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A negociação de tarifas entre Estados Unidos e Brasil ganhou novo capítulo nesta quinta-feira, 16 de outubro. Em um encontro estratégico na Casa Branca, em Washington, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, se reuniram por uma hora, dando continuidade às tratativas bilaterais. O diálogo visava apaziguar a tensão escalonada por medidas tarifárias e sanções políticas aplicadas pelo governo Donald Trump contra o Brasil, com foco em uma eventual reunião entre os presidentes Lula e Trump.
A reunião foi dividida em duas partes. Inicialmente, os dois chanceleres tiveram um encontro reservado de aproximadamente 15 minutos, seguido por uma sessão ampliada de 45 minutos. Esta segunda etapa contou com a presença do representante de Comércio dos EUA (USTR), Jamieson Greer, e de outros diplomatas de ambas as nações, indicando a profundidade e a complexidade dos temas em pauta.
Trump: Negociação Tarifas EUA-Brasil Inicia na Casa Branca
Após as intensas discussões na capital americana, o ministro Mauro Vieira se dirigiu à Embaixada do Brasil, abstendo-se de fazer comentários imediatos sobre o teor das conversas. No entanto, havia a expectativa de que o chefe da diplomacia brasileira emitiria uma declaração pública ainda no final do dia. Este encontro marca a primeira reunião oficial presencial entre altos representantes dos dois países desde que as medidas punitivas contra o Brasil foram anunciadas em julho, motivadas pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, visto como aliado político de Trump.
Entre as medidas implementadas pelo governo Trump estão a aplicação de uma tarifa de 50% sobre grande parte dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, restrições na concessão de vistos para autoridades brasileiras, e sanções financeiras diretas pela Lei Global Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua esposa, Viviane Barci de Moraes. Paralelamente a essas tarifas, o escritório do USTR, sob a liderança de Jamieson Greer, iniciou uma investigação em julho para apurar supostas práticas comerciais desleais por parte do Brasil.
O governo Trump explicitou diversas vezes o caráter político dessas penalidades. As ações eram parte de uma estratégia articulada, em grande parte, pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente. O deputado, após se mudar para os EUA no início do ano, realizou contatos com a Casa Branca na tentativa de promover ações que pudessem pressionar pela absolvição e anistia de seu pai. Contudo, apesar dessas pressões, Jair Bolsonaro foi condenado no mês anterior pelo STF a uma pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, seguindo sua derrota nas eleições de 2022. As medidas adotadas, além de não alcançarem o objetivo político desejado, impactaram negativamente setores econômicos tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, levando a uma mobilização do empresariado brasileiro para desarticular as tensões comerciais.
Diante desse cenário de meses de escalada nas tensões diplomáticas e econômicas, um breve contato de menos de um minuto entre os presidentes Lula e Trump em Nova York, no final de setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, representou um sinal de descompressão. No reencontro nos bastidores, antes de seus respectivos discursos, ambos trocaram algumas palavras e um abraço, gesto que Trump classificou posteriormente como de “química excelente”, sugerindo um próximo encontro.
A aproximação se solidificou com uma videoconferência entre os líderes no dia 6 de outubro. Na conversa de 30 minutos, Lula solicitou formalmente a Trump a retirada da sobretaxa aplicada aos produtos brasileiros e a suspensão das medidas restritivas contra as autoridades do Brasil. Foi acordado, então, que as negociações seriam continuadas por uma equipe composta por Rubio e Vieira, juntamente com o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, visando culminar em uma reunião presencial entre os presidentes. Embora a data e o local para o encontro presencial ainda não estejam definidos, uma das possibilidades discutidas na videoconferência foi a Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia, ao fim do mês. O Itamaraty confirmou a disposição de Lula para viajar aos Estados Unidos. Dois dias após a teleconferência, Rubio estendeu o convite a Vieira para a reunião presencial em Washington, com o propósito de dar prosseguimento a essas tratativas.
No entanto, a esperada reversão das medidas contra o Brasil ainda não se concretizou, apesar dos gestos de aproximação. Na véspera do encontro entre Vieira e Rubio, o presidente Lula comentou sobre sua interação com Trump em um evento no Rio de Janeiro, em 15 de outubro, declarando: “Não pintou química, pintou uma indústria petroquímica”. No mesmo dia, o representante do USTR, Jamieson Greer, reforçou em coletiva de imprensa em Washington as justificativas para as tarifas. Greer elucidou que há dois tipos de regimes tarifários em vigor contra o Brasil: a tarifa recíproca de 10%, aplicada universalmente, e uma sobretaxa de 40%, justificada por “sérias preocupações com o Estado de Direito, censura e direitos humanos no Brasil.”
Imagem: bbc.com
Greer, sem citar nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, fez alusão a “um juiz brasileiro” que, segundo ele, “tomou para si a autoridade de ordenar que empresas americanas se autocensurem, dando-lhes ordens secretas para gerenciar o fluxo de informações, o Estado de Direito em relação a oponentes políticos no Brasil.” Em complementação à declaração de Greer, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, mencionou a “detenção ilegal de cidadãos americanos que estavam no Brasil”, sem, contudo, aprofundar no assunto. A observação de Bessent parece fazer referência ao caso de Jason Miller, ex-porta-voz de Trump, que foi detido brevemente no aeroporto de Brasília em 2021 e interrogado pela Polícia Federal, à época como CEO da rede social GETTR.
Em paralelo aos esforços diplomáticos oficiais, o deputado Eduardo Bolsonaro também estava em Washington nesta mesma semana, realizando contatos no Departamento de Estado e na Casa Branca. Contudo, o governo brasileiro tem mantido uma postura firme, declarando que as questões políticas, como a condenação de Jair Bolsonaro, são de responsabilidade do Judiciário e não passíveis de negociação pelo Executivo. Na videoconferência entre Lula e Trump, inclusive, o ex-presidente Bolsonaro não foi sequer mencionado, e as conversas focaram exclusivamente nas relações comerciais, com Trump até mesmo expressando a falta que os americanos sentiam do café brasileiro, um dos produtos afetados pelas tarifas.
Para o Brasil, a meta primordial reside na remoção total ou, no mínimo, na significativa redução das tarifas e sanções impostas. Já os Estados Unidos buscam avançar em outros pontos de interesse mútuo. Entre as principais reivindicações americanas estão a abertura do mercado brasileiro para o etanol dos EUA, o acesso para exploração de minerais críticos no território nacional e a regulação das grandes empresas de tecnologia (big techs) no Brasil, um tópico que gera preocupação e críticas por parte do governo Trump, segundo informações do Departamento de Estado dos EUA.
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As negociações entre Brasil e Estados Unidos seguem em compasso de espera por definições mais concretas, marcando um período crítico para as relações bilaterais. Continue acompanhando a cobertura completa em nossa editoria de Política para se manter informado sobre os desdobramentos deste importante diálogo internacional.
Crédito, Embaixada do Brasil nos EUA
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