Trump não mencionou Bolsonaro em reunião com Lula

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Trump não mencionou Jair Bolsonaro durante sua reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste domingo, 26 de outubro. O encontro ocorreu em Kuala Lumpur, na Malásia, onde ambos os líderes participam da 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), apesar do ex-presidente brasileiro ter sido apontado como o motivo principal para a imposição de sanções dos Estados Unidos contra o Brasil.

A informação foi confirmada pelo secretário-executivo do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Márcio Elias Rosa, que acompanhou a reunião ao lado do presidente brasileiro. A pauta do encontro abordou principalmente questões econômicas e as recentes sanções diplomáticas que afetam o comércio bilateral entre os dois países.

Trump não mencionou Bolsonaro em reunião com Lula

Antes do início formal da reunião de 45 minutos, os dois chefes de Estado conversaram brevemente com jornalistas. Questionado sobre a possibilidade de abordar o tema Jair Bolsonaro com Lula, o presidente Donald Trump reagiu com a frase “None of your business” (Não é da sua conta). Contudo, ele prosseguiu comentando sobre o ex-mandatário brasileiro: “Eu sempre gostei do Bolsonaro. Me senti mal com o que aconteceu com ele. Ele está passando por muita coisa”. Esta foi a única ocasião em que o nome de Bolsonaro surgiu, de forma tangencial, antes do início da discussão oficial.

Sanções em pauta: a intervenção de Lula

Apesar de o presidente Trump não ter trazido o nome de Jair Bolsonaro à mesa de forma direta, foi o presidente Lula quem inseriu o assunto durante a conversa formal. O líder brasileiro mencionou as sanções aplicadas pelos EUA a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), as quais, conforme a narrativa do governo norte-americano, estariam ligadas ao julgamento do ex-presidente Bolsonaro no Brasil. O ex-presidente brasileiro foi condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, em um processo que culminou na imposição dessas medidas.

Sete dos onze ministros do STF tiveram seus vistos de entrada em solo americano cancelados. Além disso, o ministro Alexandre de Moraes foi alvo de retaliações financeiras severas por meio da Lei Magnitsky, um estatuto legal dos EUA que permite sanções globais contra indivíduos acusados de violações dos direitos humanos ou corrupção, incluindo o bloqueio de bens e contas no território americano. Segundo Márcio Elias Rosa, o tema específico de Bolsonaro “não foi discutido” na essência da reunião.

O secretário-executivo ressaltou que Lula utilizou a situação “como exemplo, foi a injustiça da aplicação da lei Magnitsky em relação a algumas autoridades, como do Supremo Tribunal Federal, quão injusta é essa medida em relação a esses ministros porque respeitou-se o devido processo legal e não há nenhuma perseguição jurídica ou política”. Elias Rosa, entretanto, não divulgou a reação do presidente Trump ao pleito de Lula para que tais sanções fossem revogadas. Para mais informações sobre as relações diplomáticas entre as nações, consulte as publicações do Departamento de Estado Americano sobre relações entre EUA e Brasil.

A Crise do Tarifaço e as Negociações Continuam

O foco central da discussão entre os dois líderes foi, de fato, a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre uma parcela significativa das importações brasileiras, especialmente produtos agrícolas e carne bovina. Essa medida gerou a maior crise diplomática recente entre os países. Em uma postagem em sua conta oficial no Twitter, o presidente Lula qualificou o encontro como “ótimo” e informou que as negociações seriam retomadas “imediatamente” para buscar soluções tanto para o tarifaço quanto para a retirada das sanções contra autoridades brasileiras, citando novamente a relação com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em suas declarações iniciais após a reunião, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, detalhou que as conversas entre as equipes dos dois governos prosseguiram ainda no domingo, 26 de outubro, com o objetivo de buscar uma possível suspensão da tarifa de 50%. A reunião bilateral, que aconteceu em Kuala Lumpur durante a tarde local (madrugada no horário de Brasília), foi resultado de semanas de articulação entre assessores de ambos os governos. A primeira aproximação mais substancial ocorreu em setembro, quando Lula e Trump se cumprimentaram brevemente durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Naquela ocasião, Trump expressou ter havido uma “química excelente” com o presidente brasileiro, sinalizando sua disposição para um encontro bilateral mais aprofundado.

