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A discussão sobre o uso de fitness trackers e a incessante busca por “crédito” ou reconhecimento digital nos dados de saúde ganhou um novo enfoque. Victoria Song, jornalista sênior e autora da newsletter “Optimizer”, aborda a linha tênue que separa o monitoramento útil do bem-estar e uma preocupante paranoia pela saúde. Segundo a especialista, apesar dos dispositivos serem ferramentas auxiliares valiosas, eles podem inadvertidamente prejudicar a saúde mental quando a quantificação excessiva de atividades leva a um comportamento obsessivo.
Song, com mais de 13 anos de experiência na cobertura de wearables e tecnologia de saúde, adverte que recursos como “sequências” (streaks) e a gamificação simplificada do condicionamento físico são frequentemente problemáticos, podendo gerar ansiedade. A repórter sublinha a distinção fundamental entre recursos de bem-estar e funções médicas, alertando que a supervalorização da obtenção de “crédito” pelos dados monitorados está se tornando uma questão generalizada, manifestada tanto por consumidores quanto por representantes de empresas.
Obsessão com Fitness Trackers: Cuidado ou Paranoia?
A preocupação da jornalista se manifestou de forma aguda após um evento familiar no Dia da Independência. Durante uma caminhada digestiva, sua cunhada, ao notar a bateria de seu Apple Watch esgotada, lamentou que “não obteria crédito” pela atividade. Semanas depois, a expressão res surgiu em uma apresentação do Google Pixel Watch 4, onde foi revelado que o rastreamento automático de atividades havia sido expandido em resposta a pedidos de usuários que queriam “crédito” por exercícios esquecidos. Para muitos, a ausência de registro em dispositivos como Garmin ou Strava significa que a atividade, de fato, “não aconteceu”. Essa mentalidade transforma exercícios e métricas de saúde em tarefas avaliativas, como um teste escolar.
A frustração pela falha de um smartwatch em registrar dados com precisão é compreensível. No entanto, Victoria Song destaca que essa fixação perde o panorama maior. Rastreadores de fitness são instrumentos desenhados para auxiliar no progresso de metas de saúde, mas o monitor mais essencial continua sendo o próprio corpo, que registra cada atividade inequivocamente. O problema, segundo a especialista, é que a crescente complexidade desses dispositivos, que adicionam “pontuações” para tornar dados diversos mais compreensíveis, pode induzir uma psicologia de “passar no teste”, levando usuários a adiarem exercícios ou até o sono para garantir que o dispositivo registre suas ações.
Empresas buscam tornar seus dispositivos viciantes para fidelizar usuários. No entanto, há um risco considerável de os consumidores perderem o foco do objetivo inicial — a melhoria da saúde — em prol da perseguição de “sequências” e da busca por “crédito”. A linha entre um monitoramento útil e uma relação obsessiva com a tecnologia vestível é realmente muito tênue. Um estudo apontou que smartwatches causaram ansiedade em pacientes com fibrilação atrial, com um participante realizando 916 eletrocardiogramas (EKGs) em um ano. Em 2023, pesquisadores já clamavam por mais investigações empíricas sobre os riscos à saúde de wearables, incluindo transtornos mentais e comportamentos de saúde disfuncionais, como o exercício excessivo. Mais relatos têm emergido, indicando que o uso desses dispositivos pode de fato desencadear ansiedade e paranoia relacionadas à saúde. Informações adicionais sobre a importância da saúde mental e como identificar padrões problemáticos podem ser encontradas em fontes como a Biblioteca Virtual em Saúde do governo brasileiro.
A repórter enfatiza que seu objetivo não é repreender. Ela reconhece que quase todos os entusiastas de fitness tracking já se tornaram excessivamente obcecados com métricas em algum ponto. O fundamental é aprender a reconhecer esses padrões de pensamento e comportamento como sinais de alerta de uma possível tendência obsessiva. Uma vez identificado, é possível reiniciar a abordagem e redirecionar o foco.

Imagem: Amelia Holowaty Krales/The via theverge.com
Song compartilha sua estratégia pessoal: quando percebe a irritação por “não obter crédito”, ela tira um “break” de 24 a 72 horas dos wearables, mantendo seu cronograma de treinos. Isso implica em correr e se exercitar sem o monitoramento digital, o que ela admite ser desconfortável no início, sentindo-se “nua” ou “fracassada”. Curiosamente, são justamente esses exercícios “sem registro” que ela mais desfruta, lembrando-se que corre para clarear a mente, controlar a ansiedade e comprovar sua capacidade, e não para quebrar recordes ou colecionar medalhas.
Após esses períodos sem rastreador, Song nota uma mudança de postura: ela para de se desculpar por seu ritmo mais lento nas anotações do Strava, reconhecendo que ninguém se importa com sua velocidade média. Para aqueles que acham a abordagem “à moda antiga” agressiva demais, uma alternativa é um diário analógico. A jornalista usa um diário Hobonichi Weeks para anotar seus treinos sem muitos detalhes, o que ajuda a lembrar que o reconhecimento de apps e as métricas são secundários ao ato de cuidar de si mesma. Para o público em geral, ela sugere pausas planejadas de 48 a 72 horas a cada 90 dias, um hábito que adotou após a observação da cunhada no feriado. A repórter, na ocasião, optou por uma pedalada sem registro, curtindo o momento sem se preocupar com métricas.
A reflexão sobre o uso consciente de dispositivos vestíveis é crucial para manter o foco na saúde genuína, em vez de métricas superficiais. Se você busca aprofundar suas leituras sobre tecnologia e bem-estar, convidamos a explorar as análises disponíveis em nossa editoria. Continue acompanhando nosso portal para mais informações sobre as últimas tendências e discussões que moldam nosso dia a dia.
Foto por Amelia Holowaty Krales / The Verge
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