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A nova série de drama e comédia Série Netflix ‘Boots’ Revela História Gay em Exército dos EUA ao apresentar, de forma envolvente, a longa e muitas vezes sigilosa jornada de indivíduos gay nas Forças Armadas americanas. Historicamente, o serviço militar e o segredo foram os pilares que moldaram a experiência de milhares de pessoas, forçadas a esconder sua identidade por décadas sob pena de punição e expulsão.
Desde a formação do Exército profissional dos Estados Unidos, no final do século XVIII, por figuras como Friedrich Wilhelm von Steuben – conselheiro de George Washington e, segundo muitos historiadores, ele próprio um homem gay – o tema da homossexualidade no serviço militar tem sido controverso. Durante séculos, a mera suposição da orientação sexual podia significar o fim de uma carreira e a perda de direitos, com os militares sendo severamente penalizados.
Este contexto é o pano de fundo da própria trama principal, em que a
Série Netflix ‘Boots’ Revela História Gay em Exército dos EUA
em suas nuances. Embora, em 1994, uma política permitisse a atuação de pessoas lésbicas, gays e bissexuais (LGB) nas Forças Armadas, a notória regra “Don’t Ask, Don’t Tell” (Não Pergunte, Não Conte) as impedia de discutir abertamente sua sexualidade. Essa legislação ambígua, teoricamente criada para proteger os militares, acabou por aprofundar a invisibilidade e a vigilância, exacerbando um clima de medo e desconfiança.
A situação começou a mudar significativamente em 2011, com a revogação do “Don’t Ask, Don’t Tell”. Pela primeira vez, indivíduos abertamente LGB foram oficialmente aceitos, marcando um novo capítulo de inclusão. Em junho de 2024, o então presidente Joe Biden deu um passo adicional, concedendo perdão geral a milhares de veteranos condenados pelo Artigo 125 do Código Uniforme de Justiça Militar (UCMJ). Esta legislação, vigente de 1951 a 2013, proibia a “copulação carnal não natural” entre pessoas do mesmo sexo. A declaração de Biden reconheceu que muitos veteranos “foram condenados simplesmente por serem eles mesmos”, evidenciando o impacto injusto de tais políticas.
A narrativa central da série “Boots” baseia-se nas memórias de Greg Cope White, publicadas em 2016 com o título “The Pink Marine” (“O Fuzileiro Cor-de-Rosa”). Cope White descreve o serviço militar como “o grande equalizador”, onde, aparentemente, todos são iguais, sem distinção de raça ou sexualidade. No entanto, ele e inúmeros outros militares LGBTQIA+ tiveram de lutar por tratamento igualitário.
O historiador cultural Nathaniel Frank, autor do livro “Unfriendly Fire: How the Gay Ban Undermines the Military and Weakens America”, destaca as profundas vulnerabilidades criadas por tais proibições. Sob o Artigo 125, os militares gay viviam sob “uma nuvem de medo, suspeitas e incertezas”. Relacionamentos mal-sucedidos ou atritos com superiores podiam levar a chantagem, colocando em risco a carreira, aposentadoria e até a liberdade. Frank aponta que a intenção original do “Don’t Ask, Don’t Tell” de Bill Clinton era proteger, mas na prática, aumentou o número de dispensas por motivos de sexualidade. Para saber mais sobre a evolução das políticas militares nos EUA, explore o arquivo do Departamento de Defesa.
“Boots” é uma adaptação sincera e bem-humorada, mantendo o espírito do livro de Cope White, com foco na positividade e resiliência. A série acompanha Cameron (interpretado por Miles Heizer), um adolescente gay não declarado que se alista no Corpo de Fuzileiros Navais em busca de pertencimento, uma experiência pessoalmente vivida pelo autor. Cope White relata a busca por sua identidade masculina em um ambiente que, paradoxalmente, era o mais difícil para alguém com sua orientação sexual. Enquanto o livro é ambientado em 1979, a série transporta a ação para 1990, antecedendo a criação do “Don’t Ask, Don’t Tell”, o que promete vasto material dramático para futuras temporadas, caso a série seja renovada, conforme expectativa do criador Andy Parker.

Imagem: bbc.com
O aspecto homoerótico e a dose de absurdo na série refletem a realidade angustiante de muitos soldados. Consultores históricos, incluindo fuzileiros navais heterossexuais, também consideraram a política de “Não Pergunte, Não Conte” contraintuitiva para a coesão social militar. O próprio Cope White deixou os Fuzileiros Navais após seis anos devido ao cansaço de manter a mentira constante, uma provação que o protagonista Cameron também enfrenta. O autor expressa que o Corpo de Fuzileiros Navais, idealmente um lugar para “encontrar seu verdadeiro eu”, tornava-se inviável quando essa autenticidade era proibida.
Atualmente, enquanto militares LGB podem servir sem impedimentos – uma pesquisa de 2015 mostrou que 5,8% dos 16 mil militares se identificavam como gays, bissexuais ou lésbicas –, as pessoas trans enfrentam um novo desafio. A proibição imposta pelo presidente Donald Trump, em janeiro, gerou uma batalha judicial, e a Suprema Corte americana permitiu temporariamente sua execução, baseando-se na ideia de que a identidade transgênero “gera conflito com o compromisso do soldado com um estilo de vida honrado, verdadeiro e disciplinado”. Esse contexto contemporâneo torna “Boots” uma obra de época extraordinariamente oportuna, conforme Parker observa, pois “uma crueldade similar está sendo infligida” novamente.
Nathaniel Frank enfatiza que a defesa nacional sempre foi um campo de batalha para debates sobre o significado de ser americano, desmistificando a percepção de que pessoas gay são “hedonistas egocêntricos”. Para Greg Cope White, qualquer exclusão contradiz a essência do serviço militar. Ele argumenta que “todas as pessoas dispostas e qualificadas não devem ser apenas autorizadas a servir. Elas devem ser bem recebidas e homenageadas”, defendendo uma visão inclusiva do patriotismo e do compromisso com o país.
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A saga de inclusão nas Forças Armadas americanas, ricamente detalhada pela série ‘Boots’ e pela história, sublinha a constante evolução da sociedade e dos direitos individuais. Acompanhe mais análises sobre política e questões sociais em nossa editoria de Política e mantenha-se informado sobre os desdobramentos que moldam o Brasil e o mundo.
Crédito, Netflix
Crédito, Alamy
Crédito, Getty Images
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