Pequim sedia cúpula rara entre líderes da China, Rússia e Coreia do Norte em meio a desfile militar

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A capital chinesa, Pequim, prepara-se para sediar um encontro de alta relevância geopolítica na próxima quarta-feira, 3 de setembro, com a presença dos líderes da China, Rússia e Coreia do Norte. O presidente chinês, Xi Jinping, será o anfitrião do líder norte-coreano, Kim Jong Un, e do presidente russo, Vladimir Putin, em um evento que incluirá uma grandiosa demonstração de poderio militar.

O palco dessa convergência será a Praça da Paz Celestial, onde tanques e mísseis nucleares avançarão em um desfile que promete ser uma vitrine da capacidade bélica chinesa. Jatos de combate de quinta geração estão previstos para riscar o céu da capital, em uma cerimônia que oficialmente celebra o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, conhecido na China como o “Dia da Vitória”.

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A presença de Kim Jong Un e Vladimir Putin no evento é considerada um desenvolvimento notável no cenário diplomático global. Ambos os líderes têm mantido um perfil relativamente discreto em termos de viagens internacionais nos últimos anos. Kim Jong Un, por exemplo, é conhecido por suas aparições limitadas fora da Coreia do Norte, e Vladimir Putin tem enfrentado isolamento crescente no Ocidente, acentuado por sanções decorrentes da invasão russa à Ucrânia e por um mandado de prisão emitido contra ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

O encontro em Pequim marca a primeira vez em aproximadamente seis anos que o líder norte-coreano Kim Jong Un se reunirá com o presidente chinês Xi Jinping. Segundo Juna Moon, da BBC News Coreia, Kim visitou a China pela última vez antes de sua viagem a Hanói, no Vietnã, em 2019, para o encontro com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Posteriormente, no mesmo ano, Xi Jinping retribuiu a visita a Pyongyang.

A reunião que ocorrerá na próxima semana assume um caráter de ineditismo sob vários aspectos. Esta será a primeira ocasião em que os líderes da Coreia do Norte, da China e da Rússia serão vistos juntos publicamente. Além disso, a tradição diplomática da Coreia do Norte, tanto sob a liderança de Kim Jong Un quanto de seu pai e predecessor, Kim Jong Il, historicamente se restringiu a encontros bilaterais com apenas um chefe de estado por vez, tornando essa cúpula tríplice uma quebra de protocolo notável. A participação de um líder norte-coreano em um desfile militar chinês é outro ponto singular, sendo a primeira vez que tal evento ocorre desde 1959.

A Coreia do Norte enfrenta significativas dificuldades econômicas, conforme pontuado por Moon, da BBC News Coreia, com o preço do arroz apresentando elevações consideráveis no país. Neste contexto, o auxílio chinês torna-se crucial para Pyongyang, especialmente enquanto o país se prepara para celebrar aniversários políticos importantes, como o 80º aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, em outubro, e o nono congresso do partido, previsto para o próximo ano. Kim Jong Un busca garantir que essas datas sejam marcadas por celebrações de grandiosidade, e não pela austeridade econômica.

Existe também uma dimensão econômica adicional na participação de Kim no desfile, relacionada à busca por benefícios através da cooperação chinesa. Pyongyang aspira a atrair um número significativo de turistas chineses para a recém-inaugurada Zona Turística Costeira de Wonsan Kalma, um plano que dependeria do endosso do Partido Comunista Chinês, conforme explica Moon.

Contudo, a viagem do líder norte-coreano a Pequim não se restringe apenas a considerações financeiras. Tradicionalmente, Kim Jong Un busca manter um equilíbrio estratégico em suas relações tanto com Pequim quanto com Moscou, evitando depositar excessiva confiança em qualquer uma das partes. O evento do Dia da Vitória oferece uma oportunidade singular para ele ser publicamente visto ao lado de ambos os presidentes.

Ao se alinhar com Xi Jinping e Vladimir Putin, Kim Jong Un busca se posicionar como um parceiro de superpotências globais, sinalizando a relevância central da Coreia do Norte em um possível eixo tripartite China-Coreia do Norte-Rússia. Além disso, o líder norte-coreano poderia acalentar a esperança de que o presidente Xi compareça às comemorações do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte em outubro, um gesto que ampliaria o prestígio e a importância da Coreia do Norte, tanto no âmbito doméstico quanto no cenário internacional.

Para a Coreia do Sul, a presença de Kim na cúpula de Pequim é amplamente interpretada como uma resposta estratégica à crescente colaboração entre os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão, conforme Juna Moon destaca. O evento seria um sinal de que Pyongyang está disposta a aprofundar seu alinhamento tripartite com a China e a Rússia. Segundo a analista, caso a visita de Kim no Dia da Vitória fortaleça a cooperação entre a Coreia do Norte, a Rússia e a China, pode haver sérias consequências para a segurança da Coreia do Sul, aumentando o risco de uma cooperação mais profunda, mesmo que não oficial, entre Pyongyang, Pequim e Moscou em termos de sistemas de armas, tecnologia militar, inteligência e logística.

