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A Periodic Labs, uma nova e promissora startup cofundada por Liam Fedus, respeitado pesquisador da OpenAI, e seu colega Ekin Dogus Cubuk, ex-membro do Google Brain, saiu do modo de discrição no mês passado com um substancial investimento de US$ 300 milhões em sua rodada seed. Este montante, liderado pela Felicis e complementado por uma rede de renomados investidores anjos e outras empresas de capital de risco de ponta, posiciona a companhia para uma atuação revolucionária na intersecção da inteligência artificial e da ciência de materiais.
A iniciativa para a fundação da Periodic Labs teve início há aproximadamente sete meses, durante uma conversa estratégica entre Fedus e Cubuk. Conhecido entre amigos como Doge, Cubuk possuía vasta experiência como pesquisador líder em aprendizado de máquina e ciência de materiais no Google Brain. Impulsionados pela constante discussão no Vale do Silício sobre o potencial da inteligência artificial generativa (GenAI) para transformar radicalmente a descoberta científica, os dois perceberam que o cenário tecnológico estava finalmente maduro para transformar essa visão em realidade – ou, ao menos, para criar uma startup focada em alcançar esse objetivo ambicioso.
Periodic Labs: US$ 300 Milhões Impulsionam Startup de IA e Ciência
A percepção de que este era o momento oportuno para lançar a Periodic Labs decorreu da convergência de múltiplos avanços. Segundo Cubuk, diversos progressos no campo dos Modelos de Linguagem Grande (LLMs), na ciência experimental e em simulações contribuíram para criar um ambiente propício. Primeiramente, braços robóticos especializados na síntese de pós — um processo fundamental para a mistura e criação de novos materiais — demonstraram recentemente sua confiabilidade e eficácia em operações contínuas. Essa capacidade mecânica automatizada é crucial para a execução prática dos experimentos.
Em segundo lugar, as simulações baseadas em aprendizado de máquina alcançaram um nível de eficiência e precisão inédito, tornando-se capazes de modelar sistemas físicos complexos, essenciais para o desenvolvimento de novos materiais. Esta capacidade computacional avançada permite prever o comportamento de substâncias em diferentes condições com alta fidelidade, acelerando significativamente as fases iniciais da pesquisa. Por fim, os LLMs desenvolveram capacidades de raciocínio poderosas, em parte, graças ao trabalho inovador de Fedus e sua equipe na OpenAI. Fedus foi um dos membros-chave do pequeno time que originalmente concebeu o ChatGPT e dirigia a fundamental equipe de pós-treinamento da OpenAI, responsável por refinar modelos após seu desenvolvimento inicial, aprimorando sua lógica e coerência.
Ao conectar esses avanços, a imagem para os fundadores da Periodic Labs tornou-se nítida: um processo integrado onde uma simulação baseada em IA poderia, teoricamente, identificar novos compostos. Em seguida, um robô teria a capacidade de sintetizar e misturar os materiais propostos, enquanto um LLM, por sua vez, seria encarregado de analisar os resultados obtidos e sugerir quaisquer correções necessárias para otimizar o processo. A partir dessa premissa, ficou claro que a ciência de materiais automatizada por inteligência artificial estava pronta para ser construída.
É importante ressaltar que a base para essa abordagem não é meramente teórica. Em 2023, Cubuk foi um dos pesquisadores que publicou um artigo inovador, documentando um projeto de pesquisa precursor desenvolvido no Google. A equipe naquele momento conseguiu construir um laboratório totalmente automatizado e robotizado, utilizando receitas sugeridas por modelos de linguagem para criar 41 compostos inteiramente novos. Esta experiência demonstrou a viabilidade prática da interação entre IA e experimentação em um ambiente controlado.
Um aspecto crucial que os fundadores da Periodic Labs compreenderam é o valor intrínseco de todos os experimentos, incluindo os que não resultam em sucesso imediato. Para a IA, os dados são vitais. A ciência assistida por IA oferece uma fonte inteiramente nova para a coleta de dados de treinamento e pós-treinamento em cenários do mundo real. Os fundadores acreditam que essa abordagem pode redefinir o sistema de motivação científica atual, que geralmente valoriza o sucesso validado por publicações e bolsas de pesquisa, em detrimento da exploração pura. “Entrar em contato com a realidade, integrar experimentos no loop da IA — sentimos que essa é a próxima fronteira,” declarou Fedus.
