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Os Meta Ray-Ban Display, lançados em 18 de outubro de 2025, apresentam uma visão do futuro da computação móvel que é simultaneamente fascinante e perturbadora, suscitando uma série de questionamentos sobre os rumos da interação humana com a tecnologia. Estes óculos de primeira geração prometem revolucionar a forma como interagimos com o mundo digital, ao mesmo tempo em que desafiam conceitos fundamentais de privacidade e percepção social.
A experiência inicial da repórter Victoria Song, veterana na cobertura de tecnologia vestível, revelou tanto o potencial quanto as frustrações do dispositivo. Durante um evento barulhento de entusiastas de carros em upstate Nova York, a tentativa de identificar modelos como uma Ferrari acabou em erro da inteligência artificial dos óculos, que a confundiu com um Chevrolet Corvette. Além disso, problemas de conexão à internet e bateria fraca sinalizavam que, embora inovadora, a tecnologia ainda estava em seus estágios iniciais, custando a partir de US$799. Apesar dos percalços, a capacidade de capturar fotos e vídeos, além de verificar um Reel do Instagram rapidamente antes de guardá-los, demonstra um vislumbre das conveniências que estes smart glasses podem oferecer.
Meta Ray-Ban Display: O futuro que encanta e assusta
No uso cotidiano, o aparelho evoca uma sensação de magia em breves momentos de funcionamento ideal, que rapidamente dá lugar às peculiaridades inerentes a um dispositivo de primeira geração, e com a chancela da Meta. Não se trata da realidade aumentada complexa vista em filmes de ficção científica, mas sim de uma tela diminuta na lente direita que serve para tarefas básicas, comparável a uma tela de smartwatch diretamente em frente ao olho do usuário.
O hardware principal consiste nos óculos Meta Ray-Ban Display e na Neural Band, uma pulseira discreta que funciona como controle remoto de alta tecnologia. Sem tela ou sensores de saúde, a Neural Band permite controlar o display através de gestos simples, como beliscar, deslizar o polegar ou girar o pulso, provando ser uma interface versátil para as funcionalidades dos óculos.
Em comparação com os modelos anteriores de áudio dos Ray-Ban Meta, o display expande as capacidades, permitindo responder a mensagens de texto, visualizar Instagram Reels, enquadrar fotos e vídeos, legendas e traduções de conversas em tempo real, e direções de caminhada com visualização de mapas. A interação com a Meta AI também é aprimorada com a exibição de cartões informativos.
A aplicação da tecnologia demonstrou seu valor em contextos específicos. A funcionalidade de legendagem ao vivo, por exemplo, revelou-se extremamente útil durante gravações de podcasts e em conversas um-a-um em ambientes barulhentos, apesar de suas falhas com gírias ou nomes incomuns e a necessidade de manter contato visual direto com o interlocutor. Testes com familiares revelaram o grande potencial dos óculos para auxiliar pessoas com deficiência auditiva, gerando entusiasmo, embora o preço possa ser uma barreira. A navegação por GPS sem a necessidade de olhar para um smartphone também foi apontada como um benefício notável, assim como a capacidade de registrar momentos triviais, como vídeos de pets com zoom.
Contudo, a ilusão de “magia” cede lugar à realidade das limitações técnicas. A tela, pequena e limitada à lente direita, apresenta 600 x 600 pixels de resolução, taxa de atualização de 90Hz (30Hz para conteúdo) e 305.000 nits de brilho. Embora projetada para não ser percebida por outros, sob certas condições, as guias de onda ópticas podem se tornar visíveis. O uso prolongado pode causar cansaço visual e, para solucionar a fadiga, protótipos mais avançados com displays duplos teriam um custo de produção de US$10.000. O suporte a prescrições óticas é restrito, de -4.00 a +4.00, o que inviabiliza o uso para pessoas com astigmatismo severo, ou com baixa visão/cegueira no olho direito, exigindo o uso de lentes de contato para muitos usuários.
