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A vida de Sylvia Bloom, a secretária que virou milionária e doou fortuna, é um testemunho singular de discrição e notável sagacidade financeira. Embora sua jornada tenha permanecido nas sombras por décadas, seu extraordinário legado veio à tona em 2018, revelando uma acumulação de milhões de dólares e uma subsequente doação em larga escala para a caridade. Essa notável mulher de Nova York, nascida em tempos de adversidade econômica, transformou sua modesta ocupação em uma fonte de riqueza substancial, com o propósito final de beneficiar o próximo.
A magnitude da filantropia de Bloom foi revelada postumamente. Após seu falecimento em 2016, veio à tona que US$ 6,24 milhões — o equivalente a cerca de R$ 33,2 milhões, segundo as cotações da época — seriam destinados à fundação Henry Street Settlement, localizada na zona leste de Nova York. Essa quantia representou a maior doação individual recebida por aquela instituição de serviço social em mais de 125 anos de existência. Além disso, outras organizações beneficentes receberiam US$ 2 milhões (aproximadamente R$ 10,6 milhões), solidificando um impressionante patrimônio de caridade que ela acumulou com engenho e sigilo.
Sylvia Bloom: a secretária que virou milionária e doou fortuna
Nascida em 1919, no Brooklyn, Nova York, Sylvia Bloom era filha de imigrantes da Europa Oriental. Sua juventude foi marcada pelos severos impactos da Grande Depressão, que eclodiu em 1929, submetendo inúmeras famílias americanas, incluindo a de Bloom, a grandes dificuldades. Esse cenário moldou sua determinação, impulsionando-a a cursar o ensino em escolas públicas e, posteriormente, a concluir seus estudos em aulas noturnas, enquanto trabalhava durante o dia para sustentar-se.
Em 1947, Bloom iniciou sua carreira como uma das primeiras colaboradoras do então recém-criado escritório de advocacia de Wall Street, Cleary Gottlieb Steen & Hamilton. Atualmente, a empresa desfruta de uma reputação global, com mais de 1,3 mil juristas e 16 escritórios espalhados por diversos países. Foi neste ambiente de alta finança que Sylvia desenvolveu um engenhoso e peculiar sistema de investimentos, permitindo-lhe multiplicar seu salário de secretária de forma surpreendente.
A perspicácia de Bloom foi elucidada por sua sobrinha e inventariante, Jane Lockshin. Em entrevista ao programa BBC OS, Lockshin descreveu Sylvia como “inteligente e astuta”. Ela observou que, entre o final dos anos 1940 e a década de 1950, secretárias realizavam inúmeras tarefas para seus empregadores, incluindo a intermediação de compras de ações. “Quando o chefe queria comprar ações, ele dizia à sua secretária: ‘Ligue para o meu corretor e compre mil ações da AT&T'”, explicou Lockshin. Aproveitando essa proximidade com as decisões financeiras de seus superiores, Sylvia utilizava essa mesma informação para adquirir modestas cotas em seu próprio nome. Enquanto seu chefe comprava mil, ela comprava cem.
Sylvia, que lamentava não ter podido seguir o caminho do Direito, casou-se com Raymond Margolies, um bombeiro municipal que mais tarde se tornou professor após a aposentadoria. Curiosamente, a dimensão da riqueza acumulada por Sylvia era completamente desconhecida tanto por seu marido quanto por seus familiares e amigos. O casal levou uma vida desprovida de extravagâncias, residindo em um humilde apartamento alugado no Brooklyn até o falecimento de Raymond, em 2002. Apesar de viajarem, frequentarem a ópera e, notavelmente, Sylvia ser fascinada por Elvis, chegando a assisti-lo em Las Vegas, seus gastos eram comedidos, sem ostentação aparente.
A imagem que seus conhecidos guardavam dela refletia sua sobriedade. Em um incidente simbólico, no dia 11 de setembro de 2001, aos 84 anos, Sylvia, ao ser recomendada a voltar para casa devido ao caos próximo ao World Trade Center, preferiu pegar um ônibus, e não um táxi, um detalhe enfatizado por sua sobrinha. Esse episódio, embora aparentemente trivial, sintetizava sua conduta de vida, que priorizava a discrição e a ausência de excessos, mesmo diante de uma fortuna considerável. Pouco antes de sua própria morte, aos 96 anos, Sylvia se aposentou, passando seus últimos dias em uma casa de repouso.
No funeral de Sylvia, em 2016, o tributo dos colegas revelou o quão valiosas eram suas qualidades. “Ela teria sido uma excelente advogada: era inteligente, analítica, paciente, sábia e leal”, comentou um colega, citado pela Henry Street Settlement. Outros destacaram sua “seca ironia, risada contagiosa e sorriso radiante”, bem como sua “profissionalidade, modéstia, honestidade, generosidade e uma ética profissional implacável”. Todos ressaltavam sua independência de pensamento, sua mente afiada e suas palavras precisas, corroborando o retrato de uma pessoa reservada e perspicaz.
