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Mulheres estão confrontando a Meta por anúncios de gravidez intrusivos e insensíveis, expondo a falha dos algoritmos em reconhecer a perda gestacional. Relatos de mulheres que experienciaram abortos espontâneos ou nascimentos sem vida, e que continuaram a ser bombardeadas com publicidade de bebês e maternidade, trouxeram à tona uma discussão urgente sobre ética na publicidade digital e o impacto na saúde mental dos usuários.
Perguntas como “Qual o tamanho do meu bebê com seis semanas?” ou “Quando agendar a primeira consulta?” são rotineiras para mulheres recém-grávidas. Esses questionamentos, digitados em mecanismos de busca, rapidamente alertam algoritmos, resultando em um fluxo incessante de anúncios direcionados. No entanto, quando uma gravidez é interrompida por uma perda, esse bombardeio publicitário, em vez de cessar, pode se intensificar, causando profundo sofrimento.
Mulheres Desafiam Meta Após Anúncios de Perda Gestacional
Sammi Claxon, de Nottinghamshire, na Inglaterra, vivenciou essa realidade devastadora. Após seu primeiro aborto espontâneo em 2021, Sammi enfrentou mais quatro perdas nos três anos seguintes. Ela descreve a dor de ter um “plano para o futuro na cabeça” que lhe é tirado abruptamente, sentindo-se “horrível” e isolada pela vergonha. Ao buscar apoio nas redes sociais, o feed de Sammi continuava a exibir anúncios relacionados a bebês, o que a levou a se afastar das plataformas para preservar sua saúde mental.
A discussão ganhou força com a ação judicial de Tanya O’Carroll. Em 2017, Tanya foi impactada por anúncios direcionados do Facebook logo após descobrir que estava grávida, antes mesmo de compartilhar a notícia com sua família. Sua ação, que se desdobrou até março (referente ao ano anterior à publicação original, 2023), argumentou que o sistema de publicidade direcionada do Facebook se enquadrava na definição de marketing direto do Reino Unido, concedendo aos indivíduos o direito de objeção.
A Meta, conglomerado que detém Facebook e Instagram, havia alegado que os anúncios eram direcionados a grupos de, no mínimo, 100 pessoas, não a indivíduos, e que, portanto, não seriam considerados marketing direto. Contudo, a Autoridade de Proteção de Dados do Reino Unido discordou dessa interpretação, reforçando as normativas de proteção de dados. Como resultado da ação judicial de Tanya, a Meta concordou em parar de usar seus dados pessoais para fins de marketing direto. A decisão, em termos leigos, significa que Tanya conseguiu “desativar todos os anúncios assustadores, invasivos e direcionados” no Facebook. Ela e seus advogados acreditam que ela é a única entre mais de 50 milhões de usuários do Facebook no Reino Unido a não ser alvo de anúncios personalizados. Tanya ressalta que mais de 10 mil pessoas já se opuseram à Meta sobre o uso de seus dados para marketing direto, indicando a possibilidade de novos processos legais.
O Impacto Persistente dos Algoritmos na Perda Gestacional
Apesar da vitória de Tanya, a realidade para muitas mulheres que sofreram perdas gestacionais, mas ainda assim foram “bombardeadas” por anúncios relacionados à gravidez, não mudou. Rhiannon Lawson, de Suffolk, Inglaterra, relatou à BBC a esperança que sentiu ao ver as duas linhas azuis em seu teste de gravidez. Ela e seu parceiro, Mike, já haviam nomeado o bebê em desenvolvimento de Fantus, uma homenagem a um personagem infantil dinamarquês. Infelizmente, um sangramento no início da gestação confirmou um aborto espontâneo às oito semanas.
Em outubro de 2022, Rhiannon engravidou novamente. Exames iniciais indicaram tranquilidade, mas um ultrassom às 20 semanas revelou que o bebê, chamado Hudson, tinha uma forma severa de síndrome do coração esquerdo hipoplásico, uma rara doença cardíaca congênita. Sem “condições de seguir em frente”, Hudson nasceu sem vida em março de 2023, com 22 semanas de gestação. Em meio ao luto e à busca de apoio nas redes sociais, Rhiannon e Mike continuaram a ver anúncios de aplicativos de gravidez, lojas de bebê e promoções de carrinhos, confrontados com lembretes angustiantes “do que não temos mais”. Ela enfatiza: “A tecnologia não entende a perda.”