Pequim sedia cúpula rara entre líderes da China, Rússia e Coreia do Norte em meio a desfile militar - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Do ponto de vista russo, o convite para Pequim é recebido com grande entusiasmo por Vladimir Putin, especialmente vindo logo após sua cúpula no Alasca com o presidente americano, Donald Trump, conforme relatado por Alexey Kalmykov, da BBC News Rússia. A Rússia, isolada globalmente por sanções desde a invasão da Ucrânia, tem visto sua posição em fóruns internacionais diminuir. Putin, que antes participava do G7 em pé de igualdade, tornou-se um “pária”, com um mandado de prisão emitido contra ele pelo Tribunal Penal Internacional. Em um curto período, ele foi acolhido por duas importantes potências mundiais, primeiro os Estados Unidos e agora a China, que “estendem o tapete vermelho”.

Segundo Kalmykov, tal “sucesso tão grande no cenário internacional” seria impensável para as autoridades russas há pouco tempo, mas tornou-se uma realidade. A participação de Putin no desfile em Pequim visa consolidar sua posição global e, internamente, tranquilizar a população russa sobre o status internacional do país. A expectativa é que “numerosos apertos de mão, abraços cordiais e tapetes vermelhos” transmitam ao público russo que Moscou não é um parceiro inferior de Pequim, mas sim um igual. A mensagem externa visa reforçar que o “Sul Global está unido em torno de Xi e Putin” e representa uma força que deve ser reconhecida no panorama geopolítico, além de sinalizar à Casa Branca que quaisquer tentativas de gerar uma cisão entre Moscou e Pequim seriam infrutíferas. A “amizade sem limites” entre Rússia e China, de acordo com Kalmykov, mostra-se “viva e muito bem”.

No centro do evento, a China usará o desfile para exibir sua moderna potência militar global. As autoridades chinesas anunciaram que o evento terá duração de 70 minutos e apresentará a nova geração de armamentos do Exército de Libertação Popular. Estão previstos avançados sistemas hipersônicos, aéreos e de defesa antimísseis, além de mísseis estratégicos, todos oriundos dos equipamentos de combate atuais do país. Um porta-voz do governo chinês revelou que uma quantidade significativa desses novos equipamentos será exibida pela primeira vez, algo que certamente capturará a atenção internacional. Esta demonstração de força ocorre em um momento em que a China está expandindo e modernizando suas armas nucleares mais rapidamente do que qualquer outra nação, conforme dados do Boletim dos Cientistas Atômicos.

No campo diplomático, a China enfrentará menos desafios em relação à sua lista de convidados em comparação com eventos anteriores. Embora haja um mandado de prisão ativo do TPI contra o presidente Putin e a China já tenha sido criticada por convidar indivíduos procurados pelo Tribunal, a decisão do presidente Trump de convidar o líder russo para o Alasca poucas semanas antes suaviza as críticas à China. A BBC News China observa que, neste cenário, “soldados americanos estenderam o tapete vermelho para Putin”, o que serve como um precedente que dificulta a censura.

O significado do evento não se restringe apenas à lista de participantes presentes; a ausência de certas figuras também carrega peso diplomático. Há uma década, um convidado proeminente no mesmo desfile foi o então presidente do partido taiwanês Kuomintang (KMT), que estava no governo na época. Esse convite ocorreu durante um “período de lua de mel nas relações no estreito de Taiwan”, recorda a BBC News China. Contudo, desde 2016, Taiwan é governado pelo Partido Democrático Progressista (DPP), que mantém relações historicamente mais frias com Pequim. Em parte devido à repressão chinesa contra dissidentes em Hong Kong, Taiwan proibiu as autoridades públicas de viajar a Pequim para o desfile militar. Assim, nenhum representante taiwanês estará presente entre os 26 chefes de Estado aguardados para assistir ao evento. A China, por sua vez, reitera que a ilha autogovernada de Taiwan faz parte de seu território e mantém uma antiga promessa de sua “reunificação”.

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O desfile militar na próxima quarta-feira, com a convergência de líderes-chave, sublinha uma reconfiguração nas relações internacionais. Além de ser uma demonstração de força militar, ele funciona como um palco para Pequim reafirmar sua influência e solidificar alianças, enquanto seus convidados buscam fortalecer suas posições globais e regionais em um contexto de crescente polarização geopolítica. Os múltiplos planos e interações sinalizam estratégias complexas de cooperação e contenção em várias esferas, com impactos que se estendem da economia à segurança internacional.

Com informações de BBC News Brasil


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