O Agente Secreto representará o Brasil no Oscar 2026

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**O Agente Secreto representará o Brasil no Oscar 2026**, levando o cinema nacional para a corrida da principal premiação global. O anúncio ocorreu nesta segunda-feira, 15 de setembro de 2025, confirmando a escolha do longa-metragem dirigido pelo cineasta pernambucano Kleber Mendonça. O evento máximo da sétima arte acontecerá em março do próximo ano, e a expectativa em torno da obra protagonizada por Wagner Moura é alta, especialmente após o sucesso e o intenso debate gerado em suas exibições.

A notícia da seleção brasileira chega na esteira de uma repercussão já calorosa que “O Agente Secreto” tem colhido. Em Recife, onde o filme teve sua estreia na semana anterior à escolha para o Oscar, a recepção foi efusiva, comparada pelo ator Wagner Moura a um clima de final de Copa do Mundo, marcado por aplausos e euforia. Contudo, essa atmosfera contrasta marcadamente com o ambiente observado em festivais internacionais, principalmente nos Estados Unidos, onde a percepção foi outra.

O Agente Secreto representará o Brasil no Oscar 2026

Nos festivais norte-americanos, a passagem do longa foi acompanhada por um sentimento distinto por parte dos espectadores locais, segundo Wagner Moura. Em entrevista à BBC News Brasil, o ator descreveu uma certa “tristeza” por parte dos americanos, beirando a “inveja”, ao comparar a situação política atual dos dois países. Moura relacionava essa impressão ao funcionamento das instituições democráticas brasileiras, que na época da entrevista, testemunhavam um julgamento crucial de crime contra a democracia, realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele celebrou que a justiça estava sendo feita no Brasil, em um contraste que percebeu não ser replicado da mesma forma em território estadunidense.

A alusão de Wagner Moura se dirigia diretamente à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete integrantes de seu governo, incluindo membros de alta patente militar, por envolvimento em um golpe de Estado, decisão proferida dias antes. Estes episódios são frequentemente cotejados com os acontecimentos que se seguiram à derrota de Donald Trump para Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2020. Enquanto no Brasil os envolvidos enfrentavam condenação, nos EUA, Trump, acusado de instigar uma rebelião contra os resultados eleitorais, foi absolvido das acusações e, em 2024, conseguiu se reeleger presidente. Ele, contudo, nega qualquer ilicitude em suas ações.

Residente em Los Angeles há sete anos, onde vive com a esposa e os três filhos, Moura estende suas críticas à administração Trump para além das questões eleitorais. Ele demonstra preocupação profunda com a postura do governo em relação a imigrantes sem documentação, descrevendo a situação como um “horror”. Los Angeles, cidade com grande presença latina, especialmente de mexicanos, testemunha o medo crescente entre essas comunidades. Moura relata que ataques e abordagens com base em “identificação visual e racial” por agentes migratórios tornam-se rotina, e a falta de documentos pode significar que “o cara não volta para casa nunca mais”. Ele enfatiza que os Estados Unidos, em sua visão, “deixou de ser mesmo uma democracia e começou a ser um país com tendências autoritárias evidentes”, uma avaliação crítica sobre o rumo político do país.

As preocupações de Moura em relação à agência migratória são amplamente compartilhadas por diversos grupos de defesa dos imigrantes nos Estados Unidos. Essas organizações acusam as autoridades de usar perfis raciais em suas abordagens, culminando em deportações de indivíduos sem status legal. Em um movimento recente que reforçou tais temores, a Suprema Corte norte-americana decidiu que os órgãos de imigração estão autorizados a adotar critérios raciais em suas operações. Essa política é um eco das promessas de campanha de Trump, que em sua eleição havia prometido deportar milhões de imigrantes considerados ilegais durante seu mandato.

A jornada de “O Agente Secreto” pelo cenário internacional é notável. Antes da empolgante estreia em Recife e da subsequente seleção para o Oscar, o filme teve uma marcante passagem pelo 50º Festival de Cinema de Toronto, no início de setembro de 2025. Essa aparição internacional aconteceu após a vitória em Cannes, em maio do mesmo ano, onde Kleber Mendonça e Wagner Moura foram agraciados com os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Ator, respectivamente. Dali em diante, a obra embarcou em uma movimentada turnê, sendo exibida em importantes festivais na Polônia, Austrália, Portugal e Nova Zelândia, acumulando reconhecimento global e críticas favoráveis.

