Marina Silva aborda impacto da postura dos EUA no clima

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A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, expressou profundas preocupações com os desdobramentos da postura ambiental adotada pela administração do ex-presidente norte-americano Donald Trump. Em entrevista exclusiva concedida em Nova York no domingo, 21 de setembro, Marina afirmou que, “se os Estados Unidos não fizerem sua parte, alguém vai ter que fazer”, em alusão à responsabilidade global no enfrentamento das alterações climáticas.

A declaração ocorreu a pouco mais de dois meses da realização da 30ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (COP 30), a ser sediada pelo Brasil. O foco da discussão é a importância da participação de todas as nações, especialmente as maiores emissoras de gases poluentes, para o sucesso dos acordos internacionais.

Marina Silva aborda impacto da postura dos EUA no clima

Para a ministra, a decisão dos Estados Unidos de se retirar do Acordo de Paris – considerado um marco crucial na agenda global para frear o aquecimento do planeta – gerou um impacto que não pode ser desconsiderado. Segundo Silva, a gestão Trump não apenas retirou o país do acordo, mas também cessou o envio de delegações para as negociações climáticas e incentivou a produção de combustíveis fósseis, enquanto ameaçava cortes em subsídios para produtos baseados em energias renováveis, como os carros elétricos.

Os Estados Unidos, como o segundo maior emissor global de gases de efeito estufa e uma potência econômica e tecnológica, têm uma influência gravitacional significativa. Marina Silva ressaltou que a inação norte-americana causa prejuízo não apenas à humanidade em geral, mas também aos próprios EUA, que são altamente impactados pelas mudanças climáticas, manifestadas por furacões intensificados e enchentes mais frequentes e severas.

Lançamento do Fundo Floresta Tropicais Para Sempre (TFFF) na ONU

A ministra integrava a delegação brasileira que acompanhava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cidade norte-americana, onde ele discursou na abertura da sessão de debates da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) na terça-feira, 23 de setembro. Entre os compromissos de Marina Silva na capital financeira, destacou-se o lançamento formal do Fundo Floresta Tropicais Para Sempre (TFFF, na sigla em inglês).

Este mecanismo financeiro inovador visa a captar US$ 120 bilhões em recursos públicos e privados. O montante será investido no mercado financeiro, e os rendimentos gerados, estimados em US$ 4 bilhões anuais, serão destinados a países que demonstrem proatividade na preservação e recuperação de suas florestas. Marina enfatizou que o TFFF difere dos modelos tradicionais de doação ao remunerar nações que já protegem suas áreas verdes, não apenas aquelas que buscam cessar o desmatamento.

O Brasil, segundo a ministra, está engajado na atração de parceiros históricos, como Reino Unido, Noruega e Alemanha, e permanece aberto ao diálogo com nações que, historicamente, adotaram uma postura negacionista em relação às questões climáticas. O convite para a COP 30 foi estendido a todos os países, incluindo os Estados Unidos, com a abertura do TFFF à cooperação global, dado seu caráter de investimento e não de doação.

Contradições na Política Climática Brasileira e Global

Durante a entrevista, Marina Silva abordou também questões domésticas, como a aposta do governo Lula na exploração de petróleo, apesar das críticas da comunidade científica. Ela reconheceu que o mundo vive uma contradição inerente à emergência climática e à dependência de combustíveis fósseis. No entanto, salientou o diferencial brasileiro: uma matriz energética 45% limpa e uma matriz elétrica 90% limpa, além do compromisso de desmatamento zero até 2030.

Marina Silva aborda impacto da postura dos EUA no clima - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

A ministra, ao mesmo tempo em que defendeu a necessidade de uma transição justa e planejada para o fim dos combustíveis fósseis, apoiada em grandes investimentos em energias eólica, solar, biomassa, hidreletricidade e hidrogênio verde, também defendeu uma visão para a Petrobras não ser apenas uma empresa exploradora de petróleo, mas uma geradora de energia. Afirmou que o país tem o potencial para se tornar um grande fornecedor de energia limpa e um destino para investimentos verdes, como na indústria de veículos elétricos.

Desafios da COP 30 e o Ritmo das NDCs

Sobre a organização da COP 30, a ministra expressou otimismo, embora reconhecendo que as questões logísticas têm dominado o debate. Preços abusivos de hospedagens e atrasos em obras de infraestrutura em Belém, no Pará, têm causado preocupações, mas o governo está empenhado em solucionar esses gargalos para que o foco possa ser redirecionado para o conteúdo das negociações climáticas.

Marina Silva também manifestou preocupação com a lentidão na apresentação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), metas para a redução de emissões de gases de efeito estufa. O prazo inicial de fevereiro foi estendido para o final de setembro, mas até a data da entrevista, apenas 37 países haviam submetido suas NDCs. A União Europeia, embora vista como líder histórica na agenda climática, ainda não havia detalhado suas metas, gerando expectativas e, ao mesmo tempo, certa apreensão.

Para Marina, o grande sucesso da COP 30 será o estabelecimento de um “mapa do caminho” para a transição justa e planejada do fim dos combustíveis fósseis. Isso significa combater a causa das mudanças climáticas – as emissões de CO2 por desmatamento, carvão, petróleo e gás natural – em vez de apenas tratar os sintomas como secas e inundações. A cooperação entre as nações, baseada em confiança e não em cobranças mútuas, será fundamental para que o Brasil, presidindo a COP, possa estimular um esforço coletivo mais ambicioso.

As discussões levantadas por Marina Silva evidenciam a complexidade e a urgência da crise climática global, destacando a necessidade de liderança, compromisso e inovação no financiamento e na transição energética. Para aprofundar seu conhecimento sobre o papel do Brasil nas pautas internacionais e os desafios da política ambiental, continue acompanhando a editoria de política de nosso portal.
Crédito, Giulia Granchi/BBC News Brasil


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