Soldados Desaparecidos na Primeira Guerra Mundial São Identificados

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Após mais de um século, o mistério sobre o paradeiro de dois militares escoceses que desapareceram na frente de batalha no norte da França foi finalmente resolvido. Uma equipe de especialistas, com dedicação incansável, conseguiu identificar os Soldados Desaparecidos na Primeira Guerra Mundial, trazendo um desfecho emocionante para as famílias.

A jornada para essa revelação começou há cerca de quatro anos. Em Lens, uma cidade no norte da França, operários que preparavam o terreno para a construção de um novo hospital fizeram uma descoberta inquietante: os restos mortais de mais de cem indivíduos. Para a polícia local, habituada a achados desse tipo na região historicamente marcada por conflitos, a ação imediata foi acionar Stephan Naji, chefe da unidade de recuperação da Comissão de Túmulos de Guerra da Comunidade Britânica (CWGC). Naji e sua equipe multidisciplinar de arqueólogos, que atuam 24 horas por dia, sete dias por semana, chegaram ao local em poucas horas, iniciando uma meticulosa investigação.

Soldados Desaparecidos na Primeira Guerra Mundial São Identificados

O sítio da descoberta em Lens esteve no epicentro da Frente Ocidental durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), palco da intensa Batalha de Loos, um dos maiores embates do conflito. Assim que a presença de restos de soldados foi confirmada, a equipe de Naji agiu para resgatar os vestígios humanos e quaisquer artefatos remanescentes, com o objetivo de extrair o máximo de informações possível. Em sua sede próxima a Arras, na França, Naji exibe as bandejas com os itens desenterrados, que incluem fragmentos de botas, fivelas de cinto corroídas, distintivos de ombro, botões e insígnias regimentais. Essa análise detalhada permitiu à equipe começar a desenhar o perfil dos indivíduos, em uma região onde milhares de militares ainda constam como desaparecidos.

A Complexa Rede de Identificação

Os distintivos encontrados junto aos restos mortais forneceram pistas cruciais, sugerindo que os corpos poderiam pertencer a soldados de dois regimentos escoceses específicos: os Gordon Highlanders e os Cameron Highlanders. Contudo, para uma identificação definitiva, o caso precisaria ser transferido para uma unidade ainda mais especializada, localizada no Reino Unido. Esta é a etapa em que entram os “detetives de guerra”.

No Reino Unido, um discreto edifício de escritórios no quartel de Imjin em Gloucester abriga o Centro Conjunto Solidário e de Fatalidades (JCCC, na sigla em inglês), uma unidade do Ministério da Defesa britânico. Poucas pessoas conhecem o trabalho fundamental dessa equipe, responsável pela identificação de soldados britânicos que pereceram em campanhas militares históricas. Nicola Nash, assistente social do JCCC há uma década, foi informada sobre os restos mortais encontrados na França em 2023, dois anos após a descoberta inicial.

Os Botões da Memória: Identificando Gordon McPherson

A pesquisa de Nicola Nash para identificar um dos soldados focou inicialmente na lista de militares da Cameron Highlander desaparecidos na Batalha de Loos. Ela refinou a busca por nomes que puderam ser verificados através do censo de 1911. Um achado peculiar se mostrou decisivo: um dos corpos foi encontrado com pequenos botões da Newcastle Corporation Tramways. “Isso era muito incomum para um soldado escocês”, afirmou Nash, percebendo o potencial desses botões como um caminho para a identificação.

Consultando os registros manuscritos do censo de 1911, Nash descobriu um assistente de tabacaria chamado Gordon McPherson. A informação chave foi a identificação de seu pai, James, que trabalhava como almoxarife para a Newcastle Corporation Tramways. Para confirmar que os restos mortais realmente pertenciam a Gordon McPherson, era indispensável encontrar parentes vivos dispostos a realizar um teste de DNA. “Uso o Google, verifico se há reportagens na imprensa, LinkedIn ou Facebook”, explica Nash sobre sua metodologia para localizar os familiares.

Sua busca levou aos irmãos Andrew e Alistair McPherson, residentes de Whitley Bay, em North Tyneside, Inglaterra. Os irmãos guardavam uma preciosa “caixa preta” – uma herança familiar transmitida por gerações. Desde a infância, fascinavam-se com seu conteúdo: uma bala da Guerra dos Bôeres, medalhas, citações e cartas, algumas já difíceis de ler. Os diários de guerra regimentais confirmavam que seu tio-avô, Gordon McPherson, foi morto em combate no primeiro dia da Batalha de Loos, mas seu corpo jamais havia sido recuperado. No ano passado, Alistair recebeu a aguardada carta do Ministério da Defesa. “Fiquei tremendo como uma folha”, confessou ele.

