Militares em Madagascar Assumem Poder Após Impeachment

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Militares em Madagascar declararam nesta terça-feira (14/10) ter assumido o poder, culminando em semanas de instabilidade e na destituição do presidente Andry Rajoelina. A unidade militar de elite, conhecida como CAPSAT, fez o anúncio através da rádio nacional, enquanto o país, localizado na costa sudeste da África, enfrentava uma onda de protestos contra o governo. Parlamentares da Assembleia Nacional já haviam votado pelo impeachment de Rajoelina na manhã do mesmo dia.

O coronel Michael Randrianirina, à frente da CAPSAT, foi o responsável por ler o comunicado oficial que sentenciou: “Assumimos o poder”. A ação da unidade, inicialmente criada para prover serviços administrativos e técnicos às Forças Armadas, ganhou proeminência política e militar ao longo dos anos, com seu papel se intensificando na crise recente.

Desde o final de semana anterior, a CAPSAT desafiou a autoridade presidencial ao unir forças com manifestantes que exigiam a renúncia de Rajoelina, que foi reeleito em 2018 e novamente em 2023, embora em eleições contestadas pela oposição.

Militares em Madagascar Assumem Poder Após Impeachment

Essa aliança sinalizou um ponto de inflexão na crise. O paradeiro do presidente deposto Andry Rajoelina permaneceu incerto após a noite de segunda-feira (13/10), quando ele realizou uma transmissão ao vivo via Facebook, assegurando estar em um “local seguro”. Após a declaração da tomada de poder, o coronel Randrianirina informou que a CAPSAT formaria um comitê. Este comitê será composto por oficiais do Exército, da Gendarmaria e da Polícia Nacional, e existe a possibilidade de inclusão de conselheiros civis de alto nível em um estágio posterior.

“É esse comitê que exercerá as funções da Presidência”, afirmou Randrianirina, conforme noticiado pela agência AFP, complementando que um “governo civil” seria formado após alguns dias. Em meio a estas declarações, um general das Forças Armadas assegurou que os serviços de segurança estavam colaborando para manter a ordem pública em Madagascar.

A crise legislativa que culminou no impeachment teve seu auge na segunda-feira, quando o presidente Rajoelina tentou barrar o processo ao emitir um decreto dissolvendo a Assembleia Nacional. Naquele momento, parlamentares se preparavam para votar sua destituição por “abandono de dever”, de acordo com a AFP. No dia seguinte, o Parlamento, em sessão extraordinária, declarou “a ausência de poder em Madagascar”, reforçando o cenário de vácuo governamental. O ex-presidente Marc Ravalomanana, que perdeu o poder para Rajoelina em 2009, descreveu a situação como um “vazio de poder”, enfatizando a necessidade de uma “transição pacífica, inclusiva e responsável”, e não de vingança ou confusão.

O presidente Rajoelina, por sua vez, classificou a votação de impeachment como “nula e sem efeito”, rejeitando a legitimidade da decisão.

A repercussão internacional foi imediata. A União Africana, em pronunciamento, instou os militares a “abster-se de interferir” nos assuntos políticos de Madagascar e “rejeitou totalmente qualquer tentativa de mudança inconstitucional de governo”. O Conselho de Paz e Segurança da organização, monitorando os acontecimentos com “profunda preocupação”, realizou uma reunião de emergência. Antes mesmo do anúncio dos militares, o presidente francês, Emmanuel Macron, já havia qualificado a situação em Madagascar como “extremamente preocupante”, recusando-se, contudo, a comentar boatos sobre a evacuação de Rajoelina por militares franceses. Manifestantes em Madagascar chegaram a exibir faixas com as mensagens “Fora Rajoelina e Macron”, refletindo o sentimento anticolonial, dado que Madagascar foi colônia francesa até 1960. A França, por sua vez, mantém laços de cooperação e considera o país um parceiro estratégico no Oceano Índico.

Militares em Madagascar Assumem Poder Após Impeachment - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Quem é Andry Rajoelina, o Presidente Destituído?

Andry Rajoelina, empresário e ex-DJ, possui uma trajetória política controversa, marcada por idas e vindas no comando de Madagascar desde 2009. Naquele ano, ele ascendeu ao poder ao depor Marc Ravalomanana em um golpe militar, tornando-se, aos 34 anos, o líder mais jovem da África. Após quatro anos de governo, ele retornou à presidência depois de vencer as eleições de 2018. Antes de entrar na política, Rajoelina administrava diversos negócios e foi eleito prefeito da capital, Antananarivo, em 2007. Sua popularidade cresceu devido ao estilo enérgico e campanhas políticas elaboradas. Após reeleições em 2018 e 2023 – esta última boicotada pela oposição e marcada por contestações –, a imagem de Rajoelina começou a se deteriorar devido a acusações de clientelismo e uma corrupção endêmica que assola o país.

As Razões dos Protestos Contra Rajoelina

Os protestos que antecederam a tomada de poder em Madagascar ganharam força há pouco mais de duas semanas, liderados por um movimento juvenil que inicialmente se manifestava contra os cortes crônicos de água e energia elétrica. As queixas rapidamente se expandiram para incluir o alto custo de vida e os recorrentes pedidos pela renúncia do então presidente Rajoelina. A tensão aumentou significativamente com a prisão, em 19 de setembro, de dois importantes políticos da capital que organizavam uma manifestação pacífica em Antananarivo contra os apagões e a escassez de água, problemas crônicos enfrentados pela estatal Jirama.

No sábado (11/10), tropas da CAPSAT deixaram surpreendentemente seus quartéis para se juntar aos manifestantes, o que representou um forte indicativo de desestabilização. Dois dias depois, especulações não confirmadas indicavam que Rajoelina poderia ter sido evacuado por militares franceses e possivelmente levado a Dubai. Esta onda de protestos é considerada a mais significativa em mais de 15 anos na nação insular do Oceano Índico.

A ONU reportou que ao menos 22 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas durante os distúrbios, embora o governo malgaxe conteste esses números, alegando que se baseiam em “rumores e desinformação”. Muitos cidadãos viram as prisões como uma tentativa de silenciar críticas legítimas, resultando em grande indignação popular e no surgimento do movimento online juvenil Gen Z Mada, apoiado por diversas organizações da sociedade civil. Madagascar é um dos países mais pobres do mundo, com dados do Banco Mundial indicando que 75% da população vive abaixo da linha da pobreza. Apenas um terço dos 30 milhões de habitantes tem acesso à eletricidade, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Um manifestante expressou o sentimento geral à AFP, dizendo: “As condições de vida do povo estão se deteriorando a cada dia.”

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Em resumo, a tomada de poder pelos militares em Madagascar, liderados pela CAPSAT, após o impeachment e uma onda de protestos contra o governo de Andry Rajoelina, marca um novo capítulo na instável história política da ilha. A comunidade internacional monitora de perto, enquanto o comitê provisório planeja formar um governo civil em meio a tensões. Para aprofundar seu entendimento sobre crises políticas e suas implicações socioeconômicas, convidamos você a explorar mais conteúdo em nossa seção de Política.

Crédito, REUTERS/Zo Andrianjafy


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