável insistência em questões relativas a Venezuela e China. De fato, como senador, Rubio criticou a política externa de Lula em diversas ocasiões. Em abril de 2023, sugeriu que Lula seria um “radical antiamericano” após uma visita do presidente brasileiro à Huawei, questionando sua posição como “aliado da democracia”. Também condenou a aproximação de Lula com o presidente venezuelano Nicolás Maduro, chamando o regime de Maduro de “narcoregime criminoso”.

Mais recentemente, em setembro de 2024, Rubio se manifestou sobre a suspensão da plataforma X (antigo Twitter) no Brasil, medida determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após Elon Musk desrespeitar uma decisão judicial. Rubio afirmou que a ação, sob o governo Lula, “levantava sérias preocupações sobre a liberdade de expressão” no país. Quando Trump anunciou na ONU ter abraçado Lula e notado “química” entre eles, Rubio, que estava presente na transmissão, ostentava uma expressão séria em contraste com o bom humor de Trump, o que gerou interpretações sobre suas ressalvas pessoais.

Ataques a Moraes em Defesa de Bolsonaro: A Lei Global Magnitsky

O Secretário de Estado americano também se notabilizou por reiteradas críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, classificando-o como “violador de direitos humanos”. O processo que culminou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por golpe de Estado, sob a relatoria de Moraes, foi citado como uma das justificativas para o aumento das tarifas contra o Brasil e a aplicação de sanções a autoridades brasileiras pelos EUA. Em 18 de julho, Rubio anunciou a revogação do visto de Moraes e de seus familiares e aliados para entrada nos EUA, justificando a medida com acusações de que o ministro promoveria uma “caça às bruxas” que violava os “direitos básicos dos brasileiros”.

Dias após, novas sanções foram impostas a Moraes, desta vez utilizando a Lei Global Magnitsky. Rubio declarou que a sanção era um “aviso para aqueles que atropelam os direitos fundamentais de seus compatriotas”. Após a condenação de Bolsonaro, ele prometeu uma “resposta à altura”, reforçando a retórica de “caça às bruxas”. Em resposta, o Itamaraty afirmou que tais “ameaças não intimidarão” a democracia brasileira. Uma semana depois, a advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro, foi também incluída na lista de sancionados pela Lei Magnitsky. Em entrevista à Fox News, Marco Rubio intensificou suas críticas, alegando que a condenação de Bolsonaro era “apenas mais um capítulo de uma crescente campanha de opressão judicial” no Brasil, que visava atingir empresas e indivíduos americanos.

Cenário Global: Posicionamento sobre Ucrânia, Gaza e China

No passado, Marco Rubio demonstrou forte defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), das alianças tradicionais dos EUA e do livre-comércio, mantendo uma postura crítica à Rússia e a Vladimir Putin, sempre favorável à Ucrânia. Ele defendia uma rápida conclusão para o conflito, embora reconhecesse que seria “hipérbole acreditar que os ucranianos vão esmagar completamente o exército russo”.

Desde que assumiu a secretaria, algumas críticas surgiram quanto à sua alegada mudança de princípios, sacrificando antigas convicções para agradar Trump, o que implicaria em uma política mais amistosa com a Rússia, uma busca por acordo nuclear com o Irã e críticas a líderes europeus. Em uma entrevista recente ao podcast The Megyn Kelly Show, Rubio defendeu que os EUA não estão abandonando seus aliados, mas sim ajustando-se de uma mentalidade pós-Guerra Fria para as realidades de uma nova ordem mundial, onde o mundo se tornaria multipolar. Em relação a Gaza, Rubio, em 2023, se manifestou contra um cessar-fogo, apoiando a destruição de elementos do Hamas. Contudo, sua postura como Secretário de Estado evoluiu, e ele elogiou os esforços de Trump no anúncio de um acordo de cessar-fogo na semana passada.

A China, no entanto, permanece um alvo principal de suas posições “linha-dura”. Rubio a considera “o maior e mais avançado adversário que os Estados Unidos já enfrentaram”, como expressou em artigo no Washington Post. Ele tem defendido uma nova política industrial para os EUA, visando impedir que a China “eclipsasse completamente os Estados Unidos” na próxima década, enfatizando a importância da não complacência dos formuladores de políticas americanas. A defesa veemente da independência de Taiwan também é uma de suas bandeiras, com declarações como “a China comunista não é, e nunca será, amiga das nações democráticas”, reforçando a necessidade de apoio internacional à soberania e liberdade de Taiwan.

Futuro Político: Uma Caminhada para 2028?

Considerando sua trajetória e ascensão no governo Trump, especula-se amplamente sobre a possibilidade de Marco Rubio ser um candidato à Presidência dos Estados Unidos em 2028, uma vez que Trump não pode concorrer novamente. O próprio presidente americano chegou a mencioná-lo como um possível sucessor em uma entrevista à NBC. Para Manuel Roig-Franzia, autor da biografia “The rise of Marco Rubio”, o objetivo da Casa Branca sempre esteve no horizonte do Secretário de Estado, desde o início de sua jornada na política local. Ele afirma: “Isso sempre esteve lá, o impulsionando – desde sua trajetória na comissão da pequena cidade, passando pela legislatura da Flórida, até o Senado e agora o gabinete presidencial. É um caminho que ele traçou cedo e no qual ainda está.”

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A jornada política de Marco Rubio, marcada por reviravoltas e posicionamentos firmes, o coloca em uma posição estratégica tanto na política interna quanto na diplomacia global dos Estados Unidos. Seu papel nas negociações com o Brasil reflete a complexidade das relações internacionais e as nuances da influência americana. Continue acompanhando a cobertura completa de nossa editoria para entender as implicações dessas negociações e outros desdobramentos na política internacional e nacional.

Crédito, Joe Raedle/Getty Images


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