Modelo ‘Consinta ou Pague’: Uma Solução Ética?
No final de setembro de 2023, a Meta anunciou um serviço de assinatura no Reino Unido para usuários que desejam parar de ver anúncios. Com um custo mensal de 2,99 libras (equivalente a cerca de R$ 22), esse modelo de “consinta ou pague” visa gerar receita para plataformas digitais a partir de usuários que se recusam a ter seus dados rastreados. Rhiannon Lawson critica essa abordagem, afirmando que ela não ajudará pessoas em sua situação. Para ela, “se eles [Meta] se importassem com seus usuários, cobrar para que não vejam conteúdo perturbador parece irracional”.
Hayley Dawe enfrentou uma situação igualmente dolorosa. Após três tentativas malsucedidas de fertilização in vitro (FIV), Hayley e seu parceiro Anthony descobriram que esperavam gêmeos, gerando grande entusiasmo. No entanto, um exame inicial revelou a perda de um dos gêmeos. Pouco depois, no dia do exame seguinte, o silêncio da sala confirmou que a outra gêmea também havia falecido. Devastada, Hayley buscou apoio em fóruns online, mas se deparou com anúncios de roupas de maternidade, travesseiros de gravidez e aplicativos de monitoramento gestacional.

Imagem: bbc.com
Para Hayley, abandonar as redes sociais não era uma opção, pois era ali que encontrava mulheres com experiências similares. Embora a Meta afirme que os usuários podem bloquear categorias de anúncios indesejados (como “parentalidade”), Hayley ficou chocada ao notar que “gravidez” não era uma categoria separada. Desativar a opção “parentalidade” não fez diferença, com mais de cinco anúncios de gravidez reaparecendo. Marcar alguns como spam também se mostrou ineficaz, e ela continuou exposta a promoções por semanas. Assim como Rhiannon, Hayley questiona a validade de uma assinatura paga, indaga: “Por que tenho que pagar quando há opções para alterar preferências que parecem não funcionar?”
O “Botão de Spam” Ineficaz e a Busca por Lucro
As experiências de Sammi, Rhiannon e Hayley com o acionamento de conteúdo ressoam com as observações de Arturo Bejar, ex-funcionário da Meta. Bejar, que fez parte da equipe de gerência sênior da empresa (de 2009 a 2015 e de 2019 a 2021), afirmou que o botão “marcar como spam” era desconectado de qualquer ação eficaz e que muitos relatórios de ajuda eram descartados devido ao grande volume. Em seu depoimento ao Congresso dos EUA em 2023, Bejar expressou sua crença de que a Meta não está priorizando a segurança dos usuários, mas sim atraindo mais para suas plataformas para aumentar o lucro, uma atitude que ele considera “imperdoável” e “desumana”.
Em resposta às crescentes críticas, um porta-voz da Meta declarou que a empresa leva essas preocupações a sério e busca aprimorar a sensibilidade e precisão na veiculação de anúncios. A Meta defende que seus sistemas são projetados para oferecer conteúdo relevante, mas reconhece que “não são perfeitos e alguns anúncios podem ocasionalmente parecer insensíveis ou mal colocados”. A empresa continua a encorajar os usuários a bloquear certas categorias para mitigar exposições indesejadas.
A jornalista Hayley Compton, que assina a matéria original da BBC, compartilhou sua própria vivência de “fazer parte do mesmo clube de pais do qual ninguém quer fazer parte”. Sua filha, Liliana, nasceu sem vida em 18 de abril de 2020, às 40 semanas de gestação. Ela teve ainda uma filha e um filho posteriormente, mas também passou por outros dois abortos espontâneos. Compton ressalta a dor de ser “bombardeada” por anúncios direcionados de bebês sorrindo, barrigas de grávidas exuberantes e famílias felizes nas redes sociais, especialmente em momentos de vulnerabilidade, relembrando-a “de tudo que perdi”.
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Este cenário sublinha a necessidade de maior empatia e refinamento ético na publicidade digital, especialmente em temas tão sensíveis como a gravidez e a perda gestacional. O confronto das mulheres com a Meta levanta questões importantes sobre privacidade, responsabilidade algorítmica e o direito de navegar em plataformas digitais sem o peso de anúncios intrusivos. Para continuar explorando as complexidades da era digital e seus impactos, acesse a categoria de análises do nosso portal.
Crédito, Arquivo pessoal/Sammi Claxon
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