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A opositora venezuelana Maria Corina Machado conquistou o Prêmio Nobel da Paz de 2025, conforme comunicado nesta sexta-feira (10/10). A ativista de 57 anos foi agraciada pelo Comitê Norueguês do Nobel “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura à democracia”. A notícia reforça o papel da líder em um cenário político complexo e frequentemente tenso no país sul-americano.
Com o decorrer dos anos, Maria Corina Machado se consolidou como uma das vozes mais proeminentes contra o regime chavista, liderado por Nicolás Maduro. A resistência ao sistema político instaurado por Hugo Chávez há décadas tem sido o cerne de sua atuação, marcando sua trajetória política com desafios e confrontos diretos com o governo.
A trajetória de desafios e reconhecimento global que leva **Maria Corina Machado Conquista Nobel da Paz de 2025** destaca-se por sua resiliência. Em meados de 2024, Machado enfrentou uma ordem de prisão, reforçando sua imagem como a “inimiga número um” do chavismo. Mesmo durante os períodos de maior estabilidade do regime, ela manteve um discurso crítico e direto tanto a Hugo Chávez quanto ao sistema que ele estabeleceu, não se intimidando diante das pressões governamentais.
As autoridades venezuelanas impuseram diversas sanções à líder opositora: restrição de saída do país, cassação de seu mandato como deputada na Assembleia Nacional e inabilitação para ocupar cargos públicos. As acusações proferidas pelo governo, de vínculos com o “imperialismo” dos Estados Unidos, são sempre veementemente negadas por ela. No entanto, essas medidas não a impediram de manter sua atividade política e de se fortalecer como a principal figura de liderança da oposição. Essa consolidação, segundo seus apoiadores, é resultado de seu mérito e dedicação incansável.
Entre 2023 e 2024, Maria Corina Machado realizou duas extensas viagens pela Venezuela, mesmo com voos cancelados, estradas bloqueadas e ataques a seu veículo, incluindo incidentes com sangue de animal. Durante essas jornadas, foi acolhida por multidões nas ruas, que lhe entregavam terços – objetos que ela coleciona com carinho, registrando nomes, locais e datas. É comum vê-la em grandes comícios carregando vários desses terços sobre o peito. Após as eleições de 28 de julho de 2024, que declararam Maduro vencedor em meio a denúncias de fraude, ela declarou: “Com cada um [dos terços] posso lembrar por que faço o que faço e quantas orações nos animam a continuar lutando”.
A atitude de Machado renovou a esperança de milhões de venezuelanos ansiosos por mudanças de governo, antes e depois da votação, superando o ceticismo em relação ao caminho eleitoral. Poucos minutos após o anúncio oficial do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que é alinhado ao governo, Maria Corina Machado afirmou a vitória do candidato opositor Edmundo González Urrutia, apresentando o que alegou serem provas. Com experiência em observação eleitoral, ela coordenou uma rede paralela de verificação que compilou as atas oficiais protegidas por fiscais da oposição. O cruzamento dos dados revelou inconsistências significativas em comparação com o resultado divulgado pelo CNE, levando países como os Estados Unidos a reconhecerem González como vencedor, citando as “provas contundentes” apresentadas.
“Vencer levou tempo, e fazer valer a vitória também pode levar”, disse Machado em mensagens de voz a seus apoiadores. Ela incentivou a resistência e a proximidade com o povo, reafirmando o compromisso de não abandoná-los e de lutar “até o fim”. Este lema consolidou sua imagem como uma figura maternal e símbolo de resistência. Anteriormente vista com ceticismo por parte de uma coalizão opositora por sua postura radical e sua defesa de intervenção internacional, Machado reconheceu mudanças em sua visão em entrevista em novembro de 2023: “Cometemos muitos erros. Quando se erra acreditando fazer o certo, ou por falta de informação, ou por subestimar o que se enfrenta, é preciso aprender. Temos nos redescoberto e percebido que somos capazes de muito mais.”