A carta, enviada por Nicola Nash, explicava a forte convicção de que os restos pertenciam a Gordon McPherson devido aos botões da companhia de bondes. “Meu bisavô era inspetor-chefe da Newcastle Tramway”, relatou Alistair McPherson. “Imaginamos que ele deu os botões a Gordon para dar sorte. E funcionou, pois eles ajudaram a identificar seus restos.” O teste de DNA subsequente confirmou o parentesco. Gordon McPherson, soldado de 23 anos do 7º Batalhão dos Cameron Highlanders, que antes da guerra trabalhava como vendedor em uma tabacaria em Edimburgo, havia sido finalmente encontrado. Ele e seus irmãos, Jim e Charles (este último com apenas 14 anos na época e servindo como corneteiro), assim como seu pai, James McPherson, que era sargento-mor regimental dos Fuzileiros de Northumberland, serviram no exército britânico. Andrew McPherson descreveu a confirmação como um milagre, trazendo um alívio após décadas de incertezas para a família.

Soldados Desaparecidos na Primeira Guerra Mundial São Identificados - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

O Legado de James Allan: Um Outro Capítulo Revelado

A identificação do segundo soldado escocês representou um desafio ainda maior. Acreditava-se que ele servisse nos Gordon Highlanders e os botões indicavam que poderia ser um oficial. A complexidade aumentou porque seus restos mortais foram encontrados ao lado de outros cinco grupos. Através de registros de guerra, Nicola Nash determinou que 14 oficiais do regimento haviam atuado naquela área. Ela rastreou e contatou as famílias de todos, viabilizando os testes de DNA necessários.

A investigação encontrou uma correspondência com a família do tenente James Grant Allan, falecido aos 20 anos. Curiosamente, seu sobrinho-neto mora a poucas casas de distância de outra participante da equipe de “detetives de guerra”. A família Allan, originalmente da Escócia, havia se estabelecido em Gloucestershire, Inglaterra, onde Nicholas Allan administra um café há mais de duas décadas. Ele e seus irmãos cresceram com o conhecimento sobre o envolvimento de seu parente na Primeira Guerra Mundial.

Nicholas Allan relembra o momento em que recebeu a ligação de Nicola Nash, informando que sua amostra de DNA confirmava que os restos encontrados na França eram de seu tio-avô, James Allan. “Aquilo me deixou paralisado. Os pelos da parte de trás do meu pescoço se ergueram”, contou Nicholas, expressando a profunda emoção da descoberta. Na noite anterior, por coincidência, ele havia encontrado um álbum de família com fotos e cartas de “Jim”, seu tio-avô. Seus irmãos, Christopher e Rebekah, também reviveram a história através das cartas que ele enviou da linha de frente. “Ele era apenas um menininho… Fico triste por ele não ter vivido sua vida”, lamentou Christopher Allan. Nicola Nash afirmou ter sentido uma “conexão muito especial” tanto com os soldados, por suas histórias, quanto com as famílias envolvidas.

Um Sepultamento Final e o Legado Contínuo

No final de setembro, Gordon McPherson e James Allan receberam um sepultamento digno no Cemitério Britânico de Loos, a poucas centenas de metros do local de suas descobertas. Alistair McPherson expressou sua imensa felicidade e emoção positiva pelo encontro e sepultamento de seu parente. “Não poderíamos ter desejado um desfecho melhor, depois de todo esse tempo”, disse ele. Após a cerimônia, Alistair e Andrew McPherson foram presenteados com os botões da Newcastle Corporation Tramways, elegantemente emoldurados, e uma bandeira britânica dobrada, gerando o comentário bem-humorado de Alastair: “Vamos precisar de uma caixa preta maior”. Nicholas Allan expressou seu deslumbramento e gratidão pelo trabalho realizado pelos “detetives de guerra”, classificando a experiência como “emocionante e um verdadeiro privilégio”.

O incansável trabalho da unidade de recuperação do CWGC e dos “detetives de guerra” do JCCC resultou na localização e sepultamento dos restos mortais de mais de 300 soldados britânicos na última década. Embora muitos permaneçam sem identificação individual, o esforço permitiu nomear 60 desses bravos combatentes que tombaram em batalha. Milhares ainda estão desaparecidos, e alguns talvez nunca sejam encontrados, mas o compromisso desses investigadores é manter a busca ativa e jamais cessar o seu valioso trabalho de trazer honra e encerramento para a história de muitos. A colaboração com entidades como a Comissão de Túmulos de Guerra da Comunidade Britânica (CWGC) é fundamental para este esforço contínuo.

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Este resgate histórico sobre a identificação de soldados desaparecidos na Primeira Guerra Mundial demonstra a perseverança e o impacto emocional de tais descobertas para as famílias e a memória coletiva. Para continuar acompanhando notícias e análises sobre eventos históricos e o legado de grandes conflitos, explore nossa editoria de Análises.

Crédito da imagem: BBC News Brasil


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