Plano de Paz de Trump para Gaza: Desafios e Próximos Passos

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Em 29 de setembro, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou publicamente um plano de paz detalhado de 20 pontos para Gaza, com o ambicioso objetivo de pôr fim ao conflito e inaugurar uma era de “paz eterna no Oriente Médio”. A proposta, que foi descrita por Trump como representativa de “um dos maiores dias da história da civilização”, foi revelada durante um evento na Casa Branca, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Netanyahu, presente na ocasião, manifestou aceitação dos princípios delineados no plano, sinalizando uma potencial abertura para as discussões. Esta iniciativa de Washington indica uma significativa alteração na postura da administração Trump em relação ao futuro pós-guerra na Faixa de Gaza, elevando a pressão sobre Netanyahu para que considerasse um acordo, algo que, segundo a análise da BBC News, superou as expectativas anteriores neste ano.

Plano de Paz de Trump para Gaza: Desafios e Próximos Passos

A efetividade da proposta nos próximos meses dependerá fundamentalmente de um questionamento crucial: se tanto Netanyahu quanto a liderança do Hamas reconhecem maiores benefícios na resolução da guerra do que na sua continuidade. A resposta oficial do Hamas à estrutura proposta por Trump permanece incerta até o momento. No entanto, um alto dirigente do grupo havia expressado anteriormente à BBC que os termos não protegiam adequadamente os interesses palestinos, e que o Hamas não aceitaria nenhum arranjo que não garantisse a retirada integral de Israel de Gaza.

Apresentação e Repercussões Iniciais

Durante o anúncio, Netanyahu reiterou que Israel acolhia os 20 princípios propostos pelo ex-presidente dos EUA. Contudo, essa aceitação encontra desafios internos, já que um líder da extrema direita que compõe a coalizão do primeiro-ministro israelense prontamente rejeitou publicamente algumas dessas diretrizes. Observadores políticos em Israel frequentemente acusam Netanyahu de descontinuar acordos em fase de negociação sempre que a sua posição política se vê ameaçada. Dessa forma, a mera concordância com os princípios de Trump pode não ser o suficiente para garantir o avanço substancial que o ex-presidente americano almeja, especialmente diante dos obstáculos enraizados nas bases políticas tanto de Israel quanto do Hamas.

Adicionalmente, o plano contém ambiguidades suficientes para permitir que ambos os lados simulem uma aceitação inicial, enquanto, nos bastidores, empreendem negociações adicionais para sabotar o processo e atribuir a culpa pelo eventual fracasso à parte oposta. Este padrão de comportamento tem sido uma constante ao longo dos meses de diálogos anteriores, e, caso se repita, é provável que a administração Trump continue a apoiar firmemente Israel, conforme explicitado pelo ex-presidente. Trump comunicou claramente a Netanyahu que, se o Hamas não aceitasse a proposta, teria “o apoio total dos Estados Unidos para fazer o que fosse necessário”.

Uma Estrutura de Negociação, Não um Acordo Final

Embora apresentado por Trump como um “acordo”, a proposta funciona mais precisamente como uma estrutura para futuras negociações, ou, como o próprio afirmou, uma série de “princípios”. Diferente de um plano detalhado essencial para o fim completo de uma guerra, a estrutura não abrange questões cruciais como o mapeamento preciso das linhas de retirada israelense, os detalhes da libertação de reféns, a identificação dos prisioneiros palestinos a serem liberados, ou regras específicas para a governança pós-guerra em Gaza. Essas lacunas têm potencial para inviabilizar a concretização de qualquer acordo duradouro.

Essa estrutura guarda semelhança com a “estrutura” previamente anunciada pelo sucessor de Trump, o então presidente Joe Biden, em maio de 2024. O plano de Biden também visava um cessar-fogo gradual e um acordo para encerrar a guerra. Naquele caso, foram necessários oito meses adicionais para que Israel e o Hamas implementassem a trégua e a troca de reféns por prisioneiros.

A formulação deste documento foi resultado do trabalho de Steve Witkoff, enviado especial de Trump, e de Jared Kushner, genro do ex-presidente. A equipe elaborou a proposta após extensas consultas com representantes de Israel, países europeus e nações árabes, incluindo importantes mediadores como Catar e Egito. A proposta, segundo Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico e integrante do futuro “Conselho da Paz” que Trump presidiria, representa “a melhor chance de acabar com dois anos de guerra, miséria e sofrimento”.

Pontos Chave do Plano e a Visão para Gaza

O documento, revelado pela Casa Branca, prevê que Gaza se torne uma zona desradicalizada e livre de terrorismo, sem apresentar ameaças aos seus vizinhos. A região passaria por um extenso processo de reurbanização em benefício de sua população, que “já sofreu mais do que o suficiente”.

