Putin Relaciona Tarifas de Trump ao Brasil com Questões Internas e Julgamento de Bolsonaro

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou nesta quarta-feira, 3 de setembro, que as tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras não são reflexo de um desequilíbrio comercial ou de uma reação direta à guerra na Ucrânia. Segundo o líder russo, tais medidas refletem antes de tudo problemas internos do governo americano relacionados às questões políticas do Brasil, especialmente no que tange às relações entre as autoridades americanas e o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu julgamento.

A afirmação de Putin foi feita durante uma coletiva de imprensa na China, onde respondia a questionamentos de jornalistas. A discussão inicial era sobre a possibilidade de a Europa impor novas sanções contra países parceiros comerciais da Rússia e como essas ações poderiam afetá-los. Contudo, o líder russo desviou a atenção do tópico direto com a China, indicando que a questão “realmente não nos diz respeito” e expandindo a análise para o contexto global das tarifas americanas.

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Análise de Putin sobre as Medidas Americanas

Para Putin, a situação na Ucrânia serve, muitas vezes, como um “pretexto” para resolver questões de natureza econômica. Ele argumentou que esses pretextos são usados por algumas nações em relação a laços econômicos que não lhes são convenientes ou agradáveis. Em sua visão, essa prática não se restringe à Ucrânia, mas é aplicada em diversas esferas para justificar medidas econômicas com outros objetivos.

O presidente russo prosseguiu a sua argumentação comparando o tratamento dado pelo governo americano a diferentes países. Ele citou as tarifas impostas pelos Estados Unidos a várias nações, destacando que, enquanto a Índia – também sujeita a uma sobretaxa de 50% por parte de Washington – possui um desequilíbrio na balança comercial com os EUA, o Brasil não apresenta tal cenário. De fato, dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil indicam que, nos últimos dez anos, a balança comercial entre Brasil e EUA foi favorável aos americanos, acumulando um saldo positivo de US$ 43 bilhões.

A data de imposição das tarifas ao Brasil também foi um ponto levantado por Putin. As taxas adicionais entraram em vigor em 6 de agosto, embora Trump as tenha anunciado no início de julho. Segundo o líder russo, apesar das referências à Ucrânia, a cronologia e a falta de um desequilíbrio comercial claro com o Brasil indicam que as tarifas têm outra origem, principalmente ligada à situação política doméstica brasileira, particularmente no que concerne à relação das autoridades americanas com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Contexto das Tarifas e a Carta de Trump ao Brasil

As tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil foram comunicadas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, no início de julho. Ele também fez um pedido explícito pelo fim do julgamento de Jair Bolsonaro. Essa medida foi oficialmente notificada ao governo brasileiro por meio de uma carta assinada por Trump e endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na mensagem, Trump afirmou que o “julgamento não deveria estar ocorrendo”, classificando-o como uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente brasileiro. Ele adicionou que uma relação comercial “injusta”, atribuída ao protecionismo brasileiro, e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) seriam justificativas para as altas tarifas. O republicano citou especificamente as ordens que forçaram plataformas de mídias sociais a bloquear usuários investigados ou acusados de crimes como ameaça e apologia a golpe de Estado, que ele denominou “ordens de censura secretas e ilegais”.

O ex-presidente Jair Bolsonaro é, de fato, julgado atualmente pelo Supremo Tribunal Federal por seu suposto envolvimento em uma conspiração para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições de 2022. Este processo judicial está no cerne da preocupação e das menções feitas por Donald Trump.

Reações do Governo Brasileiro e o Cenário Internacional

A postura de Trump provocou forte reação no Brasil. O governo brasileiro refutou veementemente a ideia de que barreiras comerciais do Brasil estariam desequilibrando o comércio com os EUA, dado o histórico de balança comercial favorável aos Estados Unidos. O presidente Lula classificou as tarifas americanas como uma tentativa de interferência direta no poder Judiciário brasileiro. Ele afirmou publicamente que “O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, reforçando a autonomia do país em suas decisões internas.

O cenário das tarifas de Donald Trump revelou uma política comercial ampla e agressiva. Praticamente todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos foram impactados pelas sobretaxas. No entanto, Brasil e Índia destacaram-se por serem os únicos países a enfrentarem uma sobretaxa de 50%, a mais alta imposta pela administração Trump. Essa semelhança no percentual, porém, diverge nas justificativas americanas.

Putin Relaciona Tarifas de Trump ao Brasil com Questões Internas e Julgamento de Bolsonaro - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

No caso da Índia, a justificativa apresentada pelos EUA para a imposição da taxa de 50% estava ligada à compra de petróleo pela Índia da Rússia, no contexto das sanções ocidentais contra Moscou. O governo americano chegou, inclusive, a ameaçar com a “possível imposição de tarifas semelhantes a outros países que importam, direta ou indiretamente, petróleo da Federação Russa”.

A Questão Energética e a Rússia

O Brasil se encaixa na categoria de países que importam volumes consideráveis de combustível da Rússia. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), nos últimos quatro anos, cerca de 60% de todo o diesel importado pelo mercado brasileiro teve origem russa. Esta dependência pode ser vista como um fator de vulnerabilidade em um contexto de pressões geopolíticas.

Contudo, é crucial observar a cronologia dos eventos. A ameaça de Trump em relação à compra de combustível de Moscou, com a imposição de taxas similares, foi explicitamente feita *após* a entrada em vigor da tarifa de 50% contra o Brasil. Além disso, o ex-presidente americano nunca vinculou de forma direta a sobretaxação sobre as importações brasileiras com os laços comerciais do Brasil com a Rússia. A desconexão entre as datas e a falta de uma declaração explícita de Trump sobre a Rússia como motivo para as tarifas ao Brasil fortalecem o argumento de Putin de que as razões seriam outras.

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Agenda de Putin na China e o Diálogo Internacional

A viagem de Vladimir Putin à China nesta semana foi marcada por uma série de importantes compromissos diplomáticos. Um dos pontos altos foi sua participação em um desfile militar realizado em Pequim. Este evento comemorou o 80º aniversário da vitória chinesa sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial, simbolizando a força das relações bilaterais e a história compartilhada de ambos os países.

Diversos outros líderes internacionais de alto perfil estiveram presentes, incluindo o líder norte-coreano Kim Jong Un. O Brasil foi representado por Celso Amorim, assessor especial da presidência para assuntos internacionais, e pela ex-presidente Dilma Rousseff, que compareceu na qualidade de presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do Brics, o que destaca o envolvimento brasileiro em foros econômicos internacionais relevantes.

Durante sua estadia na capital chinesa, Putin também participou da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), um influente bloco político, econômico e de segurança eurasiático. Paralelamente, ocorreram reuniões bilaterais estratégicas com o presidente chinês, Xi Jinping, aprofundando a coordenação entre os dois países em várias áreas.

Havia uma grande expectativa na comunidade internacional de que o encontro entre os líderes da Rússia e da China pudesse ser um palco para discutir posições e buscar soluções para a guerra na Ucrânia. Essa expectativa explica a série de questionamentos feitos pela imprensa a Putin durante sua coletiva de imprensa, especialmente sobre negociações e o impacto de possíveis sanções sobre os parceiros comerciais russos. A resposta de Putin, ao associar as tarifas americanas a questões domésticas brasileiras e não diretamente à Ucrânia ou ao comércio, realinhou o foco das preocupações internacionais para um complexo jogo de influências políticas e econômicas em nível global.

FONTE: BBC News Brasil


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