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TÍTULO: María Corina Machado: Nobel, Trump e Libertação da Venezuela
SLUG: maria-corina-machado-nobel-trump-venezuela
META DESCRIÇÃO: María Corina Machado, após receber o Nobel da Paz, comenta em entrevista o apoio de Trump, a luta pela democracia e a “libertação” da Venezuela. Leia os detalhes.
A situação política na Venezuela, que parecia estagnada e desfavorável à oposição, ganhou novo fôlego com a concessão do Prêmio Nobel da Paz a María Corina Machado. Este reconhecimento surge em um momento crucial, reacendendo as esperanças de mudança em meio ao prolongado conflito contra o governo de Nicolás Maduro. Machado, que tem liderado esforços incansáveis pela restauração democrática, viu sua trajetória ser valorizada globalmente, trazendo visibilidade renovada à luta do povo venezuelano por liberdade e justiça.
Na última sexta-feira, 10 de outubro, o Comitê Norueguês do Nobel anunciou a escolha de María Corina Machado como laureada, citando “seu incansável trabalho na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. Esta homenagem coroa décadas de ativismo político de Machado, que enfrentou sucessivos desafios desde os tempos de Hugo Chávez, buscando todas as vias possíveis – eleitorais, de protesto e de negociação – para promover uma mudança genuína no país caribenho.
María Corina Machado: Nobel, Trump e Libertação da Venezuela
María Corina Machado: Nobel, Trump e Libertação da Venezuela reflete as tensões atuais do país e o caminho percorrido pela líder opositora. Conforme relatado pelo BBC News Mundo em entrevista, um ano após as controversas eleições de 28 de julho de 2024 – onde a oposição afirmou vitória com base em atas não divulgadas pelo órgão eleitoral –, Machado encontra-se na clandestinidade. A pressão externa sobre o regime de Maduro agora intensifica-se por parte dos Estados Unidos, especialmente através do presidente Donald Trump, conhecido por sua linha-dura e por considerar Maduro como líder de um cartel de drogas. Nesse contexto, Machado concedeu uma entrevista exclusiva ao serviço em espanhol da BBC, na qual detalha suas percepções e planos futuros após o significativo prêmio.
Ao ser questionada sobre a honra de ser a segunda mulher latino-americana e a primeira venezuelana a receber o Nobel da Paz, María Corina Machado expressou um misto de descrença e um profundo sentimento de justiça. Ela declarou não ter tido tempo para processar completamente a notícia, mas enfatizou que este é um reconhecimento não apenas a ela, mas “ao povo da Venezuela”, aos milhões que “deram tudo”, arriscando suas vidas e bens. Para Machado, o prêmio representa uma “injeção de energia, de ânimo, de força” para concretizar a “última etapa desta luta: a libertação da Venezuela e a construção de uma nação com pilares democráticos e éticos muito sólidos”.
Apesar da magnitude do prêmio e sua repercussão internacional, a realidade interna venezuelana impede celebrações abertas nas ruas, devido ao clima de terror imposto pelo regime. No entanto, Machado destacou a atmosfera “muito festiva dentro dos lares”, descrevendo-a como um fenômeno poderoso. Ela explica que, sob o “regime de terror”, os cidadãos inovaram, criando mecanismos de ação protegidos para se organizar, comunicar e resguardar uns aos outros. Para a líder opositora, o ocorrido nas horas seguintes ao anúncio do Nobel é “extraordinário”, pois as pessoas reconhecem o prêmio como uma conquista coletiva para todos os venezuelanos e, ainda mais, para aqueles cidadãos globais que apoiaram a voz e a força do movimento em busca da liberdade iminente.
Desde o anúncio do Nobel, o governo venezuelano de Nicolás Maduro manteve silêncio, sem qualquer comunicação com Machado. Para a líder, essa ausência de manifestação por parte do regime é esperada e reforça que eles compreendem o Nobel como uma “legitimação” do movimento opositor, que alcançou uma “vitória esmagadora em 28 de julho de 2024”. Essa situação, segundo Machado, demonstra o “isolamento absoluto” de Nicolás Maduro, cujos antigos aliados e governos que o apoiavam o “deixaram sozinho”.