Entre os principais pontos do plano de paz, destacam-se:

Plano de Paz de Trump para Gaza: Desafios e Próximos Passos - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

  • Fim imediato da guerra e recuo das forças israelenses para uma linha pré-acordada, com suspensão de operações militares, enquanto se prepara a liberação de reféns.
  • Liberação de todos os reféns, vivos e mortos, pelo Hamas em até 72 horas após Israel aceitar o acordo. Em contrapartida, Israel libertaria 250 prisioneiros com pena perpétua e 1.700 moradores de Gaza detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças nesse contexto. Para cada corpo de refém israelense liberado, Israel libertaria os corpos de 15 moradores de Gaza.
  • Concessão de anistia a membros do Hamas que se comprometerem com a coexistência pacífica e desmantelarem suas armas; passagem segura para aqueles que desejarem deixar Gaza. O Hamas e outras facções são proibidos de ter qualquer papel na governança.
  • Destruição de toda a infraestrutura militar, terrorista e ofensiva (túneis, instalações de produção de armas) e implementação de um processo de desmilitarização sob supervisão internacional, incluindo um programa de recompra e reintegração de armas.
  • Envio de ajuda humanitária significativa, compatível com acordos anteriores, incluindo a reabilitação de infraestrutura (água, eletricidade, esgoto, hospitais, padarias) e entrada de equipamentos para remoção de escombros. A distribuição será realizada por Nações Unidas, Crescente Vermelho e outras instituições internacionais.
  • Abertura da passagem de Rafah conforme o mecanismo do acordo de 19 de janeiro de 2025.
  • Estabelecimento de uma administração transitória em Gaza por um comitê palestino tecnocrático e apolítico, supervisionado por um “Conselho da Paz”, liderado por Donald Trump, com a participação de Tony Blair, responsável pela reconstrução até a reforma da Autoridade Palestina.
  • Criação de um plano de desenvolvimento econômico liderado por Trump e especialistas para revitalizar Gaza, atraindo investimentos e criando empregos. Será criada uma zona econômica especial com tarifas preferenciais.
  • Garantia de que “ninguém será forçado a deixar Gaza”, com incentivo à permanência para a construção de um futuro melhor.
  • Desenvolvimento de uma Força Internacional de Estabilização (ISF) temporária, liderada pelos EUA e parceiros árabes, para garantir a segurança interna em Gaza, treinar forças policiais palestinas e cooperar na proteção de fronteiras com Israel e Egito. A ISF substituirá gradualmente as Forças de Defesa de Israel (IDF).
  • Afirmação de que Israel “não ocupará nem anexará Gaza”, com as IDF se retirando conforme padrões acordados, exceto por uma presença em um perímetro de segurança. Contudo, não há promessa semelhante para a Cisjordânia ocupada.
  • Estabelecimento de um diálogo inter-religioso para promover tolerância e coexistência pacífica.
  • Reconhecimento da possibilidade de um “caminho confiável rumo à autodeterminação e à criação de um Estado palestino”, condicionado ao avanço do redesenvolvimento de Gaza e à fiel execução do programa de reformas da Autoridade Palestina.

Desafios Internos e Externos à Implementação

Do lado israelense, Benjamin Netanyahu declarou que a totalidade da estrutura do plano se alinha aos seus objetivos para encerrar o conflito: o desarmamento do Hamas, a desmilitarização de Gaza e a impossibilidade de um futuro Estado palestino. No entanto, persistem dúvidas sobre a aceitação plena dessas cláusulas por parte de segmentos de seu próprio governo, ou se o primeiro-ministro usará essa pressão para “refinar” os termos da proposta. A cláusula que impede a ocupação ou anexação de Gaza é vista como crucial pelos países árabes, mas é contraditada pela permissão para que Israel mantenha forças no “perímetro de segurança” da Faixa.

A condenação das ações israelenses pelo restante do mundo aumentou, e Netanyahu segue sob a ameaça de um mandado de prisão internacional do Tribunal Penal Internacional (ICC) por alegados crimes de guerra em Gaza. A preocupação europeia e árabe, liderada por França e Arábia Saudita, tem sido em reorientar a diplomacia, com o objetivo de fortalecer os moderados e buscar uma solução de dois Estados, embora este não seja explicitamente abordado como compromisso no plano.

Em um desenvolvimento anterior ao anúncio conjunto, Trump orquestrou um pedido de desculpas de Netanyahu ao Catar pelo ataque aéreo israelense à liderança do Hamas em Doha, visando facilitar a retomada do Catar como mediador crucial entre as partes. Simultaneamente ao encontro na Casa Branca, bombardeios e ataques aéreos israelenses se intensificaram na Cidade de Gaza, onde a terceira divisão blindada das Forças de Defesa de Israel (IDF) foi mobilizada. Essas ações fazem parte da estratégia de Israel para pressionar o Hamas, mas têm resultado em mais destruição e vítimas civis.

Neste cenário, o comandante do Hamas em Gaza, Ez al-Din al-Haddad, estaria, segundo informações de um comandante de campo do Hamas à BBC, preparando uma “batalha final e decisiva” envolvendo aproximadamente 5 mil combatentes. Este contexto militar exacerbado sugere que, apesar dos esforços diplomáticos, a resolução imediata permanece distante. O desfecho da proposta agora está intimamente ligado à resposta do Hamas, que pode adotar a postura de “sim, mas”, aparentemente aceitando o plano, enquanto solicita inúmeros esclarecimentos.

O plano de paz de Donald Trump, apesar de ser um passo significativo na reorientação do processo de negociação em Gaza, é uma estrutura que demanda semanas, ou talvez meses, de trabalho intenso para se aproximar do ambicioso objetivo de um fim completo e definitivo da guerra. Os detalhes pendentes e os profundos desencontros entre as partes ainda representam grandes desafios à concretização da visão de “paz eterna” para a região.

Para mais detalhes sobre a urgência humanitária na Faixa de Gaza, você pode consultar o relatório das Nações Unidas: ONU destaca necessidade de ajuda humanitária urgente em Gaza.

Este plano se junta a uma série de iniciativas diplomáticas, mas seu sucesso dependerá de superar resistências históricas e desafios logísticos e políticos intrincados. Acompanhe a nossa editoria de Política para se manter atualizado sobre os desdobramentos neste complexo cenário internacional.

Crédito: EPA/Shutterstock


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