Após a conversa definidora com Cubuk, Fedus informou os líderes da OpenAI sobre sua decisão de se desligar e seus planos para a nova empreitada. Ele então publicou alegremente em sua conta no Twitter sua saída, o que aparentemente indicava a bênção da OpenAI e um possível investimento. Sua postagem de 17 de março de 2025, na qual Fedus afirmava: “Olá a todos, tomei a difícil decisão de deixar a OpenAI como funcionário, mas estou buscando trabalhar em estreita colaboração como parceiro daqui para frente. Contribuir para a missão da OpenAI e trabalhar com equipes de classe mundial para criar e [tweet cortado],” criou uma expectativa inicial sobre a participação da OpenAI em sua nova empresa.
No entanto, a esperada contribuição financeira da OpenAI não se materializou. Os fundadores confirmaram à TechCrunch que a OpenAI não é investidora da Periodic Labs. Embora Fedus não tenha especificado o motivo da não concretização do investimento, os recursos da OpenAI não foram de fato necessários. O tuíte de Fedus, por si só, deflagrou uma verdadeira corrida entre as empresas de Venture Capital em busca de acesso à nova startup. Houve uma sensação de que os próprios investidores estavam fazendo “pitch” para a Periodic Labs. Fedus relembrou, com certo divertimento, que um investidor chegou a escrever uma “carta de amor” à Periodic Labs, pegando a ele e a Cubuk de surpresa. Outras empresas enviaram documentos de várias páginas, apresentando seus próprios méritos para se tornarem parceiros.
A primeira ligação que a equipe da Periodic Labs de fato atendeu foi de Peter Deng, um ex-colega de Fedus na OpenAI que havia se tornado investidor na Felicis, uma das principais firmas de investimento seed. Deng havia deixado a OpenAI para se juntar à Felicis no início de 2025. Peter Deng afirmou à TechCrunch que Liam era uma figura muito influente dentro da OpenAI, altamente estimado e um pesquisador de extremo impacto. Ao saber da saída de Fedus, ele imediatamente o contatou.
Deng encontrou Fedus para um café no bairro de Noe Valley, em São Francisco. Impulsionados pela cafeína e entusiasmo, Fedus convidou Deng para continuarem a conversa durante uma caminhada pelas famosas colinas da região. As “caminhadas de pitch” podem ser um clichê no Vale do Silício, mas frequentemente ocorrem na prática. O dia frio havia se transformado em um calor. Deng, vestindo um suéter, suava e se esforçava para acompanhar o ritmo do atlético e afável Fedus, até que o fundador proferiu uma frase que, literalmente, “o fez parar onde estava”, conforme Deng relatou. Fedus disse a Deng que, embora todos falem sobre fazer ciência, para realmente fazer ciência, é preciso executá-la.

Imagem: techcrunch.com
Em outras palavras, para a inteligência artificial progredir na descoberta científica, era essencial equipar a IA com um laboratório “molhado” totalmente funcional, permitindo que ela testasse suas hipóteses em um ambiente controlado do mundo real. Segundo Deng, a realidade desses modelos é que todo o conhecimento contido neles se insere dentro de uma distribuição normal. “Nós pegamos uma quantidade de dados, e ele apenas consegue regurgitar o que já sabe”, explicou Deng. Para realmente descobrir algo novo, é imprescindível testar hipóteses.
“Eu me comprometi na hora, no meio das colinas de Noe Valley, a emitir o cheque”, afirmou Deng. Fedus também recorda vividamente o momento em que Deng perguntou como poderia se envolver, e Fedus respondeu que a startup precisava de capital para adquirir laptops e um escritório temporário. Deng prontamente respondeu: “Ótimo, darei o dinheiro agora mesmo.” Esse gesto representou um enorme voto de confiança nos fundadores e na visão da Periodic Labs.
