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O fascínio de Donald Trump pela família real britânica é uma constante em sua trajetória pessoal e pública, enraizado em experiências de infância e manifestado ao longo de sua carreira empresarial e política. Essa profunda admiração, impulsionada em grande parte por sua mãe, de ascendência escocesa, foi um fator notável desde cedo. Em 2 de junho de 1953, aos seis anos, um jovem Donald Trump observava atentamente a coroação da Rainha Elizabeth II em uma televisão em preto e branco em Nova York, marcando o início dessa particular inclinação.
A mãe de Trump, Mary Anne MacLeod Trump, demonstrava um encantamento inabalável pela monarquia e tudo que ela representava. Esse apreço foi posteriormente reconhecido pelo próprio Donald Trump, que, em seu livro “A Arte da Negociação”, detalhou como herdou da mãe um “senso de espetáculo” e o “glamour” associados à realeza, descrevendo-a como completamente absorta pela pompa e cerimônia. Essa admiração moldou profundamente a visão de mundo do empresário e, mais tarde, presidente dos Estados Unidos.
O fascínio de Donald Trump pela família real britânica
Essa inclinação pela grandiosidade cerimonial e o brilho da monarquia tem sido amplamente evidente nas interações de Donald Trump com o Reino Unido. Em sua segunda visita de Estado ao país, incluindo um retorno ao Castelo de Windsor, essa predileção se manifestou claramente. Em 17 de setembro, o ex-presidente e a então primeira-dama americana, Melania Trump, foram recebidos em Windsor por William e Kate, o Príncipe e a Princesa de Gales, respectivamente. O convite para esta visita, articulado pelo Rei Charles III e entregue pessoalmente em fevereiro no Salão Oval da Casa Branca pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, foi visto como uma estratégia direta para apelar ao gosto de Trump pela ostentação, com o objetivo de buscar concessões comerciais cruciais em um momento de crescentes tarifas.
A singularidade de Donald Trump no cenário político internacional se destaca por ter sido o único presidente dos EUA a receber dois convites para visitas de Estado ao Reino Unido, a primeira em 2019. Mesmo antes disso, em uma visita de trabalho em 2018, ao se encontrar com a Rainha Elizabeth II no Castelo de Windsor, Trump mencionou que a memória de sua mãe estava sempre presente. Fiona Hill, que foi assessora de segurança nacional de Trump, documentou em seu livro a recorrência com que ele citava a admiração materna pela realeza, chegando a afirmar que conhecer a Rainha Elizabeth II durante seu primeiro mandato presidencial era uma verdadeira obsessão, um símbolo do auge de suas conquistas na vida.
Em um diálogo posterior com o jornalista Piers Morgan, Trump revelou a emoção ao recordar sua mãe naquele contexto: “Eu estava chegando e perguntei [à primeira-dama Melania Trump]: ‘Você consegue imaginar minha mãe vendo essa cena? Castelo de Windsor'”. Este episódio sublinha a forte ligação emocional de Trump com a realeza, sempre remetendo à influência de sua matriarca e ao legado que ela representava. Para ele, o encontro com a Rainha e a grandiosidade dos locais era, em parte, uma homenagem à sua mãe.
O interesse de Donald Trump pela realeza britânica transcende seus mandatos políticos, manifestando-se já em seus primeiros passos no universo empresarial. Wes Blackman, um planejador urbano que colaborou com Trump por uma década nos anos 1990, e foi fundamental na transformação de Mar-a-Lago, em Palm Beach, Flórida, em um clube privado de luxo, lembra-se de Trump utilizando a figura da Princesa Diana para atrair novos membros. Naquele período, Trump ainda era percebido como um “outsider” pela alta sociedade. O jornal The Palm Beach Daily News documentou o ceticismo das socialites em relação ao suposto interesse da realeza em seu projeto, com a Condessa Helene Praschma comentando que parecia uma “manobra de Trump para ganhar membros”. Especulava-se também que Trump poderia ter oferecido à família real um título de membro honorário para usufruir do glamour real.
Fontes familiarizadas com as estratégias de marketing da época, conforme relatos à BBC, confirmaram que Trump chegou a oferecer ao então Príncipe Charles uma adesão gratuita de um ano em Mar-a-Lago. O Príncipe, em resposta, recusou gentilmente a oferta por meio de uma carta, sugerindo, em vez disso, uma doação de caridade para suas causas ambientais. Blackman recorda a obsessão de Trump pela carta, revelando que para Donald, ser “bem-sucedido e parte da história” sempre foi crucial, e ele vive “disso”. No fim das contas, a resposta, mesmo sendo uma recusa, era uma comunicação da realeza e para Trump isso era valioso. Para aprofundar-se nos aspectos históricos e políticos de tais visitas de Estado, consulte este artigo sobre a visita de Donald Trump a Londres e suas interações com a família real em 2019: https://www.nytimes.com/2019/06/03/us/politics/trump-london-protests-royals.html.