A ‘Dama de Ferro’ e sua Trajetória
Maria Corina Machado Parisca, aos 57 anos, mãe de três filhos, é a mais velha de quatro irmãs. Ela cresceu em uma família influente, liderada por um renomado empresário do setor metalúrgico que teve suas empresas expropriadas durante o governo de Chávez. Sua mãe é uma psicóloga e tenista de destaque. Formada em engenharia industrial com especialização em finanças, Machado iniciou sua carreira em diversas empresas do setor industrial antes de se dedicar a organizações voltadas para o combate à pobreza e a fiscalização eleitoral. Sua aproximação com o Partido Republicano dos Estados Unidos a levou a um encontro com o então presidente George W. Bush na Casa Branca, para discutir a situação venezuelana, que já era motivo de grande interesse internacional devido à crescente influência de Fidel Castro sobre Chávez.
Pelo governo chavista, Machado sempre foi vista como colaboradora de um “golpe imperialista” e foi acusada de receber recursos ilícitos de fundações americanas, o que resultou na proibição de sua saída do país por três anos. Em 2010, no entanto, ela conseguiu eleger-se deputada independente para a Assembleia Nacional, pautando seu discurso pelo anticomunismo e por críticas contundentes às expropriações. Em 2012, ela disputou as primárias da oposição, sendo derrotada por uma larga margem por Henrique Capriles, que posteriormente se retirou da disputa presidencial.
Em 2014, Maria Corina Machado, ao lado de Leopoldo López, liderou um movimento de protesto com o objetivo de derrubar Maduro do poder, o que a levou a perder seu cargo na Assembleia sob acusação de conspiração golpista. Desde então, ela se tornou uma das líderes mais incisivas da oposição, organizando protestos em 2017 e 2019, rotulando o governo como uma ditadura, rechaçando qualquer tentativa de negociação com o chavismo e defendendo o uso da força para destituir Maduro. Ela também se posicionou contra os principais partidos da oposição, os quais acusou de “colaboração” com o regime. Em um período em que muitos viam sua influência diminuir, ela se manteve firme em suas posições e ações, construindo uma base de apoio sólida e recusando-se a deixar o país, uma escolha que muitos de seus pares na oposição acabaram fazendo. Sua perseverança política, somada à herança industrial de sua família, lhe valeu o apelido de “dama de ferro”.
Conforme as lideranças de Capriles, López e Juan Guaidó enfrentavam desgastes, Maria Corina Machado emergiu como a opção mais clara para desafiar Maduro. Durante sua campanha eleitoral, ela propôs medidas como a abertura da economia a investimentos estrangeiros, a privatização de certas empresas estatais, a busca por empréstimos junto a bancos de desenvolvimento e a promoção da exploração privada das vastas reservas de petróleo da Venezuela. Machado conduziu uma campanha expressiva por todo o país, adotando o lema “até o fim”, apesar das perseguições e agressões, incluindo um incidente em que sangue animal foi atirado contra ela. Essa resiliência persistente, característica de muitos políticos venezuelanos, culminou agora no reconhecimento internacional.
Ainda sobre os obstáculos políticos, em 26 de janeiro de 2024, o Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela (TSJ), frequentemente criticado por agir a favor do governo Maduro, confirmou a inabilitação de Machado para exercer cargos públicos por 15 anos. Ela é alvo de diversas acusações, como corrupção e formação de quadrilha, mas nega qualquer irregularidade. Pouco depois da decisão do TSJ, Machado acusou Maduro de descumprir o Acordo de Barbados, assinado em 2023, no qual o governo venezuelano garantiu um cronograma para as eleições de 2024 com a participação de observadores internacionais. Em troca, algumas sanções financeiras que impediam a Venezuela de receber receitas do petróleo foram suspensas. A desqualificação de Maria Corina Machado resultou na ameaça dos EUA de restabelecerem as sanções, como ocorreu posteriormente.
Ela acabou tornando-se aliada próxima e companheira de campanha de Edmundo González Urrutia, a quem apoiou como candidato único depois que foi impedida de concorrer à presidência. Apesar de Maduro ter sido declarado vitorioso na eleição, o resultado oficial foi amplamente contestado. Estados Unidos e a maioria dos governos regionais questionaram a vitória de Maduro, com alguns reconhecendo González Urrutia como presidente legítimo; o Brasil, por sua vez, não reconheceu a vitória de Maduro. González deixou a Venezuela e exilou-se na Espanha logo após o pleito, temendo prisão. Maria Corina Machado, no entanto, optou por permanecer no país.