O conforto e a autonomia também são pontos críticos. Com 69 gramas, os óculos são significativamente mais pesados que modelos convencionais (cerca de 31 gramas), causando desconforto, dores de cabeça e marcas no rosto após poucas horas de uso. A bateria dos óculos oferece aproximadamente seis horas de uso misto, caindo para três e meia a quatro horas sob uso intenso. Embora a Neural Band tenha uma bateria de 18 horas e o estojo dos óculos proporcione quatro cargas extras, a necessidade de carregar dois dispositivos distintos com carregadores proprietários adiciona complexidade ao cotidiano.

Imagem: Victoria SongCloseVictoria SongSenior Re via theverge.com
Em termos de design, o Meta Ray-Ban Display, embora impressionante como peça de engenharia ao assemelhar-se a um Ray-Ban de tamanho generoso, não se adapta bem a todos os tipos de rosto. Além disso, a limitada oferta de um único estilo e apenas duas cores contrasta com a variedade dos modelos de áudio. O ecossistema de software é outra fonte de frustração. Sem uma loja de aplicativos robusta e com integrações limitadas de terceiros, o dispositivo privilegia as aplicações da Meta (WhatsApp, Messenger, DMs do Instagram), negligenciando outros serviços populares e funcionalidades como um navegador, que se mostra crucial para a maioria dos usuários que recebem links via mensagem. Essa limitação acaba por forçar os usuários a dependerem de seus smartphones, indo contra o propósito de maior autonomia.
As preocupações com a privacidade são talvez o aspecto mais sombrio da tecnologia. A reputação da Meta e suas recentes decisões, como a remoção da opção de desabilitar o armazenamento de gravações de voz na nuvem, amplificam a desconfiança. Casos reais, como o de filmagem de estudantes na Universidade de São Francisco, uma esteticista usando os óculos durante um serviço íntimo, e a aplicação de software de reconhecimento facial para “doxear” estranhos, ilustram o potencial de uso indevido. A resposta da Meta, focada em uma “luz indicadora de gravação” facilmente ignorada e um guia de etiqueta simplório (“não seja um idiota!”), é considerada insuficiente para lidar proativamente com essas questões complexas. Enquanto comunidades de pessoas com deficiência expressam esperança nas potencialidades de acessibilidade da tecnologia, a necessidade de “comprometer-se” com a reputação de privacidade da Meta é vista como um dilema.
As implicações culturais da chegada dos smart glasses são profundas e complexas. A experiência de interagir com alguém que parece presente, mas está de fato engajado com uma interface oculta, é perturbadora. A ideia de que, em um futuro próximo, se possa assistir a um jogo de futebol enquanto se janta em família, receber mensagens de trabalho direto no campo de visão, ou até mesmo observar um candidato político respondendo a prompts de uma IA durante um debate, levanta questões sérias sobre autenticidade e a natureza das relações sociais. Embora os Meta Ray-Ban Display ainda não atinjam esse nível, eles oferecem um vislumbre assustador de uma realidade que, com a entrada de Google, Samsung e Apple no mercado de smart glasses, parece inevitavelmente se aproximar. O mercado de realidade aumentada e virtual enfrenta desafios significativos que demandam um diálogo aprofundado sobre como essa tecnologia irá redefinir nossa cultura.
O uso dos Meta Ray-Ban Display também exige a concordância com uma miríade de termos e condições, desde os obrigatórios para a conta Meta e o aplicativo Meta AI, até os suplementares e opcionais para integração com serviços de terceiros e compartilhamento de dados de voz ou prescrição. Essa complexidade ressalta a sobrecarga informacional imposta aos usuários, que geralmente aceitam esses contratos sem uma leitura e compreensão adequadas.
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Em suma, os Meta Ray-Ban Display marcam o início de um novo e desconhecido capítulo na era dos smart glasses, portando um potencial que pode ser tanto incrivelmente inovador quanto distópico. É fundamental que, em vez de focar apenas nas capacidades tecnológicas, se estabeleça um diálogo sóbrio e contínuo sobre como esta tecnologia pode, e provavelmente irá, remodelar a cultura e a sociedade. Para mais análises aprofundadas sobre tecnologia e seus impactos, convidamos você a explorar outras notícias em nossa editoria de Análises.
Crédito da imagem: Amelia Holowaty Krales / The Verge
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