Nos anos 1980, enquanto Donald Trump tentava consolidar-se como um novo empreendedor imobiliário em Nova York, surgiu um boato na imprensa de que o Príncipe Charles e a Princesa Diana estariam interessados em adquirir um apartamento de US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 27,5 milhões) na Trump Tower. Várias fontes indicam que a especulação provavelmente teve início com o próprio Trump, como uma tática de publicidade. Contudo, a Associated Press rapidamente divulgou um desmentido do Palácio de Buckingham, declarando que “não havia verdade” na reportagem inicial. Dickie Arbiter, então porta-voz da Rainha Elizabeth II, afirmou que Trump sequer estava “no radar da realeza” na época, reforçando a estratégia de “nunca explicar, nunca reclamar” que a realeza adota frente a comentários estapafúrdios que buscam publicidade.

Imagem: bbc.com
Curiosamente, Trump revisitou este incidente em seu livro “Donald Trump – A Arte da Negociação”, embora com uma narrativa que difere ligeiramente. Ele narra ter recebido uma ligação de um repórter indagando sobre a suposta compra do apartamento por Príncipe Charles, coincidentemente na semana do casamento real do que ele descreveu como “o casal mais celebrado do mundo”. Trump alegou ter se recusado a confirmar ou negar o boato, mas concluiu que a matéria jornalística foi benéfica para a promoção da Trump Tower, revelando novamente sua habilidade em capitalizar situações para seus empreendimentos.
Mais de vinte anos depois, o apreço pela ostentação continuou evidente quando Trump convidou o Príncipe Charles para seu casamento com Melania Knauss. A cerimônia ocorreu em Mar-a-Lago, no novo salão de baile de 1.800 m², projetado com inspiração no opulento Salão dos Espelhos de Luís XIV, em Versalhes. Kristen Meinzer, podcaster e analista da realeza britânica, observa que Trump tem passado décadas modelando sua imagem de acordo com a nobreza, buscando criar uma aura aristocrática ao seu redor. Ao adquirir Mar-a-Lago em 1985, por exemplo, ele basicamente adotou o brasão dos antigos proprietários, solidificando a imagem de alguém que se apresenta como pertencente à elite, à realeza.
Observadores do cenário político e social de Donald Trump afirmam que, aos seus olhos, o trono britânico personifica um status global ao qual ele sempre almejou. Peter Harris, cientista político que aborda as relações transatlânticas, sugere que a família real britânica representa “o ápice da alta sociedade” da qual Trump desejava fazer parte, buscando aceitação e legitimidade ao se associar a eles. Harris, professor associado na Universidade Estadual do Colorado, complementa que o ex-presidente também almeja a mídia sensacionalista, encontrando nesses encontros um equilíbrio entre os dois mundos. Para Trump, estar na presença da realeza garante adulação, oportunidades fotográficas excelentes e apertos de mão com figuras de autoridade, sem receber comentários negativos. É um cenário cuidadosamente orquestrado para alimentar sua persona pública.
Em seu segundo livro, “The Art of the Comeback”, um membro em particular da família real chamou a atenção de Trump: Lady Diana Spencer. Ele escreveu que seu único “arrependimento no quesito mulheres” era nunca ter tido a oportunidade de cortejar a Princesa Diana, descrevendo-a como alguém que “iluminava o ambiente” e uma “dama dos sonhos”. Essa fascinação, no entanto, não ficou restrita a escritos. Após o divórcio de Diana do Príncipe Charles, em 1996, a ex-apresentadora da BBC, Selina Scott, revelou que Trump tentou namorar a princesa, considerando-a a “esposa troféu definitiva”. Scott detalhou no jornal The Sunday Times que Diana se sentia “arrepiada” pela insistência de Trump, incomodada com a constante entrega de rosas e orquídeas em seu apartamento. Posteriormente, em 1997, pouco após a morte de Diana, Trump chegou a afirmar em uma entrevista com Howard Stern que poderia ter se envolvido romanticamente com ela, embora em 2016 tenha negado qualquer interesse, descrevendo-a apenas como “adorável”.
Em contraste com a admiração pela Princesa Diana, Donald Trump proferiu comentários mais críticos em relação a outras mulheres da família real. Em 2012, ele culpou Kate Middleton, atualmente Princesa de Gales, por fotos suas em topless, tiradas por paparazzi durante suas férias na França. Meghan, Duquesa de Sussex, foi rotulada por Trump como “terrível” e “desagradável”, enquanto a própria Duquesa o descreveu como “divisivo” e “misógino” durante a campanha presidencial americana de 2016. Tais comentários, porém, não impactaram as visitas de Estado, pois, conforme afirma Arbiter, a realeza está acostumada a receber líderes diversos, e atitudes passadas não os intimidam. O rei, por sua vez, sempre buscará fazer Trump se sentir bem-vindo, pois o ex-presidente se adapta à formalidade das visitas de Estado e ao aspecto cerimonial, evidenciando seu contínuo envolvimento com a pompa e circunstância da realeza, um caminho que começou na infância, sob os olhos fascinados de sua mãe, e que o colocou 70 anos depois sob os holofotes, lado a lado com os monarcas britânicos.
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Crédito: Getty Images
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