Trump diz que já acabou com 7 guerras: é verdade?

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Durante seu mandato, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter encerrado sete conflitos armados. A verificação de tais declarações exige uma análise detalhada das ações da política externa americana e do status real dos engajamentos militares e diplomáticos em diversas regiões do mundo. Esta revisão factual examina o envolvimento dos EUA em conflitos globais e as mudanças na postura militar e diplomática durante a administração em questão, focando em dados e eventos concretos.

A política externa dos EUA sob a administração Trump foi marcada por uma abordagem que priorizou a redução do envolvimento em “guerras eternas” e a renegociação de acordos internacionais. Essa perspectiva influenciou decisões sobre o posicionamento de tropas, operações militares e iniciativas diplomáticas em cenários de conflito ao redor do globo. A seguir, são detalhados os principais focos de atuação e o desdobramento dos eventos.

Síria e Iraque: A Campanha contra o Estado Islâmico (ISIS)

A campanha militar contra o Estado Islâmico (ISIS) no Iraque e na Síria foi uma das principais prioridades de segurança nacional. Em 2017, a administração intensificou as operações militares, incluindo ataques aéreos e apoio a forças locais, como as Forças Democráticas Sírias (SDF) e as forças de segurança iraquianas. O objetivo declarado era a derrota territorial do califado do ISIS.

Em dezembro de 2017, o Iraque declarou vitória sobre o ISIS, após a retomada de cidades-chave como Mosul. Na Síria, a campanha culminou com a queda de Baghouz, o último reduto territorial significativo do grupo, em março de 2019. Após essa vitória territorial, o ex-presidente declarou a derrota do ISIS e anunciou a retirada de tropas americanas da Síria, uma decisão que gerou debate sobre a estabilidade regional e a persistência da ameaça do grupo como insurgência.

Apesar da perda de seu território físico, o ISIS continuou a operar como uma rede insurgente, realizando ataques e mantendo células adormecidas em ambos os países. A presença militar dos EUA na região foi reconfigurada, com um foco contínuo em operações antiterrorismo e apoio a parceiros locais para prevenir o ressurgimento do grupo. A retirada de tropas da Síria foi parcialmente revertida, com um contingente menor permanecendo para proteger campos de petróleo e apoiar as SDF.

Afeganistão: Negociações e Redução de Tropas

O conflito no Afeganistão, o mais longo da história dos EUA, foi um ponto central da política externa. A administração buscou uma saída negociada, iniciando conversações diretas com o Talibã, excluindo inicialmente o governo afegão. O objetivo era alcançar um acordo de paz que permitisse a retirada das forças americanas.

Em fevereiro de 2020, os EUA e o Talibã assinaram o Acordo de Doha, que estabelecia um cronograma para a retirada completa das tropas americanas e da OTAN do Afeganistão em troca de garantias de segurança do Talibã, incluindo a prevenção de que o território afegão fosse usado por grupos terroristas. O acordo também previa o início de negociações de paz intra-afegãs entre o Talibã e o governo de Cabul.

Apesar do acordo, a violência no Afeganistão persistiu, e as negociações intra-afegãs progrediram lentamente. A administração Trump reduziu significativamente o número de tropas americanas no país, de aproximadamente 13.000 em 2017 para cerca de 2.500 no final de seu mandato. A retirada final das tropas americanas foi concluída em agosto de 2021, sob a administração subsequente, resultando no rápido colapso do governo afegão e na retomada do poder pelo Talibã.

Iêmen: Apoio à Coalizão e Pressões Humanitárias

O Iêmen tem sido palco de um conflito complexo envolvendo a coalizão liderada pela Arábia Saudita e os rebeldes Houthi. O envolvimento dos EUA no Iêmen durante a administração Trump consistiu principalmente em apoio logístico e de inteligência à coalizão saudita, além de vendas de armas. Esse apoio foi justificado pela necessidade de combater a influência iraniana na região e as atividades da Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP).

No entanto, o conflito no Iêmen resultou em uma grave crise humanitária, com milhões de pessoas enfrentando fome e doenças. Houve crescente pressão do Congresso dos EUA para que a administração cessasse o apoio à coalizão, citando preocupações com baixas civis e o impacto humanitário. Embora a administração tenha mantido o apoio, houve momentos de tensão e debate interno sobre a extensão do envolvimento.

O conflito no Iêmen não foi encerrado durante o mandato de Trump, e o apoio dos EUA à coalizão continuou, embora com revisões e debates sobre sua natureza e escopo. A situação humanitária e a instabilidade política no país persistiram como desafios significativos.

Somália: Operações Antiterrorismo e Reconfiguração de Forças

Na Somália, as forças americanas estavam envolvidas em operações antiterrorismo contra o grupo Al-Shabaab, afiliado à Al-Qaeda. Essas operações incluíam ataques aéreos e o treinamento de forças somalis. A administração Trump inicialmente aumentou a presença militar e a frequência dos ataques aéreos contra o Al-Shabaab.