A verdadeira surpresa veio quando Jane Lockshin assumiu a execução do testamento de sua tia. O momento em que analisou as contas de Bloom foi de um choque imenso. “Foi um momento de ‘oh, meu Deus!'”, relembrou Lockshin, contando à BBC sobre a experiência de compilar o patrimônio. “Eu sabia que ela queria deixar a maior parte do seu patrimônio para obras beneficentes e, especificamente, criar bolsas de estudos para crianças necessitadas. Ela confiava em mim para me encarregar disso, o que, na verdade, me comoveu muito. Eu não tinha ideia de qual era o total do seu patrimônio quando ela morreu”. Ao somar US$ 3 milhões em uma corretora, US$ 1 milhão em outra e vários outros ativos, a soma total excedeu os US$ 9 milhões – cerca de R$ 48 milhões.

Imagem: bbc.com
A modéstia com que Sylvia Bloom vivia era notória. Conforme Jane Lockshin, “Sylvia era uma pessoa muito reservada. Ela mantinha seus assuntos para ela mesma e suas finanças eram privadas.” O contraste entre a riqueza oculta e seu estilo de vida humilde era flagrante para sua sobrinha. No entanto, o destino desejado para o dinheiro não foi uma surpresa. Filha da Grande Depressão e beneficiária da educação pública, Bloom tinha um profundo apreço pelo acesso à educação, especialmente para aqueles que enfrentavam oportunidades limitadas.
Lockshin recebeu instruções claras de sua tia: o patrimônio deveria ser doado a uma organização que oferecesse “oportunidades educacionais a jovens de baixa renda”. Essa vontade refletia a crença inabalável de Sylvia na educação como motor de transformação, um valor que a impulsionou a obter seu próprio diploma universitário através de aulas noturnas. Era natural que uma parcela tão expressiva de sua riqueza fosse canalizada para promover essa causa vital. Para a Henry Street Settlement, a doação da discreta secretária significou um novo capítulo de esperança para centenas de jovens.
Graças à sua posição como tesoureira na fundação Henry Street Settlement, Jane Lockshin foi a mensageira da extraordinária doação de sua tia. David Garza, o então diretor-executivo da instituição, recordou ao The New York Times que “Estávamos todos boquiabertos, simplesmente impressionados”. Paul Hyams, do departamento de Recursos Humanos do escritório de advocacia onde Bloom trabalhou por quase sete décadas, também expressou surpresa com a fortuna. “Ela nunca falava de dinheiro, nem levava uma vida de luxo”, comentou. “Não se ostentava, nem queria chamar atenção”. Para saber mais sobre o trabalho desta fundação centenária, visite o site da Henry Street Settlement.
Com os fundos generosamente concedidos, a Henry Street Settlement estabeleceu o fundo de bolsas de estudo Bloom-Margolies, uma homenagem à filantropa, seu marido Raymond e sua irmã Ruth. Este programa abrangente oferece suporte a estudantes desde o nono ano até a conclusão da universidade, incluindo orientação universitária gratuita, preparação para o SAT (exame padronizado para admissão em universidades nos EUA), sessões de tutoria, visitas a campus universitários e apoio contínuo até a formatura. A duradoura magnitude da doação permitiu à fundação criar um fundo de dotação, cujos rendimentos financiam as bolsas de forma permanente, garantindo seu impacto por muitas gerações.
Questionada sobre como Sylvia Bloom teria reagido à atenção pós-morte de suas doações, Jane Lockshin, em entrevista em 2018, declarou: “Ela ficaria com vergonha”. No entanto, ela acrescentou: “Ela odiaria, mas acredito que aceitaria o fato de que a quantidade de atenção dedicada ao seu fundo de bolsas de estudo e às organizações que receberam sua doação seria benéfica para as entidades.” Uma prova de que, mesmo em seu desejo de anonimato, o impacto de sua generosidade transcenderia sua própria modéstia.
A história de Sylvia Bloom, a secretária milionária que escolheu a filantropia como legado, nos lembra que grandes fortunas podem ser construídas com discrição e transformadas em um instrumento poderoso de mudança social. Seu método peculiar de investimento e sua vida dedicada à sobriedade culminaram em um ato de benevolência que redefine o conceito de riqueza pessoal. Para explorar outras narrativas impactantes do mercado financeiro e suas análises, convidamos você a continuar lendo nossa editoria de Economia.
Crédito, Arquivo de família
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