Do tarifaço às sanções políticas

As tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros foram anunciadas pelos Estados Unidos em julho. Naquela época, o governo de Donald Trump explicitou diversas vezes a natureza política dessas punições, que miravam especificamente o setor agrícola. Em conjunto com as tarifas, o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) iniciou uma investigação formal contra o Brasil, sob a acusação de adotar “práticas comerciais desleais”. As sanções americanas se estenderam para além do comércio, com restrições de visto aplicadas a diversas autoridades brasileiras, e imposição de bloqueios financeiros diretos contra o ministro do STF Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes.

Trump não mencionou Bolsonaro em reunião com Lula - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

O pano de fundo para todas essas medidas foi o julgamento que resultou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por incitar ataques às instituições democráticas brasileiras. O governo do Brasil reagiu, classificando as sanções como um ataque direto à sua soberania nacional e uma tentativa clara de interferir na independência do Poder Judiciário. A atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, também foi apontada como um fator. O parlamentar, que se mudou para os Estados Unidos no início do ano, realizou articulações junto à Casa Branca visando pressionar por medidas que pudessem levar à absolvição ou anistia de seu pai.

A sequência diplomática: videoconferência e encontros preparatórios

Desde o contato na ONU em setembro, a aproximação entre Lula e Trump se manteve. Em 6 de outubro, os líderes realizaram uma videoconferência de aproximadamente 30 minutos. Nessa ocasião, o presidente Lula reiterou seu pedido para a retirada tanto da tarifa imposta aos produtos brasileiros quanto das medidas restritivas aplicadas contra autoridades do Brasil. No entanto, Trump não ofereceu uma resposta direta a esses pleitos, limitando-se a indicar que as questões seriam conduzidas pelas equipes técnicas de ambos os países.

A preparação para o encontro na Malásia incluiu também uma reunião em 16 de outubro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer. O encontro durou uma hora na Casa Branca, em Washington. Em breve declaração, o chanceler brasileiro descreveu a conversa como “muito produtiva, num clima excelente de descontração e de troca de ideias e posições de uma forma muito clara e muito objetiva”. Segundo Vieira, havia “muita disposição para trabalhar em conjunto para traçar uma agenda bilateral de encontros para tratar de temas específicos de comércio”.

Um comunicado conjunto de Rubio e Greer também ecoou a natureza positiva do encontro, afirmando terem tido “conversas muito positivas sobre comércio e as questões bilaterais em curso”. Ambos “concordaram em colaborar e conduzir discussões em múltiplas frentes no futuro imediato e estabelecer um plano de ação”, indicando a continuidade do diálogo e a busca por um terreno comum.

Antigas posições e desconfianças antes do aperto de mãos

Mesmo com os esforços diplomáticos para buscar um apaziguamento antes da reunião, tanto Trump quanto Lula deram sinais de que mantinham suas posições firmes na semana que antecedeu o encontro. Na quarta-feira, 22 de outubro, Donald Trump afirmou que os pecuaristas americanos “estão indo bem” devido à tarifa aplicada sobre o gado de outras nações, incluindo o Brasil. Em sua rede social, o republicano escreveu que, sem essas medidas, os criadores de gado americanos “estariam na mesma situação dos últimos 20 anos”, que ele classificou como “péssima”, destacando a tarifa de 50% sobre o Brasil como crucial para o setor.

No dia seguinte, quinta-feira, 23 de outubro, Lula, durante uma visita à Indonésia, reafirmou sua defesa por alternativas ao dólar no comércio global. O presidente brasileiro destacou o potencial de sistemas como o Pix no Brasil e o sistema de pagamentos indonésio para facilitar o intercâmbio entre os países, bem como entre os membros do Brics. “O século 21 exige que tenhamos a coragem que não tivemos no século 20”, disse Lula, promovendo “uma nova forma de agir comercialmente, para não ficarmos dependentes de ninguém”, embora sem citar explicitamente os Estados Unidos. A defesa de moedas alternativas à americana, reiterada pelo Brasil na cúpula dos Brics em julho, já havia sido citada por Trump como um dos motivos para a imposição das tarifas às exportações brasileiras, demonstrando a complexidade do cenário de negociações.

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A reunião entre os presidentes Lula e Trump, portanto, evidenciou a delicadeza das relações bilaterais, marcada pela não menção direta a Bolsonaro em um contexto de sanções a ele relacionadas e pelo foco central nas negociações sobre o tarifaço. O caminho para a normalização das relações econômicas e diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos se mantém em curso, exigindo contínuos esforços e diálogo. Continue acompanhando os desdobramentos da política internacional em nossa editoria de Política.

Crédito, Reuters


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