María Corina Machado Nobel da Paz 2025: Surpresa e Polêmica

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Em um anúncio que reverberou globalmente, a política María Corina Machado foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz de 2025 nesta sexta-feira, 10 de outubro. A oposicionista venezuelana, figura central na contestação ao governo de Nicolás Maduro, teve sua vitória comunicada pelo comitê responsável pela honraria, que destacou o “trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia” como justificativa para a escolha.

O comitê classificou María Corina, de 58 anos, como uma “mulher que mantém acesa a chama da democracia, em meio a uma escuridão crescente”, reconhecendo-a como um dos “exemplos extraordinários” de coragem recentes na América Latina. Desde anos anteriores, Machado tem sido uma voz ativa contra o presidente Nicolás Maduro, cujo mandato é marcado por severas acusações de organizações de direitos humanos e cuja vitória nas últimas eleições não obteve reconhecimento de diversos países, incluindo o Brasil.

María Corina Machado Nobel da Paz 2025: Surpresa e Polêmica

Impedida de participar das eleições presidenciais passadas, que concederam a Maduro seu terceiro mandato consecutivo de seis anos, María Corina desempenhou um papel fundamental na união da oposição. Ela consolidou o apoio em torno de um único nome, Edmundo González, reacendendo as esperanças de mudança para milhares de venezuelanos. Em sua esfera pública internacional, a líder oposicionista é amplamente elogiada por seus pronunciamentos pró-democracia e pró-liberdades, sendo vista como um agente potencial de alternância de poder, desafiando a hegemonia chavista que governa a Venezuela desde 1997.

No entanto, a percepção de María Corina em nível doméstico apresenta nuances mais complexas, como apontam especialistas em entrevistas à BBC News Brasil. Existem ressalvas quanto às suas estratégias passadas e à sua histórica proximidade com governos dos Estados Unidos, agora explicitamente com a gestão Trump. Essa relação gera questionamentos até mesmo entre alguns setores da oposição.

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2025, por exemplo, demonstrou apoio explícito à movimentação de navios militares dos EUA em direção à costa venezuelana, bem como à tática de destruir embarcações consideradas suspeitas de transportar drogas para o território americano. Essa ofensiva, iniciada em setembro pelo governo Trump, tem sido conduzida sem a apresentação de provas detalhadas sobre os ocupantes ou o conteúdo dos barcos alvejados. As ações no Caribe provocaram forte condenação por parte de países como Venezuela e Colômbia, e geraram críticas do governo brasileiro, com alguns juristas as classificando como violação do direito internacional.

No início do mês, um memorando sigiloso, que veio a público após ser enviado ao Congresso americano, revelou que a administração Trump considerava estar em um “conflito armado não internacional” com cartéis de drogas. Parte desses grupos foi designada pela Casa Branca como “grupos terroristas”, com o presidente Nicolás Maduro sendo, de acordo com o governo americano, um dos líderes desses cartéis. A importância desse memorando reside no fato de que, pela lei americana, o governo deve informar o Congresso sobre o uso de Forças Armadas, sinalizando a possibilidade de novas operações militares na região.

Em resposta às acusações de narcotráfico e à presença militar americana, Maduro nega as alegações e interpreta o envio de tropas como uma tentativa dos Estados Unidos de intimidar o país com a ameaça de um ataque, visando uma mudança de governo. Diante desse cenário, o governo venezuelano chegou a emitir uma ordem para que os militares instruíssem a população em comunidades de baixa renda sobre o uso de armas.

Em uma entrevista concedida à Fox News, María Corina expressou seu entendimento de que as medidas de Trump contra a Venezuela eram “decisivas”. Ela declarou: “Estamos em um momento decisivo para as Américas. O que está acontecendo na Venezuela, fruto da firme postura do presidente Trump em desmantelar essa estrutura criminosa, está tendo um impacto enorme.” Em outro diálogo com a mesma emissora, em espanhol, Machado reiterou a prontidão de seu movimento político para assumir o poder na Venezuela, caso Maduro seja deposto. Em seu perfil no X, ela reforçou a posição: “Estamos prontos para uma transição ordenada e pacífica rumo à democracia. Vamos tomar o controle territorial e institucional com os melhores venezuelanos.”

