Trump intensifica pressão sobre Turquia por laços com Rússia

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Donald Trump intensificou a pressão sobre a Turquia para que Ancara encerre suas importações de petróleo e gás da Rússia. A demanda central emergiu de um encontro entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, na Casa Branca, em uma reunião que ocorreu na tarde de uma quinta-feira, 25 de setembro. A delicada questão da guerra na Ucrânia foi um dos pontos mais importantes na agenda dos líderes, moldando grande parte da discussão.

O ambiente do recente encontro apresentou um contraste notável em comparação à visita anterior de Erdogan, em 2019. Naquela ocasião, uma séria discórdia política referente à situação na Síria havia dominado o cenário bilateral, resultando em um clima de tensão. Hoje, os dois líderes demonstram maior convergência de visões nesse tópico específico, o que contribuiu para um tom menos conflituoso. Contudo, essa aparente amenidade não impediu Trump de apresentar exigências contundentes, focando na interrupção do consumo de energia russa pela Turquia, país-membro da OTAN.

Trump intensifica pressão sobre Turquia por laços com Rússia

Ao abordar a imprensa antes das conversações, Trump articulou sua posição de maneira inequívoca. Ele enfatizou que a medida mais eficaz que Erdogan poderia adotar seria cessar a compra de combustíveis fósseis da Rússia, argumentando que o conflito ucraniano já resultou em “milhões de vidas” perdidas. O ex-presidente americano classificou a situação como “vergonhosa”, reiterando suas críticas severas a Vladimir Putin, seu homólogo russo. Essa declaração estabelece a Turquia como um elemento crucial na estratégia mais ampla dos EUA de isolar economicamente a Rússia em decorrência da guerra.

A solicitação de Trump coloca a Turquia em uma encruzilhada econômica e geopolítica. As importações de gás da Rússia, por exemplo, representam impressionantes 41% do total consumido pelo país euro-asiático, destacando uma profunda dependência energética. A forma como o presidente Erdogan irá responder a essa pressão direta ainda permanece incerta, dadas as implicações econômicas e as complexas relações internacionais de Ancara. O cenário evoca um precedente recente: em agosto, o governo americano impôs uma tarifa de 50% sobre a Índia, como retaliação pelas compras indianas de petróleo russo, sinalizando a seriedade das intenções de Washington.

As cobranças de Washington não se limitam à Turquia. No Brasil, o contexto também é de atenção. Uma investigação jornalística, divulgada em agosto pela BBC News Brasil, revelou que cerca de 60% de todo o diesel importado pelo país nos últimos quatro anos teve origem russa. Esse dado sugere que nações como o Brasil também poderiam se tornar alvo de pressões semelhantes por parte dos Estados Unidos. As recentes declarações de Trump chegam semanas após ele ter afirmado estar preparado para implementar sanções ainda mais rigorosas contra a Rússia, contanto que as nações da OTAN concordassem em parar de adquirir petróleo russo. Este movimento alinha-se com uma série de discursos onde Trump critica abertamente a dependência europeia de Moscou.

Na terça-feira, 23 de setembro, durante seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, Trump também havia direcionado críticas à Europa, lamentando a ineficácia do continente em frear o fluxo de energia russa. Esses pronunciamentos recentes consolidam uma significativa alteração na postura de Trump em relação ao conflito ucraniano. No começo de seu mandato anterior, o ex-presidente teve embates com o presidente ucraniano, Volodimyr Zelensky, e demonstrou uma aparente simpatia pelas posições de Putin. Agora, a narrativa inverteu-se, com críticas a Putin e gestos de apoio a Zelensky.

Essa mudança é particularmente relevante no contexto da União Europeia. Em 2022, os países do bloco, que incluem 21 membros da OTAN, recebiam aproximadamente 45% de seu gás da Rússia. A expectativa é que essa porcentagem seja reduzida para cerca de 13% no ano corrente, indicando um esforço europeu em diminuir essa dependência, mesmo antes das recentes exigências de Trump. A reavaliação da matriz energética de seus aliados é um pilar da atual abordagem dos Estados Unidos para a guerra.

Durante sua conversa com Erdogan, Donald Trump expressou a convicção de que o presidente turco, dadas suas relações complexas mas estabelecidas tanto com Putin quanto com Zelensky, poderia desempenhar um papel crucial na mediação de um acordo de paz. Erdogan e Putin mantêm uma relação caracterizada por uma tensão subjacente e por uma complexidade que os une em diversos âmbitos. Ambos os líderes expandiram sua cooperação em várias frentes desde o início da guerra, embora a Turquia tenha também fornecido drones a Kiev, evidenciando uma política externa de múltiplos e por vezes contraditórios vetores. Apesar das nuances, tanto Ancara quanto Moscou almejam laços produtivos com Washington, ao mesmo tempo em que compartilham uma visão cética sobre uma influência americana irrestrita em suas esferas de interesse.

