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A recente confirmação do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a autorização de **operações secretas da CIA na Venezuela** representa um divisor de águas significativo nas já frágeis relações diplomáticas entre Washington e Caracas. A medida demonstra a disposição norte-americana em elevar as tensões a patamares nunca antes vistos, sinalizando uma escalada que pode transformar o conflito atual.
Durante uma entrevista concedida no Salão Oval da Casa Branca em 15 de outubro, Trump reiterou a avaliação de que os EUA “estão analisando operações em terra” como parte do combate a ações de narcotráfico supostamente originárias da Venezuela. Segundo o ex-presidente, essas atividades criminosas representam uma ameaça direta à segurança nacional dos Estados Unidos. Até o momento, as ações americanas haviam se limitado a operações marítimas próximo à costa venezuelana.
Operações Secretas CIA na Venezuela Escalanam Tensões
Apesar de a Venezuela possuir um papel minoritário no transporte de drogas com destino aos EUA, recentes operações navais americanas resultaram no afundamento de pelo menos cinco embarcações suspeitas de transportar narcóticos nas últimas semanas. Esses confrontos levaram à morte de 27 pessoas, ações que foram duramente criticadas como “execuções extrajudiciais” por especialistas em direitos humanos indicados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A mais recente declaração de Trump insinua que o embate poderá transitar para uma “fase terrestre”, embora os detalhes sobre a natureza e o escopo dessa nova etapa permaneçam indefinidos. Paralelamente, a ativista venezuelana María Corina Machado, que opera na clandestinidade desde o ano anterior e foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz neste mês, declarou que o conflito se encaminha para uma “fase de resolução”, um termo que contrasta com a percepção de escalada.
O governo americano tem mantido sigilo quanto aos pormenores das operações planejadas na Venezuela. No entanto, o histórico da Agência Central de Inteligência (CIA) na América Latina e em outras regiões do mundo abrange um vasto repertório de ações, incluindo sabotagens, infiltrações e extensas campanhas de desestabilização política e social, o que adiciona uma camada de preocupação às intenções atuais.
É sabido que Washington intensificou a pressão sobre o crime organizado venezuelano, chegando a acusar o próprio governo de apoiar tais grupos. Em fevereiro deste ano, o Departamento de Estado norte-americano designou a organização criminosa “Tren de Aragua” como grupo terrorista, reforçando o foco das acusações. Embora o governo Trump tenha apontado Nicolás Maduro como líder dessa organização criminosa, documentos internos da inteligência americana, revelados pela Freedom of the Press Foundation, indicam a ausência de provas concretas que sustentem essa alegação. Para saber mais sobre o trabalho do Departamento de Estado dos EUA no combate ao crime e narcotráfico internacional, consulte a seção de assuntos internacionais no site oficial.
Possíveis Ramificações das Ações Clandestinas
A abrangência exata da atuação da CIA na Venezuela é incerta. Há especulações sobre se uma operação da agência, autorizada por Trump, poderia, por exemplo, levar ao assassinato de membros de grupos criminosos ou, até mesmo, à execução de uma “operação de bandeira falsa” – um ato hostil orquestrado para incriminar o governo Maduro e justificar uma intervenção militar. Vale recordar que, em 1962, a CIA considerou atos terroristas contra alvos americanos para culpar Cuba e fundamentar uma guerra, um plano conhecido como Operação Northwoods, que não foi implementado.
Com o anúncio surpresa de Trump na Casa Branca, um novo patamar de ações mais assertivas da CIA na Venezuela parece ter sido estabelecido. Conforme afirmou Mick Mulroy, ex-oficial da agência e Subsecretário Adjunto de Defesa para o Oriente Médio no primeiro governo Trump, para a BBC, “para conduzir ações secretas, é necessária uma decisão presidencial da CIA autorizando-a especificamente, com ações específicas identificadas.”
Alarme em Caracas: Preparativos para uma “Zona Cinzenta”
Na Venezuela, as manifestações vindas da Casa Branca foram recebidas com considerável preocupação. Há anos, a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) se prepara para a possibilidade de uma ação militar. Documentos estratégicos venezuelanos indicam que o “período de crise” que precederia uma guerra envolveria semanas ou meses de ações hostis, ataques cibernéticos, campanhas de desestabilização e uma potencial subversão armada e bloqueio militar. O propósito seria desgastar e desestabilizar o governo de Caracas.
Diante desse cenário, a resposta militar venezuelana seria o início da mobilização da Milícia Bolivariana, um componente especial das forças armadas formado principalmente por civis, estruturado para a defesa integral do país. Os documentos detalham que a “primeira fase da guerra” aprofundaria as operações de desgaste e poderia incluir ações terrestres e ataques aéreos limitados. O objetivo americano, segundo as avaliações militares venezuelanas, seria criar uma “zona cinzenta”, um limbo estratégico entre a paz e a guerra declarada.