Análise do Prêmio Nobel da Paz de 2025

A escolha de María Corina Machado para o Nobel da Paz surpreendeu especialistas. Marsílea Gombata, professora de relações internacionais na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NUPRI) da Universidade de São Paulo (USP), comentou: “Um Nobel da paz para María Corina certamente surpreende.” Gombata explica que, apesar de ter simbolizado um anseio por um processo eleitoral justo, “María Corina é também uma política que, historicamente, angaria apoio por meio de polarização e estratégias de confronto.” A especialista alerta ainda que um eventual conflito militar na região teria “consequências desastrosas para toda a região”, e dificilmente resultaria em uma mudança de poder.

María Corina Machado Nobel da Paz 2025: Surpresa e Polêmica - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Carolina Pedroso, professora de Relações Internacionais e coordenadora do grupo de pesquisa Realidades Latinoamericanas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), compartilha uma análise similar: “Chama atenção ela ter sido escolhida, porque ela não é, das figuras opositoras, a mais pacífica,” afirma Pedroso. “Pelo contrário, ela é considerada a mais radical, a que não descarta, ao contrário, incentiva, meios beligerantes para a derrubada do governo,” complementa a professora da Unifesp. Para Pedroso, o apoio da opositora ao avanço americano sobre o território venezuelano é um dos pontos questionáveis de sua trajetória.

A professora menciona a ação dos Estados Unidos no deslocamento de submarinos nucleares para uma área no Caribe que, desde 1968, é considerada desnuclearizada por um acordo internacional – o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares – do qual os próprios EUA são signatários. Nos dois meses anteriores, os Estados Unidos já haviam confirmado o envio de navios de guerra para o Caribe, incluindo destróieres de mísseis guiados e um submarino de propulsão nuclear.

Ao ser informada do prêmio, María Corina Machado direcionou uma homenagem a Donald Trump, que também era cotado para o Nobel da Paz. “Dedico este prêmio ao povo sofrido da Venezuela e ao presidente Trump por seu apoio decisivo à nossa causa!”, escreveu ela no X. Essa proximidade com o governo norte-americano, histórico rival da gestão bolivariana na Venezuela, não é um fenômeno recente na trajetória de Machado. Carolina Pedroso aponta que “ela sempre defendeu, pelo menos desde o início do governo Maduro, uma intervenção direta dos Estados Unidos na política venezuelana.” Além disso, a professora da Unifesp ressalta: “Estamos falando de uma pessoa que há mais de 20 anos tem um discurso de defender a democracia e a liberdade, mas por outro lado já participou de ações que foram antidemocráticas,” citando o suporte de Corina ao golpe contra Hugo Chávez em 2000, um movimento no qual os EUA foram o primeiro país a reconhecer o presidente interino autodeclarado. “E o papel da María Corina foi essencial para abrir essa articulação”, afirma Pedroso.

Marsílea Gombata avalia que a premiação de María Corina tem o potencial de fortalecer uma ala mais agressiva da oposição. “Talvez essa premiação fortaleça uma ala da oposição mais combativa e disposta a qualquer coisa – até mesmo um confronto armado no território venezuelano – para tirar Maduro do poder”, observa Gombata. No entanto, ela adverte que a tentativa de “mudar as coisas à força”, tônica da política de Trump com sanções ao setor petrolífero venezuelano, “não está funcionando”, resultando em venezuelanos mais empobrecidos enquanto Maduro ganha força internamente. Em reforço à sua visão sobre a intrínseca relação entre a atuação de María Corina e os interesses dos EUA, é importante destacar a ampla discussão sobre o cenário político da Venezuela e seu impacto internacional, como observado em publicações de veículos como BBC News Brasil, que abordam as complexidades da política venezuelana.

Já para Carolina Pedroso, além de reforçar a oposição, o prêmio constitui uma vitória para o governo Trump. Pedroso relembra que Marco Rubio, quando Secretário de Estado e senador, fez parte do grupo que indicou María Corina para o Nobel em 2024. “Pode ter parecido uma derrota para Trump por ele não ter sido nomeado, mas não é uma derrota do trumpismo global, porque ela é uma aliada do trumpismo”, conclui a especialista.

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A outorga do Prêmio Nobel da Paz de 2025 a María Corina Machado evidencia a complexa trama da política venezuelana, destacando tanto sua luta por democracia quanto as controvérsias sobre suas estratégias e alianças. Para aprofundar a compreensão sobre os desdobramentos desse cenário político na América Latina e em outras partes do mundo, continue acompanhando nossa editoria de Política para as últimas análises e notícias.

Crédito: Gaby Oráa/Reuters


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