Contudo, Deng não efetuou o pagamento no local. Ele retornou ao escritório entusiasmado com o negócio, apenas para ser alertado pelo advogado da Felicis de que a empresa não poderia assinar um contrato imediatamente: a Periodic Labs ainda não havia sido formalmente incorporada. Não possuía sequer um nome ou uma conta bancária para receber os fundos. “Era assim tão embrionário”, gracejou Deng. Em pouco tempo, todas essas etapas foram cumpridas, e a startup tinha à disposição diversas propostas de investimento. Com um arsenal financeiro de US$ 300 milhões, Cubuk e Fedus conseguiram contratar mais de duas dúzias dos mais prestigiados talentos em IA e ciência.
A equipe inclui nomes de destaque como Alexandre Passos, um dos criadores dos frameworks de código aberto o1 e o3; Eric Toberer, um cientista de materiais já conhecido por descobertas importantes no campo de supercondutores; e Matt Horton, um dos criadores de duas ferramentas de ciência de materiais baseadas em GenAI da Microsoft. A lista de especialistas é extensa e notável. Devido ao fato de que os membros da equipe são peritos em áreas diversas — desde inteligência artificial até física —, toda semana um deles ministra uma “aula de nível de pós-graduação” para os demais. “Nós sentimos que uma conexão estreita é extremamente importante”, explicou Cubuk, ressaltando o desejo de que todos compreendam integralmente cada aspecto do que estão desenvolvendo na Periodic Labs.
A Periodic Labs já estabeleceu seu laboratório, trabalhando com dados experimentais e simulações, além de testar algumas previsões. A missão inicial principal da empresa é identificar novos materiais supercondutores, uma descoberta que pode representar uma verdadeira “mina de ouro”. Supercondutores aprimorados têm o potencial de impulsionar a próxima geração de tecnologias mais potentes e, ao mesmo tempo, de menor consumo energético. No entanto, a última parte da visão — a integração dos robôs — ainda não está plenamente operacional. “Levará algum tempo para treiná-los”, informou Cubuk.
Todo esse esforço da Periodic Labs representa, inegavelmente, um passo audacioso rumo ao futuro da ciência. Seja impulsionada por IA ou não, a descoberta científica tradicionalmente não é rápida, fácil ou previsível. Embora esta equipe de especialistas conte com algumas indicações de que poderá encontrar o que procura — ou realizar outras descobertas valiosas ao longo do caminho, ou simplesmente gerar dados relevantes sobre os resultados menos exitosos —, não há garantias absolutas. De acordo com o MIT Technology Review, a integração de sistemas inteligentes no processo de pesquisa e desenvolvimento científico ainda enfrenta desafios complexos, mas com um potencial transformador imenso.
Adicionalmente, os próprios desenvolvedores de modelos de IA estão avançando em direção a uma ciência mais automatizada. No mês passado, Kevin Weil, vice-presidente da OpenAI, anunciou o lançamento de uma unidade “OpenAI for Science” na empresa, com o objetivo de construir o “próximo grande instrumento científico”: uma plataforma alimentada por inteligência artificial para acelerar as descobertas científicas. Quanto ao investidor que redigiu a “carta de amor” à Periodic Labs, ele não foi o escolhido para a rodada principal (embora Fedus tenha admitido que a carta foi “muito lisonjeira”). Outros investidores que participaram da rodada seed incluem Andreessen Horowitz, DST, o braço de venture capital da NVIDIA (NVentures), Accel, e investidores anjo notáveis como Jeff Bezos, Elad Gil, Eric Schmidt e Jeff Dean. Elad Gil, aliás, está programado para palestrar sobre como a IA transformou o cenário das startups no Disrupt em São Francisco, em 29 de outubro.
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Em suma, o aporte de US$ 300 milhões na Periodic Labs reflete a crescente crença no potencial da inteligência artificial para redefinir a metodologia da pesquisa científica. Com um time de ponta e uma visão audaciosa, a startup está bem posicionada para desbravar novas fronteiras. Para se manter atualizado sobre os desdobramentos mais recentes no mundo da economia e inovação tecnológica, continue acompanhando as análises em nossa editoria: clique aqui.
Crédito da imagem: Julie Bort
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