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O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou formalmente a remoção imediata de Lisa Cook, funcionária do Federal Reserve (Fed), do seu cargo de conselheira, desencadeando um novo capítulo e uma escalada na sua confrontação prolongada com o banco central americano. A decisão, revelada na noite de segunda-feira, dia 25 de agosto, através da plataforma de mídia social Truth Social, marcou um momento sem precedentes na história institucional dos EUA, uma vez que nenhum presidente anteriormente havia tentado destituir um membro da liderança do banco central desta forma.
Trump fundamentou sua ação afirmando ter “motivos suficientes” para acreditar que Cook teria fornecido informações incorretas e contraditórias sobre contratos imobiliários de natureza pessoal. Para justificar sua decisão, o ex-presidente citou poderes constitucionais, segundo ele, lhe permitiriam efetuar a remoção da diretora.
Em resposta à declaração de Trump, Lisa Cook publicou um comunicado, rebatendo as alegações. A diretora enfatizou que Donald Trump não detém a autoridade legal necessária para demiti-la e reiterou que não irá renunciar à sua posição. Em sua defesa, Cook afirmou categoricamente: “O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo.” Ela também adicionou: “Não vou renunciar. Continuarei a cumprir minhas obrigações para ajudar a economia americana, como tenho feito desde 2022.” O advogado de Cook, Abbe David Lowell, confirmou a intenção de sua cliente de resistir à tentativa de demissão, declarando que seriam tomadas “todas as medidas necessárias para impedir a tentativa de ação ilegal [de Trump]”.
A situação agrava um cenário de tensões pré-existentes entre Trump e o Federal Reserve, especialmente com o presidente do Fed, Jerome Powell. Trump tem sido um crítico vocal da política de juros do banco central, defendendo repetidamente cortes mais agressivos nas taxas, alegando que o Fed tem sido relutante em implementá-los.
Lisa Cook desempenha um papel estratégico na arquitetura financeira dos EUA. Ela é um dos sete membros do Conselho de Governadores do Fed. Adicionalmente, ela integra o comitê de 12 membros responsável por definir as taxas de juros no país, uma posição de influência direta sobre a política monetária americana. Sua nomeação ocorreu em 2022, feita pelo antecessor de Trump, o presidente democrata Joe Biden. Além de sua posição de liderança, Cook é reconhecida por ser a primeira mulher afro-americana a ocupar este cargo na história do Federal Reserve.
No final de julho, durante a última reunião do Federal Reserve, Cook votou em alinhamento com a maioria dos membros do comitê, incluindo o presidente Jerome Powell, pela manutenção das taxas de juros nos níveis então praticados. Este voto contrariava a pressão pública exercida por Trump por uma política de taxas mais baixas.
A tentativa de demissão de Cook levanta significativas questões jurídicas, conforme apontado por especialistas no assunto. A opinião generalizada é que a Casa Branca, sob a potencial administração de Trump, poderá ter que comprovar em juízo, ou seja, perante um tribunal, que havia, de fato, “motivos suficientes” para justificar tal destituição, de acordo com as leis e regulamentos que regem o Federal Reserve. Se Lisa Cook, ou o próprio Federal Reserve como instituição, decidirem contestar judicialmente a decisão de Trump, a expectativa é que isso poderia precipitar um impasse sem precedentes entre o poder Executivo e o banco central, uma instituição que consolidou sua independência do governo americano em 1951, após uma série de reformas e acordos.
As acusações específicas levantadas por Trump na carta enviada a Cook, e publicada por ele, referem-se a inconsistências em declarações sobre sua residência principal. De acordo com o documento de Trump, Cook teria assinado, inicialmente, um documento atestando que um imóvel localizado em Michigan seria sua residência principal para o ano subsequente. Duas semanas após esta primeira assinatura, Trump alega que Cook teria assinado um segundo documento, este relacionado a um imóvel na Geórgia, afirmando que esta propriedade, por sua vez, seria sua residência principal pelo próximo ano. O ex-presidente argumentou na carta que seria “inconcebível que [Cook] não estivesse ciente de seu primeiro compromisso ao assumir o segundo”, sugerindo má-fé ou falsidade ideológica nas declarações.
