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As negociações entre o Brasil e os Estados Unidos ganham um novo capítulo com a confirmação de uma reunião de alto nível. Nesta quinta-feira, 9 de outubro, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado americano, Marco Rubio, conversaram por telefone. Este diálogo crucial representa uma continuidade das discussões iniciadas no dia 6 de outubro, quando os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump se encontraram para um primeiro contato após tensões recentes. A expectativa é de que este encontro pave o caminho para o aprofundamento da agenda bilateral entre as duas nações.
O telefonema entre os chanceleres, informado pelo Itamaraty, segue-se a um “diálogo muito positivo sobre a agenda bilateral” entre as equipes dos dois países. Como resultado dessa conversa inicial, Vieira e Rubio definiram que suas equipes de governo se encontrarão em Washington em um futuro próximo, ainda sem data específica. O principal objetivo será dar seguimento às discussões sobre questões econômico-comerciais, pautas definidas anteriormente pelos presidentes. Este desdobramento sublinha a urgência e a importância que ambas as administrações atribuem à normalização e ao fortalecimento de seus laços comerciais.
Mauro Vieira e Marco Rubio Acordam Reunião Pós-Lula/Trump
Adicionalmente, Marco Rubio estendeu um convite formal ao chanceler brasileiro, Mauro Vieira, para integrar a delegação que irá aos EUA. Esta iniciativa visa possibilitar um encontro presencial entre os dois diplomatas, crucial para tratar pessoalmente dos temas prioritários na relação Brasil-Estados Unidos. A inclusão de Vieira na delegação sugere um esforço por parte da administração americana em garantir a participação ativa e de alto escalão do Brasil nessas conversações decisivas, sinalizando um “outro momento” nas negociações, como ressaltou o presidente Lula.
O presidente Lula, em declaração à rádio Piatã, expressou otimismo sobre o futuro das relações bilaterais após a conversa entre Vieira e Rubio. “Ainda ontem o secretário de Estado Marco Rubio ligou para o meu ministro Mauro Vieira, talvez comece a ter conversa a partir de agora. Vamos ver se a gente consegue se acertar. O Brasil não quer briga com os EUA”, afirmou o presidente brasileiro. Esta posição de Lula reflete o desejo do Brasil de buscar soluções diplomáticas e construtivas para os desafios enfrentados, incluindo as tarifas comerciais.
As tratativas diplomáticas foram precedidas por um contato direto entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira conversa entre ambos desde que os Estados Unidos anunciaram a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Essa medida tarifária, em particular, foi uma resposta dos EUA ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. O encontro, uma videoconferência de cerca de 30 minutos na segunda-feira, 6 de outubro, foi descrito como “uma ótima conversa” por Trump em sua rede social, e como tendo um “tom amistoso”, conforme nota do Planalto.
Durante o diálogo, o presidente Lula aproveitou para solicitar a Trump a remoção da tarifa de 40% (mencionado no artigo) imposta aos produtos brasileiros. Além disso, pediu a suspensão das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras, incluindo a cassação de vistos e a imposição de sanções financeiras direcionadas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A iniciativa brasileira visa desobstruir os entraves que têm pesado nas relações comerciais e diplomáticas entre os países.
Lula, demonstrando surpresa com a cordialidade de Trump durante a conversa, reiterou a importância de um relacionamento direto e civilizado entre líderes. “Ele me telefonou e eu estava na expectativa que teria muito discussão. Ele me ligou da forma mais gentil que um ser humano pode lidar com o outro, eu tratando ele de forma civilizada e ele me tratando de forma civilizada”, relatou Lula. Ele propôs uma abordagem mais informal, sem “liturgia”, dada a experiência e o status de ambos como líderes das maiores democracias do ocidente, com o objetivo de projetar harmonia para o resto do mundo.
Foi nessa conversa presidencial que Donald Trump designou Marco Rubio para prosseguir com as negociações. O secretário de Estado americano foi encarregado de dialogar com uma equipe brasileira composta pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Contudo, fontes próximas à negociação revelam que o governo brasileiro manifestava uma preferência por um interlocutor diferente do lado americano, levantando questões sobre a facilidade das tratativas futuras com Marco Rubio. Para mais informações sobre a diplomacia brasileira, visite o site do Itamaraty.
Ainda assim, conforme uma fonte governamental próxima ao presidente Lula, o impacto da designação de Rubio como principal negociador das tarifas está sob análise da equipe liderada por Alckmin. Há um reconhecimento de que Marco Rubio é visto como integrante da chamada ala “ideológica” do governo Trump. Por outro lado, para o Brasil, ter um negociador diretamente ligado e com aval de Trump pode ser estratégico, evitando discussões com alguém sem a mesma capacidade de interlocução direta com o presidente americano.
Em entrevista à TV Mirante, no Maranhão, na terça-feira (7/10), o presidente Lula fez um apelo para que Rubio se aproxime das discussões com o Brasil “sem preconceito”. “Pedi a ele [Trump] para dizer ao Marco Rubio conversar com o Brasil sem preconceito, porque, pelas entrevistas que ele deu, há um certo desconhecimento da realidade do Brasil”, declarou o presidente. Essa ressalva evidencia as preocupações brasileiras em relação à percepção e postura de Rubio em face da política externa brasileira.