O Caminho da Oposição e a Destruição do País
Desde a fundação do movimento Vente Venezuela em 2012, ainda durante a presidência de Hugo Chávez, a Venezuela sofreu profundas transformações. María Corina Machado detalha as diversas dimensões dessa mudança, sendo a mais visível a “destruição não apenas da nossa economia, mas também dos nossos recursos naturais”. O Produto Interno Bruto (PIB) do país despencou 80% em uma década, um nível de contração sem paralelo global. Outro “dano terrível” atingiu as instituições, onde “ninguém se atreve a falar”, seja ativista, juiz, jornalista ou sacerdote. Pessoas são presas por denunciar inflação, aumento de preços ou falta de alimentos, e até familiares são perseguidos, evidenciando o “nível de depravação” que se instalou. Contudo, paralelamente, essa opressão fortaleceu a sociedade, unindo-a na busca por liberdade.
Em 2023, visando às primárias, um “processo de reencontro dos venezuelanos” foi iniciado, culminando na organização bem-sucedida de eleições primárias sem o apoio ou recursos do regime ou do órgão eleitoral. Este esforço inédito resultou na criação de uma “plataforma cidadã” com mais de um milhão de participantes, transformando-se em uma força que, mesmo diante da repressão, “coloca o regime contra a parede”. A percepção internacional também evoluiu drasticamente, compreendendo que o desafio venezuelano não é uma ditadura convencional, mas uma “estrutura criminosa” que fez da Venezuela um santuário para inimigos do Ocidente: Irã, Rússia, Hezbollah, Hamas, cartéis e guerrilhas. Machado afirma que o mundo agora entende a necessidade de tratar o regime como uma organização criminosa, aplicando a “lei e a ordem internacional”, indicando um momento único em que o regime “está mais fraco do que nunca”, enquanto a sociedade está mais “unida, esperançosa e organizada”.
Reflexões e Próximos Passos na Crise Venezuelana
Ainda em sua entrevista à BBC Mundo, María Corina Machado realiza uma autocrítica sobre os erros cometidos na luta opositora. Com humildade, ela reconhece que “cometemos muitos erros” e que é fundamental aprender com eles. A principal falha, segundo ela, foi “subestimar a crueldade e a falta de escrúpulos” tanto do regime de Chávez quanto do de Maduro. Machado destaca a sistemática provocação de confrontos, a expulsão de um terço da população, a fome imposta (inclusive às crianças), e o colapso do sistema educacional público, com escolas funcionando apenas dois dias por semana devido à remuneração ínfima dos professores. Ela lamenta ter subestimado um regime que visou destruir a sociedade para “se apoderar da riqueza do território venezuelano com fins criminosos”.
Com um histórico de protestos de rua, participação em eleições roubadas, chamados à abstenção e inúmeros “diálogos” nos quais o regime sempre descumpriu compromissos, Machado considera ter “percorrido todos esses caminhos”. Agora, o “próximo passo” que está sendo dado é o entendimento de que a libertação da Venezuela exige uma “coordenação de forças internas e externas”. Contra uma “estrutura criminosa” sustentada por “fluxos de dinheiro provenientes de suas atividades criminosas”, a estratégia é clara: “é preciso cortar esses fluxos”. Ela aponta para uma sociedade organizada, com “dezenas e dezenas de milhares de cidadãos comunicados subterraneamente, na clandestinidade”, necessitando que a comunidade internacional tome “passos firmes” para cessar os recursos utilizados pelo regime para corrupção e repressão. Machado expressa confiança de que essa ação está, finalmente, em curso.
