Retorno a Gaza pós-cessar-fogo: a difícil volta a casas em ruínas

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O retorno a Gaza pós-cessar-fogo revelou uma paisagem de devastação para milhares de palestinos que tentaram regressar às suas casas no norte do território. Uma pausa nos combates entre Israel e o Hamas, estabelecida em uma sexta-feira, dia 10 de outubro, abriu um breve período de esperança para os deslocados. O acordo concedia 72 horas para a libertação dos reféns restantes pelo Hamas e previa a retirada das forças israelenses de algumas áreas da Faixa de Gaza.

A cessação das hostilidades, que seguiu dois anos de intenso conflito, permitiu que uma significativa parcela da população começasse o trajeto de volta. Nos dois dias seguintes ao início do cessar-fogo, autoridades palestinas registraram o regresso de aproximadamente 500 mil indivíduos ao norte da Faixa de Gaza, uma região amplamente atingida pelos embates militares.

Retorno a Gaza pós-cessar-fogo: a difícil volta a casas em ruínas

A jornada de regresso foi realizada por milhares de pessoas, que percorreram a rodovia costeira de Gaza, utilizando diversos meios de transporte, como veículos, carroças e a pé, movidas pela expectativa de rever seus lares. Contudo, a ofensiva militar israelense alterou dramaticamente a geografia local, destruindo grande parte da infraestrutura urbana e resultando em danos a até três quartos dos edifícios. Hanaa Almadhoun, enfermeira de Gaza, exemplifica o cenário de desolação, desistindo rapidamente da tentativa de voltar ao seu bairro, tamanho o impacto da destruição.

Áreas como Sheikh Radwan, al-Karama e Beach Camp, que permaneceram inacessíveis por semanas, foram as primeiras a receber os habitantes. Nesses locais, os retornados encontraram um panorama desolador: blocos residenciais inteiros estavam arrasados, e centenas de residências, juntamente com a vasta infraestrutura local, haviam desaparecido sob os escombros. A dimensão dos estragos era tão avassaladora que se tornou difícil de processar a escala do desastre.

A enfermeira Hanaa, em contato via WhatsApp com a correspondente da BBC em Jerusalém, Alice Cuddy, descreveu a realidade com gravidade: “A situação lá é muito difícil. Não há vida”. Ela detalhou que “tudo foi destruído. Havia escombros por toda parte, incluindo restos de coisas que nem conseguimos mais reconhecer e munições não detonadas”. Para ela, o cenário exigirá um tempo considerável para a remoção dos detritos das vias e a implementação de pontos de controle emergenciais que garantam o mínimo de serviços básicos. Ela ainda acrescentou que a condição é tão precária que “as pessoas não poderão suportar morar lá. Elas só vieram ver se suas casas estão de pé”.

No caso dos pais de Hanaa, a residência principal resistiu à ofensiva, “mas a maioria dos prédios na mesma rua está severamente danificada”. A própria casa da enfermeira havia sido completamente destruída por bombardeios israelenses no início da guerra. Além disso, moradias e negócios de outros membros de sua família também foram aniquilados, segundo seu relato. Essa realidade brutal torna o processo de retorno a Gaza um desafio humanitário gigantesco.

Muitos, como Ahmed al-Jabari, perderam tudo o que possuíam. Em meio aos escombros da Cidade de Gaza, ele desabafou sobre a perda de sua casa, que levou 40 anos para ser construída, e de todos os seus irmãos e sobrinhos, que foram vitimados. Questionando o futuro, Ahmed expressou seu sofrimento: “O que resta no mundo? A morte é melhor do que a luta em que estamos”, ponderando se viveriam em tendas por mais duas décadas.

Testemunhos do retorno a Gaza foram amplamente documentados nas redes sociais, com dezenas de vídeos mostrando moradores percorrendo os amontoados de escombros e filmando a devastação de seus bairros. Em um dos registros, a voz de um homem ecoa: “Esta é a última área que podemos acessar. O exército israelense ainda está perto. Veja a escala da destruição, eles arrasaram tudo.” Essa proliferação de evidências visuais reforça a extensão dos danos e o trauma vivido pela população.

Retorno a Gaza pós-cessar-fogo: a difícil volta a casas em ruínas - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Alaa Saleh, um professor que se refugiou em Khan Younis com a esposa e seis filhos três semanas antes do cessar-fogo, expressou o sentimento de muitos ao se dirigir à BBC: “Só queremos reconstruir. Estamos cansados de viver em tendas que não nos protegem do calor do verão, nem do frio do inverno.” Seu anseio por estabilidade e recomeço reflete a exaustão de uma comunidade marcada pela incerteza e pela falta de condições básicas.

Paralelamente, em meio ao trabalho de limpeza e inspeção, a defesa civil, sob liderança do Hamas, realiza buscas pelos corpos de palestinos que desapareceram nos escombros, em uma dolorosa tentativa de oferecer dignidade às vítimas da violência.

O advogado Mosa Aldous, que também empreendeu o retorno a Gaza para o norte da Faixa, relatou por telefone da Cidade de Gaza: “Não há mais casa. Tudo se foi.” Em um retorno anterior, durante um cessar-fogo no início do ano, o prédio de sua família já estava parcialmente danificado por ataques israelenses, mas agora não resta absolutamente nada. Mosa viajou sozinho, preferindo que a família ficasse para trás devido à sua preocupação com a fragilidade do acordo. Sua família já havia gastado 7.000 shekels, equivalentes a cerca de US$ 2 mil ou R$ 11 mil, para se deslocar do norte para o sul, e não dispõe de recursos para uma nova mudança. Ele manifesta a esperança de que o cessar-fogo seja duradouro, considerando-o o ponto mais crucial neste momento.

A entrada de caminhões com ajuda humanitária em Gaza também foi intensificada, com dezenas deles cruzando a fronteira e muitos mais aguardando permissão do lado egípcio. No entanto, James Elder, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), alertou que o volume de auxílio é insuficiente diante da magnitude da crise. Segundo ele, Israel necessita “abrir várias passagens, não apenas uma”, para o escoamento efetivo da ajuda. A Organização das Nações Unidas estima que um mínimo de 600 caminhões de ajuda é requerido diariamente para começar a mitigar a emergência humanitária no enclave. Elder sugere que cinco ou seis passagens alternativas poderiam ser abertas, otimizando o acesso. As agências humanitárias, incluindo o Unicef, afirmam estar preparadas para atuar há muito tempo, focando na distribuição de alimentos de alto valor nutricional para gestantes e crianças, além de roupas e calçados para o inverno, essenciais para o suporte à população que retorna à zona de conflito.

Para mais informações sobre a crise humanitária na região, é possível consultar fontes como a Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para Refugiados da Palestina (UNRWA), que desempenha papel fundamental no apoio à população local. O desafio do retorno a Gaza permanece monumental, com a necessidade urgente de reconstrução e assistência contínua.

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A reconstrução e a provisão de condições básicas para os moradores que enfrentam o retorno a Gaza pós-cessar-fogo são desafios monumentais. A experiência desses milhares de palestinos destaca a complexidade e a urgência de uma crise humanitária que exige atenção global e ação coordenada. Para aprofundar suas análises sobre questões políticas e humanitárias internacionais, explore nossa editoria de Política e mantenha-se informado sobre os acontecimentos mais recentes no cenário global.

Crédito da imagem: Reuters / Getty Images


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