Imagem: bbc.com
Rubio: Um “Caminho Mais Difícil” para o Brasil
A indicação de Marco Rubio como provável líder das negociações com o Brasil é vista como um movimento delicado por analistas. Enquanto aliados do ex-presidente Bolsonaro celebram, analistas como o brasilianista Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly, veem-no como um “caminho mais difícil” para o Brasil. Em publicação na rede social X (antigo Twitter), Winter apontou que Rubio é um cético de longa data em relação a Lula e poderia impor demandas relativas à Venezuela, China, entre outras pautas, complicando a dinâmica das conversações sobre questões econômico-comerciais e outros pontos da relação Brasil-Estados Unidos.
Essa percepção foi ecoada por Paulo Figueiredo, empresário e aliado de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que classificou a escolha de Rubio como “zero de avanço”. Figueiredo e Eduardo foram recentemente denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por coação no curso de processo, acusados de articular sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras com o intuito de influenciar o julgamento de Jair Bolsonaro por golpe de Estado. A polarização em torno da figura de Rubio reflete-se, inclusive, entre os legisladores brasileiros. O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) expressou no X que Rubio “seguirá a carta do Trump: normalidade democrática, acabar com censura e perseguição política, eleições livre e deixem Bolsonaro em paz”. Ramagem também está sob pena, recebendo uma condenação de 16 anos e 1 mês, enquanto Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de pena pelo Supremo por golpe de Estado.
Analistas como Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional e Comparada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), observam que a aproximação inicial entre Trump e Lula na Assembleia Geral da ONU forçou os bolsonaristas a reavaliar suas posições. A ideia de que a direita detinha o monopólio de acesso ao governo Trump foi desmistificada, abrindo um novo panorama para a diplomacia entre as duas nações.
O Perfil de Marco Rubio
Marco Rubio tem se destacado como um dos principais articuladores das sanções contra o Brasil. Além do tarifaço, ele também liderou ações para a revogação de vistos de autoridades brasileiras e posicionou-se firmemente contra o Programa Mais Médicos, que contou com participação maciça de médicos cubanos durante a gestão Dilma Rousseff. Nascido em Miami em 1971, filho de imigrantes cubanos, Rubio ascendeu à posição de Secretário de Estado em novembro do ano passado, sob a nomeação de Trump, tornando-se a pessoa de origem latino-americana a ocupar o cargo mais importante no governo dos Estados Unidos na história. O senador republicano é conhecido por sua postura linha-dura em relação a Israel e em oposição a Cuba, China, Irã, Venezuela e Nicarágua. Ao aceitar o cargo, prometeu que os EUA promoverão “a paz através da força”.
No contexto da condenação de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, Rubio prometeu uma “resposta à altura”. Em uma postagem no X, ele reiterou a retórica de Donald Trump, classificando o processo contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas”. “As perseguições políticas pelo violador de direitos humanos e alvo de sanções Alexandre de Moraes continuam, enquanto ele e outros no Supremo Tribunal do Brasil decidiram injustamente prender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os Estados Unidos darão resposta à altura a essa caça às bruxas”, afirmou Rubio.
Em resposta à declaração de Rubio, o Itamaraty publicou uma nota reafirmando que “ameaças não intimidarão” a democracia brasileira, sublinhando a soberania nacional. Dias depois, Rubio voltou a elevar o tom, sugerindo novas medidas contra o Brasil. Ele argumentou que “o Estado de Direito está se rompendo” no país, citando a atuação de “juízes ativistas” – em clara alusão a Alexandre de Moraes – que “não apenas foi atrás de Bolsonaro, como tentou exercer reivindicações extraterritoriais até mesmo contra cidadãos americanos ou contra alguém que posta online a partir dos Estados Unidos”. O Secretário de Estado prometeu “anúncios na próxima semana ou mais sobre quais passos adicionais pretendemos tomar”, finalizando que a condenação de Bolsonaro seria “apenas mais um capítulo de uma crescente campanha de opressão judicial que tentou atingir empresas americanas e até pessoas que operam a partir dos Estados Unidos”.
Uma semana após estas declarações, Viviane Barci de Moraes, advogada e esposa do ministro Alexandre de Moraes, foi incluída na Lei Magnitsky. Este é um desdobramento que acende o debate sobre as ramificações e a complexidade das relações entre os Estados Unidos e o Brasil, especialmente diante dos eventos políticos internos em ambos os países.
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O diálogo entre Mauro Vieira e Marco Rubio é um ponto-chave na intrincada rede de relações entre Brasil e Estados Unidos, marcando um momento de tentativa de normalização após períodos de tensão. A agenda bilateral, com foco nas questões econômico-comerciais, visa reequilibrar a balança e estabelecer um caminho para uma cooperação mais harmoniosa, apesar dos desafios e percepções ideológicas divergentes. Acompanhe a nossa editoria de Política para todas as atualizações e análises aprofundadas sobre este e outros temas importantes no cenário internacional.
Crédito, AFP/Getty Images
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