O Apoio Externo e a Ação dos Estados Unidos
A discussão sobre o apoio externo para a mudança na Venezuela é um ponto crucial, especialmente diante das acusações do chavismo de um plano de invasão pelos EUA. Pesquisas recentes indicam que 44% dos venezuelanos apoiam uma eventual ação militar para “tirar Maduro”, contra apenas 7% que a rejeitariam, embora haja o reconhecimento de um medo de expressar essa opinião. María Corina Machado refuta a ideia de uma “invasão” iminente, argumentando que a Venezuela já sofre uma “invasão” de agentes cubanos, iranianos, chineses, russos, terroristas islâmicos e cartéis de drogas, que “assumiram o controle de boa parte do nosso território”. Para ela, o objetivo é uma “libertação”.

Imagem: bbc.com
Machado destaca que os venezuelanos já expressaram um mandato para a “mudança de regime” e que Maduro é um “criminoso”, líder de uma “estrutura criminosa” e “ilegitimo”, que se mantém no poder por meio de “terrorismo de Estado”, conforme a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e crimes contra a humanidade, apontados pela missão de apuração de fatos da ONU. Assim, a sociedade “anseia por liberdade” para uma transição ordenada que “claro que sabemos que precisamos de apoio externo”. A menção a uma posição “firme de liderança” do Reino Unido no Conselho de Segurança das Nações Unidas, defendendo que a única solução é uma transição que respeite a soberania popular de 28 de julho, reforça a tese de Machado de que agora a responsabilidade é de Maduro aceitar a negociação, pois ele “sairá do poder, seja qual for sua decisão”. A busca por justiça e democracia na Venezuela ecoa a defesa dos direitos humanos em outras nações, como pontuado pela organização global Comitê Norueguês do Nobel.
Relação com Donald Trump e Implicações
A aliança de María Corina Machado com Donald Trump tem sido alvo de críticas, especialmente considerando as ações do ex-presidente dos EUA, como ataques a barcos no Caribe (com mortes de venezuelanos) e o encerramento do programa TPS (Temporary Protected Status) para milhares de venezuelanos nos EUA. A líder opositora foi questionada sobre essa aparente contradição e sobre manter uma postura que não busca contrariar Trump. Em sua resposta, Machado foi enfática ao afirmar que há uma única explicação para tudo isso: “nós vamos libertar a Venezuela e oferecer proteção a todos os venezuelanos dentro do país.” Ela categoricamente atribui a culpa pela situação – incluindo os nove milhões de venezuelanos forçados a fugir – a “Nicolás Maduro e seu entorno, que nos declararam uma guerra aos venezuelanos”.
Machado sublinha a singularidade do caso venezuelano: não se trata apenas de cartéis de drogas infiltrando o poder, mas de “um cartel de drogas que tomou posse de todos os órgãos do Estado”, usando-os para subjugar, perseguir, torturar e assassinar a população, além de desestabilizar a região. Para ela, a Venezuela transformou-se no “hub do crime organizado mundial”. Dessa forma, o “responsável para que outros países ajam em defesa de sua segurança nacional” é, indiscutivelmente, Nicolás Maduro. Dirigindo-se aos opositores que rejeitam a ação dos EUA, Machado propõe que existem apenas duas posições: “Ou você está com o povo da Venezuela, que ordenou uma transição para a democracia, ou está com um cartel e com o crime que Maduro representa.” Ela alerta que a história e o próprio povo venezuelano farão seu julgamento sobre aqueles que se alinham à narrativa do regime.
Um Momento Histórico e Conversa com Trump
A confiança de María Corina Machado na iminente “liberdade para a Venezuela” não é gratuita. Em sua visão, a Venezuela vive um momento “sem precedentes”, diferentemente de 2017, quando Trump havia prometido que “todas as opções estavam sobre a mesa” e poucas mudanças ocorreram. Ela elenca fatores que tornam a situação atual distinta: “nunca a sociedade esteve tão unida, tão organizada.” Com uma “liderança legítima”, oposição “absolutamente articulada e unida”, e 90% da sociedade coesa – “sem diferenças religiosas, raciais, regionais, econômicas ou ideológicas” – todos com o mesmo objetivo, o cenário é de uma unidade nunca antes alcançada no país. Esse consenso é um “algo que nunca havíamos alcançado em nosso país e me custa ver outro caso semelhante no mundo hoje.”