Em janeiro de 2025, Maria Corina Machado foi brevemente detida durante um protesto contra a posse de Maduro, sendo libertada minutos depois. Sua aparição pública ocorreu após meses de clandestinidade, não sendo vista desde o final de agosto de 2024, período marcado por um aumento nas prisões de cidadãos comuns e líderes da oposição. Em entrevista à BBC News Mundo, naquele mesmo janeiro de 2025, ela declarou que o chavismo jamais esteve tão fragilizado e pediu a Maduro que não se mantivesse no poder pela força. “Ele sabe que não tem como permanecer no poder, exceto pelo uso da violência, o que é insustentável”, defendeu. Machado afirmou que Maduro está “entrincheirado em Miraflores”, o palácio presidencial, acusando-o de uma “ocupação territorial” da Venezuela e reiterando que a decisão sobre sua saída está nas mãos do próprio presidente. “Nós construímos um movimento social e cultural que transformou a Venezuela. Fizemos sem dinheiro, sem meios de comunicação e sem armas. Sem nenhum tipo de apoio internacional, além da diplomacia, e veja onde estamos. Nós já derrotamos Maduro, derrotamos nas ruas, derrotamos nos corações dos venezuelanos e derrotamos nos votos”, enfatizou a líder.
Desentendimentos com o Presidente Lula em 2024
No ano de 2024, Maria Corina Machado teve um notório desentendimento com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Após o presidente ser questionado sobre a situação venezuelana em comparação com o Brasil, afirmando que “se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento do nosso aqui, nada vale”, ele foi indagado por jornalistas a esclarecer o paralelo entre as eleições dos dois países. Lula, então, negou ter feito qualquer comparação direta e recordou que foi impedido de concorrer nas eleições de 2018. “Ao invés de ficar chorando, eu indiquei outro candidato, e ele disputou as eleições”, disse o presidente.
Maria Corina Machado reagiu de forma contundente à fala de Lula em uma rede social: “Eu chorando, Presidente @LulaOficial? O senhor diz porque sou mulher?”. Ela prosseguiu: “O senhor não me conhece. Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram por mim nas primárias e os milhões que têm direito de votar em umas eleições presidenciais livres nas quais derrotarei o Maduro.” E concluiu: “A única verdade é que Maduro tem medo de me enfrentar porque sabe que o povo venezuelano está hoje na rua comigo”.
O Palácio do Planalto, em nota à imprensa, negou que Lula estivesse se referindo especificamente a Maria Corina Machado. “O presidente não fez afirmação sobre ninguém especificamente. Ele não disse que ninguém ficou chorando. Apenas que ele não chorou, relatando a situação que ele próprio viveu”, disse o governo. A nota adicionou: “O presidente Lula apoiou a primeira presidenta mulher Brasileira, Dilma Rousseff em 2010, então o comentário mostra que ela não conhece o presidente e faz uma ilação sem base”. Estes debates com figuras políticas internacionais apenas ressaltam a visibilidade e o impacto de Machado no cenário político global, evidenciado agora com a premiação do Nobel. A complexidade do cenário venezuelano e as constantes controvérsias reforçam a necessidade de fontes confiáveis para entender a geopolítica da América Latina. Para uma análise mais aprofundada da situação política na Venezuela, consulte a página oficial do Comitê Norueguês do Nobel.
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A premiação de Maria Corina Machado com o Nobel da Paz de 2025 é um marco na luta pela democracia na Venezuela, reconhecendo sua perseverança e impacto na vida política do país. Sua história é um testemunho da capacidade de um indivíduo de catalisar mudanças, mesmo diante de adversidades imensas. Para continuar acompanhando as notícias sobre política e análises aprofundadas sobre o cenário latino-americano, explore mais conteúdos em nossa seção de Política.
Crédito: Getty Images

Imagem: bbc.com
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