No entanto, no final de 2020, a administração ordenou a retirada da maioria das tropas americanas da Somália, realocando-as para países vizinhos, mantendo a capacidade de realizar ataques aéreos e operações de inteligência à distância. Essa decisão foi parte de uma revisão mais ampla da presença militar dos EUA na África.

A retirada das tropas gerou preocupações sobre o impacto na capacidade das forças somalis de combater o Al-Shabaab e a estabilidade da região. O grupo terrorista continuou a representar uma ameaça significativa, realizando ataques e mantendo controle sobre partes do território somali. O conflito com o Al-Shabaab permaneceu ativo, com as operações antiterrorismo dos EUA adaptando-se à nova configuração de forças.

Líbia: Envolvimento Limitado e Conflito Contínuo

A Líbia permaneceu em um estado de conflito civil e instabilidade após a intervenção de 2011. Durante a administração Trump, o envolvimento militar dos EUA na Líbia foi limitado, focado principalmente em operações antiterrorismo esporádicas contra grupos como o ISIS e a Al-Qaeda, e não em uma intervenção direta no conflito civil entre as facções rivais.

A política dos EUA na Líbia buscou apoiar os esforços diplomáticos liderados pela ONU para estabilizar o país e formar um governo unificado, mas sem um engajamento militar substancial. O conflito interno, com o apoio de potências estrangeiras a diferentes lados, continuou a desestabilizar a nação. A Líbia não viu o fim de seu conflito durante este período, e a presença militar dos EUA foi mínima e focada em ameaças terroristas específicas.

Coreia do Norte: Cúpulas e Desescalada de Tensões

Embora não seja um conflito armado no sentido tradicional, a tensão com a Coreia do Norte representou uma das maiores ameaças à segurança global. A administração Trump adotou uma abordagem diplomática sem precedentes, realizando três encontros diretos com o líder norte-coreano Kim Jong Un.

Essas cúpulas, realizadas em Singapura (2018), Hanói (2019) e na Zona Desmilitarizada (2019), visavam negociar a desnuclearização da Península Coreana. Durante esse período, a Coreia do Norte suspendeu os testes nucleares e de mísseis de longo alcance, o que foi visto como uma desescalada significativa das tensões que haviam atingido um pico em 2017.

No entanto, as negociações não resultaram em um acordo abrangente de desnuclearização, e as sanções internacionais contra a Coreia do Norte permaneceram em vigor. Embora as cúpulas tenham reduzido a retórica belicosa e evitado uma escalada militar, a Coreia do Norte continuou a desenvolver seu programa de mísseis de curto alcance e a questão nuclear permaneceu sem solução definitiva. A situação evoluiu de uma fase de alta tensão para um impasse diplomático, mas não para o fim de uma “guerra” existente.

Irã: Pressão Máxima e Tensões Regionais

A política em relação ao Irã foi caracterizada pela estratégia de “pressão máxima”, que incluiu a retirada dos EUA do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), o acordo nuclear iraniano, em maio de 2018. A administração reimplantou e intensificou sanções econômicas severas contra o Irã, visando restringir sua capacidade de financiar atividades regionais e seu programa de mísseis.

Essa política levou a um aumento das tensões no Golfo Pérsico, com incidentes envolvendo petroleiros, ataques a instalações de petróleo sauditas e o abate de um drone americano. Em janeiro de 2020, um ataque aéreo dos EUA matou o general iraniano Qassem Soleimani no Iraque, levando a uma retaliação iraniana com ataques de mísseis a bases militares iraquianas que abrigavam tropas americanas.

Apesar da escalada de tensões e de incidentes militares diretos, uma guerra aberta entre os EUA e o Irã foi evitada. A política de pressão máxima buscou conter a influência iraniana e forçar o Irã a negociar um novo acordo nuclear, mas não resultou no fim de um conflito armado direto, e sim na intensificação de uma “guerra fria” regional e de confrontos indiretos.

A análise factual das ações da política externa dos EUA durante a administração em questão revela uma série de engajamentos militares e diplomáticos complexos. Em alguns casos, como a derrota territorial do ISIS, houve conquistas militares significativas. Em outros, como o Afeganistão, foram iniciados processos de retirada de tropas e negociações de paz que culminaram em eventos posteriores. Conflitos como os do Iêmen, Somália e Líbia permaneceram ativos, com o envolvimento dos EUA adaptando-se a novas estratégias. A diplomacia com a Coreia do Norte e a política de pressão máxima contra o Irã buscaram gerenciar e desescalar tensões, mas não encerraram “guerras” no sentido tradicional. A natureza dos conflitos modernos, muitas vezes assimétricos e multifacetados, raramente permite um “fim” definitivo e unilateral.

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