O início da reunião entre Trump e Erdogan foi marcado por um tom cordial. Trump se referiu ao presidente turco como um “durão” em múltiplas ocasiões, um elogio que ele raramente direciona. No entanto, o desfecho concreto do encontro ainda não é totalmente claro. As relações bilaterais entre Turquia e EUA haviam sido tensas sob o governo Biden, mas observou-se uma certa calmaria durante o segundo mandato do presidente Trump. Ambos os lados têm adotado uma abordagem cautelosa na busca por revitalizar seus laços de defesa, comerciais e diplomáticos.

Trump intensifica pressão sobre Turquia por laços com Rússia - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Na pauta política interna, Trump iniciou o encontro repetindo sua alegação infundada de que as eleições americanas de 2020 foram fraudulentas. Em seguida, dirigindo-se a Erdogan, ele declarou que o turco “entende de eleições fraudadas melhor do que ninguém”. Esta fala fez alusão às eleições presidenciais turcas de 2018, quando Erdogan foi reeleito no primeiro turno com pouco mais de 52% dos votos, um pleito no qual a oposição alegou fraudes. Erdogan tem sido criticado por sua administração, que tem se mostrado cada vez mais repressiva. Em março, por exemplo, seu governo deteve seu principal adversário político, provocando protestos generalizados e a saída de centenas de pessoas às ruas.

No que tange às questões econômicas e de defesa, as exportações turcas para os Estados Unidos estão atualmente sujeitas a uma tarifa geral de 15%, um percentual que o governo americano aplica à maioria das nações. Trump mencionou que ele e o presidente turco discutiriam essa questão, com a expectativa de “fechar ótimos acordos comerciais para ambos os países”. Em relação à venda de jatos de combate, especificamente os modelos F-35 e F-16 de fabricação americana, houve apenas promessas vagas de “discutir” a potencial aquisição. No entanto, Trump manifestou otimismo de que Erdogan será “bem-sucedido” em comprar o que deseja.

A controvérsia em torno dos jatos F-35 remonta à decisão de Erdogan, em 2017, de firmar um acordo e posteriormente adquirir e implantar mísseis antiaéreos russos S-400. Esta medida levou os EUA a impor sanções à Turquia em 2020, as quais permanecem em vigor. Desde 2019, a Turquia foi excluída do programa de aquisição dos F-35. Questionado por um repórter se ele iria “desfazer” o que chamou de “decisões estúpidas” do governo Biden de não vender mísseis Patriot à Turquia, o presidente americano respondeu que “discutiria” a questão. “Ele precisa de certas coisas e eu preciso de certas coisas. Chegaremos a uma conclusão”, disse Trump, indicando que a negociação é de “toma lá, dá cá”.

Finalmente, ambos os líderes evitaram pressionar um ao outro a respeito das operações militares de Israel em Gaza, uma questão na qual têm posições opostas e declaradas. A Turquia expressa apoio aos palestinos, enquanto os Estados Unidos são um forte aliado de Israel. Ao ser indagado se compartilhava a mesma visão do presidente turco sobre o conflito, Trump se esquivou, afirmando que “não sabe a posição dele” e que “não poderia falar sobre isso”. Ele reiterou ter tido um “ótimo encontro” com líderes do Oriente Médio durante a Assembleia Geral da ONU e expressou que acredita que um acordo “está próximo”, mas destacou a necessidade de “resgatar os reféns”. Trump já propôs diversas soluções para o fim da guerra, porém se recusa a reconhecer um Estado Palestino, argumentando que isso seria uma “recompensa” ao Hamas. O governo dos Estados Unidos tem um histórico de uso de instrumentos econômicos para influenciar nações parceiras, visando alinhar estratégias geopolíticas, conforme amplamente documentado em publicações oficiais de relações exteriores.

Em suma, a reunião entre Trump e Erdogan marcou um ponto crítico na complexa relação entre os EUA e a Turquia, especialmente em face da guerra na Ucrânia e da dependência energética turca da Rússia. As pressões americanas para que Ancara reavalie suas alianças econômicas e de defesa revelam uma redefinição estratégica em curso. Para ficar por dentro dos desdobramentos mais recentes na política global e suas implicações, continue acompanhando as análises de nossa editoria.

Crédito, Bloomberg via Getty Images


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