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O movimento populacional em Israel registrou padrões divergentes após os ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e a subsequente guerra em Gaza. Enquanto uma família israelense tomou a decisão de deixar o país, outra família judia que vivia no exterior optou por se mudar para Israel, motivada em parte pelo crescente antissemitismo.
Essas trajetórias espelham um cenário onde, segundo o Escritório Central de Estatísticas de Israel, o número de indivíduos deixando o país tem superado o de recém-chegados. Esta inversão de fluxos migratórios é um indicativo do profundo impacto social e psicológico do conflito.
Movimento Populacional Israel: Famílias Após Ataques
Em Ramla, no centro de Israel, a família Avidan – Nofar, 39, e Eyal, seu marido – preparava-se para uma realocação para Ottawa, no Canadá. Seus pertences eram cuidadosamente embalados, com destino transcontinental. Nofar Avidan, uma professora de inglês, ressalta que a ideia de viver fora já existia antes dos ataques de 2023, mas os eventos de 7 de outubro e a escalada do conflito apenas consolidaram a convicção de que era o momento certo para uma mudança. Para ela, “realocação” é um termo preferível a “deixar”, denotando a possibilidade de retorno sem romper totalmente os laços com sua terra natal.
“Desejamos algo diferente para nossa família, para Shina [a filha de sete meses]”, declara Nofar, explicando que a busca por uma vida mais tranquila, fora do cenário de conflitos, é o principal impulsionador. Eyal, um advogado, complementa, afirmando que a família anseia por uma vida serena. A escolha do Canadá foi facilitada pela presença de amigos e pela não necessidade de aprender um novo idioma.
Preocupações com a Sociedade Israelense e Custo de Vida
A professora expressa preocupação com o futuro da filha em Israel, afirmando ser uma judia e sionista orgulhosa, mas desejando que sua filha seja “definida como pessoa” e não apenas como judia. Ela acredita que o Canadá oferecerá maiores oportunidades de igualdade, criticando a percepção de que, em Israel, os ultraortodoxos recebem atenção prioritária do governo. “Os políticos em Israel não apoiam as pessoas trabalhadoras que contribuem para a economia. Somos a maioria, e nos sentimos ignorados, invisíveis”, denuncia, em uma clara alusão à administração de coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, conhecida por sua orientação religiosa e linha-dura.
Nofar detalha as dificuldades enfrentadas no cotidiano, como a constante ameaça de ataques de foguetes, que a obriga a se refugiar com frequência. Para ela, “criar filhos aqui, em meio a uma guerra sem fim à vista, não é normal”, citando a dor e a tristeza prevalentes no ambiente.
Eyal também compartilha do receio de que a sociedade israelense se torne cada vez mais violenta, percepção que, segundo ele, foi intensificada pela guerra. Estatísticas do Escritório Central de Estatísticas de Israel (CBS) corroboram um aumento de 22% nas mortes no trânsito em 2024, comparado a 2023. O Jerusalem Centre for Security and Foreign Affairs (JCSFA) observou um profundo impacto emocional e comportamental na sociedade. Além disso, a flexibilização do porte de armas, acelerada pelo ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, tem gerado mais de 400 mil solicitações, com preocupações sobre o potencial aumento da violência armada nas ruas.
O fator econômico também pesa na decisão da família Avidan. Eles citam o encarecimento do custo de vida e o aumento dos impostos desde o início da guerra. Embora a questão do custo de vida seja global, um relatório de abril da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou que o nível comparativo de preços em Israel está entre os mais altos da organização. Em janeiro de 2025, o IVA está programado para subir de 17% para 18%, e funcionários do setor público enfrentam uma redução temporária nos salários.
Danny Scherer, da empresa de mudanças que atende os Avidan, revelou um aumento nas partidas de Israel mesmo antes de outubro de 2023, atribuindo-o à crise da reforma judicial. Ele estima que sua empresa passou de 400 mudanças anuais em 2022 para mais de 700 em meados de 2023, com profissionais preferindo destinos como Austrália, Nova Zelândia e Canadá.

Imagem: bbc.com
Os dados gerais do CBS confirmam a tendência de saída: 82,7 mil cidadãos israelenses deixaram o país entre 2023 e 2024, enquanto apenas 60 mil chegaram. O professor Sergio Della Pergola, especialista em demografia judaica, destaca que é apenas a terceira vez na história de Israel (desde 1948) que o número de emigrantes supera o de imigrantes, com as ocorrências anteriores relacionadas principalmente a fatores econômicos. Atualmente, a combinação de segurança, guerra e economia configura um cenário mais complexo.
A Imigração em Meio ao Conflito: O Lado Oposto do Movimento Populacional Israel
Em contraste, o casal ultraortodoxo Simha e Meir Dahan, sefarditas do Reino Unido, mudou-se para Ashkelon, a aproximadamente 20 km de Gaza, em agosto de 2024. Simha, que se mudou da França para o Reino Unido em 1992, casou-se com Meir, marroquino que estudou em uma yeshivá em Manchester. Ele atua como açougueiro kosher e aguarda licença para trabalhar em Israel, enquanto ela espera retomar a função de doula.
A motivação para a Aliá (imigração de judeus para Israel) sempre existiu, mas o aumento do antissemitismo, particularmente acentuado após 7 de outubro, catalisou a decisão. Simha relata o temor que permeava a comunidade judaica em Manchester, onde homens pararam de usar o quipá e a segurança em público diminuiu. Eventos como cartazes “Free Palestine” e um ataque fatal a uma sinagoga em Manchester, no Yom Kipur, foram decisivos para a família Dahan, que passou a ver Israel como um santuário de segurança e proteção para os judeus.
Questionada sobre viver em um país em guerra, Simha demonstra uma convicção inabalável. Apesar de sua nova casa estar a poucos quilômetros de Gaza, área alvo de constantes ataques, ela afirma não sentir medo e se sentir segura em Israel. “Quando a sirene avisa sobre um ataque de foguete, pegamos água, vamos para o abrigo… e saímos quando o alarme termina”, descreve a rotina. Ela manifesta sentir-se em dívida com Israel, aceitando inclusive a possibilidade de suas filhas serem convocadas para o serviço militar, visto como parte da conexão com a identidade judaica.
Embora Simha admita sentir falta de amigos e familiares em Manchester, ela e Meir não demonstram arrependimentos pela escolha de viver em Israel, reafirmando que esta é sua conexão com a identidade judaica. Este contraste de experiências ilumina a complexa dinâmica do movimento populacional em Israel em um período de intensa turbulência e busca por segurança, identidade e um futuro mais promissor.
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As decisões dessas famílias — de permanecer ou de se afastar de Israel — sublinham os profundos dilemas pessoais e sociais decorrentes do conflito na região. Compreender esses movimentos populacionais é crucial para analisar os desdobramentos de um cenário geopolítico complexo. Continue explorando nossas análises sobre o tema na editoria de Política para mais informações sobre os acontecimentos em Israel e seu impacto global.
Crédito, Reuters/Phil Noble
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