A exibição do filme no Cinema do Teatro do Parque São Luiz, em Recife, foi um momento especial para Wagner Moura, que se sentiu “muito feliz e à vontade” na cidade. Embora baiano, nascido em Rodelas, na divisa com Pernambuco, o ator afirma carregar o estado “no sangue”. A reportagem da BBC News Brasil documentou o envolvimento do ator com a cultura local, com ele arriscando passos de frevo ao som da Orquestra Popular do Recife e do Grupo Guerreiros do Paço, a caminho do palco do Cine São Luiz, um edifício histórico que celebrava 73 anos de existência. Lá, ele se uniu a Kleber Mendonça, à produtora Emily Lesclaux e ao restante do elenco, compartilhando o sucesso do filme com a comunidade.

Recordando as raízes de sua carreira, Wagner Moura mencionou duas experiências significativas no Recife. A primeira, em 2000, com a peça “A Máquina”, de João Falcão, em que contracenou com Lázaro Ramos no Armazém 14. A parceria com o conterrâneo se estenderia dois anos depois para o cinema e a série “Ó Paí Ó”. “O Agente Secreto” marca um reencontro importante de Moura com o cinema brasileiro após um hiato de 11 anos dedicado a produções internacionais, sendo seu último trabalho nacional em “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz. Ele destacou o momento como ideal para retornar às produções em português, reforçando a relevância do tema e do contexto do filme.

No thriller “O Agente Secreto”, Wagner Moura encarna Marcelo, um professor viúvo que tenta escapar do Brasil com seu filho em meio à ditadura militar, personagem central da trama. O filme, situado na segunda metade da década de 70, não só explora a tensa atmosfera política da época, mas também aborda questões atemporais como o abuso de poder e as ameaças à democracia. Segundo o ator, a concepção do filme se deu “num momento difícil pelo qual artistas, universidades e a imprensa brasileiras passaram entre 2018 e 2022”, período correspondente ao governo Bolsonaro. Durante esse período, o então ex-presidente via setores da imprensa, das artes e do ambiente acadêmico como inimigos ideológicos, implementando cortes em verbas federais direcionadas a essas áreas, contexto que permeou a gênese da obra cinematográfica.

A estreia de “O Agente Secreto” solidifica a conexão artística entre Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho, cuja aproximação inicial foi motivada por razões políticas durante os anos do governo Bolsonaro, como o próprio ator baiano relatou. Hoje, com um cenário político diferente, Moura expressa um profundo orgulho pelo atual momento brasileiro. “Uma coisa que eu tenho certeza é que, tanto eu quanto o Kleber, estamos muito orgulhosos do momento pelo qual passa o Brasil, as instituições brasileiras, a democracia no Brasil”, afirmou. O ator fez um apontamento crítico à Lei da Anistia de 1979, que perdoou torturadores, assassinos e indivíduos que cometeram “crimes terríveis” contra direitos humanos e a democracia, classificando-a como um grande mal para o país. Ele concluiu com um tom esperançoso, afirmando: “É tão bonito ver que hoje, finalmente, o Brasil está reencontrando-se com sua memória”. A situação de avanço das investigações e decisões jurídicas de eventos passados e recentes do país podem ser acompanhadas em detalhes, fortalecendo a confiança nas instituições. Para mais informações sobre a atuação do poder judiciário brasileiro, visite o site oficial do Supremo Tribunal Federal.

“O Agente Secreto” se consolida como uma obra de arte relevante, capaz de dialogar com a história e o presente do Brasil, gerando reflexões importantes em nível nacional e internacional. Ao ser indicado para o Oscar 2026, o filme leva não apenas a qualidade cinematográfica brasileira ao cenário mundial, mas também uma discussão crucial sobre democracia, justiça e memória.

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Crédito, Tiago Calazans/BBC News Brasil

O Agente Secreto representará o Brasil no Oscar 2026 - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com


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