Paralelamente, o regime de Maduro encontra-se “mais fraco do que nunca”, evidenciando “fissuras internas”, traições e o temor crescente entre seus membros de que “o tempo acabou”. Os “crimes” cometidos por Maduro e seu círculo criaram um “dossiê monumental” em posse de EUA, países europeus e latino-americanos. Machado faz um apelo para que esses governos democráticos “apliquem a lei”, tornando públicas as informações sobre crimes e “laranjas que viabilizaram o saque à Venezuela”. Ela clama para que o sistema financeiro desses países retire os “capitais de sangue” do regime, impedindo que sejam usados para “repressão, perseguição e terror”. O otimismo de Machado é palpável, sustentado pela crença de que esses passos estão sendo dados e que a liberdade está “muito próxima”. A recente conversa com o presidente Trump reforça essa percepção. Machado revelou ter expressado a ele “nossa gratidão e o quanto o povo venezuelano está agradecido pelo que ele está fazendo, não apenas nas Américas, mas em todo o mundo, pela paz, liberdade e democracia.”
O Futuro da Venezuela nas Mãos do Povo
Apesar da intensa atividade internacional e o apoio externo, María Corina Machado reitera que a solução para a Venezuela “jamais” estará unicamente nas mãos de outros. Pelo contrário, “se algo aprendemos, nós venezuelanos, é a corresponsabilidade”, afirma. Para ela, a chave está no povo, a “variável que sempre fica fora de todas as análises feitas sobre a Venezuela nos últimos anos.” Aqueles que consideravam impossível a realização de primárias cidadãs ou a derrota de Maduro em eleições fraudulentas, ou que agora prognosticam “o caos” após uma transição, estão enganados, pois “o caos são eles.” Machado destaca a ironia: em um país onde a população passa fome, sem escola ou remédios, é ilógico temer um caos ainda maior. “Essa tese de que a Venezuela mergulharia no caos é absolutamente falsa”, pois “a chave está no povo, que vai acompanhar o processo de transição.”
A líder opositora reconhece que o caminho será “muito difícil, duro, delicado e complexo” e que o regime “destruiu tudo”. Há incertezas sobre as reservas do país, o orçamento, a produção da PDVSA (a estatal petrolífera) e os gastos públicos, pois “tudo é obscuro”, uma “caixa preta, cheia de corrupção, crime e máfia.” No entanto, ela assegura uma “transição ordenada e pacífica, que é o que o povo determinou e que o povo vai garantir.” Sua mensagem a Maduro é direta: “Pela paz na Venezuela, vá embora agora mesmo. E pelo seu próprio bem, porque com ou sem negociação, Maduro vai sair do poder muito em breve.” Aos venezuelanos que ainda seguem o regime, seja por coerção ou ameaça, Machado envia uma mensagem de abertura: “estamos de braços abertos dizendo: ‘vamos reencontrar este país, como já reencontramos 90% dele’.” A vitória iminente será histórica não apenas para a Venezuela, mas para a humanidade, pois um povo, “enfrentando as armas mais violentas e cruéis, decidiu se organizar, resistir e avançar civicamente, acreditando em nossa força e em nossas ideias.” Para Machado, o impacto dessa força transcenderá fronteiras: “Quando Maduro cair, veremos como o regime cubano vai cair, como o regime da Nicarágua vai cair, e teremos toda a América livre da tirania, das ditaduras e do narcoterrorismo.”
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Em suma, o Prêmio Nobel da Paz a María Corina Machado representa um marco na incessante luta venezuelana pela democracia, reacendendo as esperanças e energizando o movimento opositor. A análise da líder ressalta a importância da unidade popular interna, a necessidade de cortar os fluxos financeiros que sustentam o regime criminoso de Maduro e o papel crucial do apoio internacional. Continue acompanhando as últimas notícias sobre política internacional e análises aprofundadas em nossa seção de Política para entender os desdobramentos desta e outras questões globais.
Crédito, Getty Images
Crédito, AFP via Getty Images
Crédito, TRUTH SOCIAL/Reuters
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