A Doutrina da Guerra Assimétrica
A natureza híbrida desse cenário, focado em operações não convencionais em vez de um confronto direto, explica a “mobilização popular” atual do governo venezuelano. Vídeos oficiais recentes mostram civis recebendo treinamento em armamentos antitanques, visando “neutralizar sistemas de blindados”. Há também relatos da distribuição de armas a civis comprometidos em defender o país de uma “guerra não declarada” de Washington. A doutrina militar venezuelana atual tem suas raízes em 2002, após o apoio dos EUA a uma tentativa de golpe contra Hugo Chávez.

Imagem: bbc.com
A partir de 2004, essa doutrina começou a ser definida, reconhecendo a impossibilidade de vencer um inimigo militarmente superior. Inspirada em estratégias de “guerra assimétrica” de regiões como Vietnã, Cuba, Iraque e Afeganistão, essa concepção maoísta aceita a perda inicial de território para construir resistência e engajar o inimigo em um conflito de desgaste a longo prazo. O objetivo não é uma vitória decisiva, mas tornar a guerra insustentável para o oponente, espelhando os conflitos no Iraque e no Vietnã. Essa abordagem busca dissolver as fronteiras entre o campo de batalha e a sociedade, aproveitando o conhecimento local e a motivação civil para defender a nação.
O próprio Hugo Chávez, em 2004, traçou paralelos entre a Guerra do Iraque e as experiências guerrilheiras na América Latina, afirmando que, diante de uma invasão semelhante, os venezuelanos teriam que ser “caçados nas montanhas de Turimiquire, de Falcón, de Lara”, e que seriam procurados “no Pico Bolívar, nas selvas da Guiana!”.
A Milícia Bolivariana e seu Papel Estratégico
A Milícia Bolivariana, estabelecida oficialmente em 2008, personifica essa doutrina, expandindo as forças de reserva militar dos anos anteriores. Ela integra a população civil em tarefas de mobilização revolucionária e defesa nacional, baseada no princípio constitucional de 1999 de “corresponsabilidade” entre civis e militares pela defesa. Seu número de membros cresceu de 1,6 milhão em 2018 para 5,5 milhões em 2024, com uma meta de 8,5 milhões até agosto de 2025, embora as tropas prontas para combate se limitem a dezenas de milhares.
O propósito dessa força não é duplicar o poder militar convencional, mas fortalecer a capilaridade do sistema de defesa territorial, utilizando o conhecimento geográfico detalhado das comunidades para a resistência hiperlocal. Em um cenário de conflito, é provável que muitos milicianos se dedicassem à “inteligência popular” para evitar protestos sociais na periferia. No entanto, a defesa militar convencional não é descartada. Com aproximadamente 150 mil tropas (80 mil no Exército e o restante na Marinha, Força Aérea e Guarda Civil), a FANB reconhece seu poder de fogo limitado diante de quase 1 milhão de militares dos EUA.
Entre 2006 e 2008, Hugo Chávez investiu na modernização e aquisição de armamentos defensivos (como mísseis antitanques e antiaéreos portáteis) da Rússia, China e Irã, impulsionado pelos altos preços do petróleo. Contudo, a crise econômica e as sanções recentes dificultaram novas modernizações. O relatório Military Balance, do International Institute for Strategic Studies, aponta que as “dificuldades econômicas contínuas e as sanções limitaram a capacidade da Venezuela de adquirir novas tecnologias de defesa” e sublinha aprofundamento do relacionamento de defesa com o Irã sob a liderança de Maduro.
Incertezas no Horizonte e Cenários Possíveis
Enquanto o alerta ecoa em Caracas, os próximos movimentos dos EUA permanecem como a grande incógnita. A inclusão da CIA, sem a presença de tropas regulares cruzando fronteiras, concede à campanha americana flexibilidade, imprevisibilidade e opacidade. Do lado venezuelano, a principal questão é como cidadãos e forças estatais reagiriam a cenários como uma agressão, uma operação de bandeira falsa ou a deposição de Maduro. A unidade da elite do regime, incluindo Maduro, Diosdado Cabello e General Padrino López, também é uma variável.
A dúvida persiste se uma estratégia de “guerra popular” seria suficiente para conter pressões internas por uma mudança de regime na sociedade venezuelana. O governo de Maduro superou o primeiro mandato de Trump, apesar das sanções draconianas ao setor petrolífero e de uma crise econômica severa. Contudo, em seu segundo mandato, Trump demonstrou maior determinação em depor o rival venezuelano, e o envolvimento da CIA pode indicar um arsenal de ferramentas mais amplas e flexíveis para atingir esse objetivo. Pablo Uchoa, especialista em Venezuela e doutorando no UCL Institute of the Americas, ressaltou esses pontos em sua análise.
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As **operações secretas da CIA na Venezuela**, conforme confirmadas, sinalizam uma complexa rede de eventos que podem redefinir o futuro da relação entre os dois países. Continue acompanhando as análises e notícias em nossa editoria de Política para se manter atualizado sobre os desdobramentos dessa crescente tensão.
Crédito: REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria/File Photo; JIM LO SCALZO/POOL/EPA/Shutterstock; Miguel Gutiérrez/EPA/Shutterstock
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