A demanda pela renúncia de Cook já havia sido ventilada por Trump na semana anterior à sua decisão de demissão. Naquela ocasião, as alegações de fraude hipotecária foram tornadas públicas por Bill Pulte, um aliado de Trump, em uma carta enviada à então Procuradora-Geral, Pam Bondi. Pulte, que atua como regulador de financiamento imobiliário, declarou em sua carta que as denúncias configuravam um crime e instou o Departamento de Justiça a iniciar uma investigação sobre o caso. Até o momento, contudo, não foi esclarecido publicamente se uma investigação oficial foi de fato instaurada pelo Departamento de Justiça.

Imagem: bbc.com
Em um comunicado divulgado na semana anterior, quando as alegações surgiram pela primeira vez, Lisa Cook informou à BBC que tomou conhecimento das acusações através da mídia. Ela esclareceu que a questão se originou de um pedido de empréstimo hipotecário que havia sido feito quatro anos antes de sua entrada no Federal Reserve. Naquela ocasião, Cook também deixou clara sua postura, afirmando: “Não tenho intenção de ser pressionada a renunciar ao meu cargo por causa de algumas questões levantadas em um tuíte.” A diretora demonstrou estar preparada para lidar com a situação de maneira profissional, garantindo: “Pretendo levar a sério quaisquer perguntas sobre meu histórico financeiro como membro do Federal Reserve e, portanto, estou reunindo informações precisas para responder a quaisquer perguntas legítimas e fornecer os fatos.”
O Federal Reserve, instituição central na estabilidade econômica americana, ainda não emitiu uma declaração oficial em resposta ao anúncio de Trump, realizado na noite de segunda-feira. Enquanto isso, a instabilidade política e a incerteza geradas por essas ações repercutem nos mercados financeiros. Nesta terça-feira, dia 26 de agosto, o dólar americano experimentou uma desvalorização frente às principais moedas mundiais nos mercados asiáticos. Analistas indicam que os investidores estão apostando na possibilidade de que um substituto de Lisa Cook, indicado por Trump, possa ser mais propenso a pressionar por cortes adicionais nas taxas de juros, o que seria visto como um sinal de acomodação às vontades da Casa Branca e um afastamento da autonomia tradicional do Fed.
Julia Lee, da renomada empresa de dados financeiros FTSE Russell, ponderou sobre as potenciais ramificações do cenário para a percepção de mercado sobre a capacidade de investimento nos EUA. Em entrevista à BBC, Lee questionou: “A questão-chave para os mercados é: se Trump conseguir substituir Cook, ele poderia reformular a composição do Fed e como isso impactar a percepção do mercado sobre a capacidade de investimento nos EUA?”. Esta interrogação sublinha as preocupações sobre como a independência e a composição do Fed podem afetar a confiança dos investidores internacionais no ambiente econômico americano.
Adicionando-se às preocupações do mercado e de especialistas, Shoki Omori, estrategista-chefe do banco japonês Mizuho, sublinhou as inquietações acerca da pressão exercida por Trump sobre Jerome Powell nas semanas recentes. Omori observou: “Powell parece estar reagindo, mas quem vier a seguir pode simplesmente ouvir o que a Casa Branca quiser. Não parece nada bom.” Esta análise destaca o receio de que a liderança futura do Federal Reserve possa ceder às pressões políticas em detrimento de uma abordagem puramente técnica e independente da política monetária. Vale lembrar que Trump também já “aventou repetidamente a possibilidade de demitir Powell”, caso suas demandas por cortes nas taxas de juros não fossem atendidas, e já o criticou publicamente, usando termos como “idiota” e “imbecil teimoso” para descrever a sua relutância em acatar os apelos por cortes rápidos e significativos.
Recentemente, na semana passada, o próprio Jerome Powell havia contribuído para aumentar as expectativas de que haverá um corte na taxa de juros já em setembro. Durante uma entrevista a banqueiros reunidos em Jackson Hole, Wyoming, Powell também argumentou que o impacto inflacionário das tarifas impostas por Trump poderia ter um caráter temporário. No entanto, o embate em torno da permanência de Lisa Cook na instituição ressalta a profundidade da disputa política em torno da independência do banco central e o seu impacto potencial na direção da política monetária americana.
Com informações de BBC News Brasil
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