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O cenário do empreendedorismo está passando por uma transformação, impulsionado por uma nova onda de talentos. O investidor de risco **Kevin Hartz**, uma figura proeminente no Vale do Silício e fundador da A* Capital, está dedicando uma fatia significativa de seus recursos a um grupo demográfico que poucos ousavam apostar antes: empreendedores adolescentes. Conhecido por sua capacidade de identificar tendências emergentes, Hartz revela que quase 20% do capital de seu fundo está sendo direcionado para startups lideradas por fundadores em idade juvenil, consolidando uma tese de investimento que, em suas palavras, começou de forma “não planejada”.
A trajetória de Hartz demonstra uma notável perspicácia para a inovação. Em 2001, ele foi cofundador da Xoom, uma plataforma que revolucionou o envio de dinheiro internacional em uma época dominada pelos serviços tradicionais da Western Union. A Xoom abriu seu capital em 2013 e, dois anos depois, foi adquirida pelo PayPal por impressionantes US$ 1,1 bilhão. Posteriormente, em 2005, Hartz cocriou a Eventbrite, que simplificou a compra de ingressos para eventos, eliminando as fricções do processo e se tornou pública em 2018. Sua experiência anterior no renomado Founders Fund solidificou ainda mais sua reputação antes de fundar sua própria empresa de capital de risco, a A* Capital, cujo nome é uma referência a um algoritmo de ciência da computação.
A busca incessante de Hartz por inovação continuou em 2020, quando ele percebeu outra onda crescente no mercado: o fenômeno das SPACs (Special Purpose Acquisition Companies). Sua própria SPAC, intitulada “one”, completou uma fusão reversa de US$ 2,1 bilhões em 2021, incorporando a empresa de impressão 3D Markforged, precisamente no momento em que a indústria financeira de Silicon Valley passava a considerar as SPACs como o futuro. Agora, seu foco principal se estabelece na tese de investimento em **empreendedores adolescentes**, que, embora inicialmente não planejada, se tornou um pilar estratégico da A* Capital. Um exemplo notável é o aporte feito na Aaru, uma plataforma de previsão impulsionada por inteligência artificial, que contava com um dos fundadores jovem demais para sequer obter sua carteira de motorista na época do investimento.
A Revolução dos Empreendedores Adolescentes na Economia Tech
A ascensão de jovens fundadores não é um fenômeno isolado, mas sim uma parte integrante de um movimento cultural mais amplo conhecido como “dropout-and-build” (largar a faculdade e construir). Este estilo de vida, popularizado por empreendedores lendários como Steve Jobs, Bill Gates e Mark Zuckerberg, está se consolidando como um caminho comum para uma geração de jovens ambiciosos. Considere Cory Levy, que estagiou em firmas de capital de risco de prestígio, como Founders Fund, Union Square Ventures e Techstars, enquanto ainda cursava o ensino médio, e optou por abandonar a Universidade de Illinois após o primeiro ano. Hoje, ele comanda a Z Fellows, uma aceleradora intensiva de uma semana que oferece bolsas de US$ 10.000 para fundadores técnicos, incluindo jovens do ensino médio. Quando Levy largou a faculdade há uma década, a Thiel Fellowship de Peter Thiel era uma ideia revolucionária. Atualmente, Levy observa que a comunidade de “desistentes” atingiu um nível sem precedentes, comentando que em jantares com 15 ou 20 pessoas, é comum ver que “ninguém tem diploma universitário”.
A magnitude desse movimento é tal que até mesmo a prestigiada aceleradora Y Combinator, que desde seu início reforçou indiretamente a cultura de abandono universitário, adaptou suas abordagens. Recentemente, a Y Combinator lançou um programa inovador voltado para estudantes que desejam fundar empresas sem necessariamente desistir dos estudos. O programa permite que apliquem enquanto ainda estão matriculados, obtenham aceitação e financiamento imediato, e adiem sua participação na YC até a conclusão da graduação. Para a Y Combinator, historicamente conhecida por sua postura contracultural, essa iniciativa reflete uma capacidade de adaptação estratégica em meio às profundas mudanças do ecossistema empreendedor.
O Ponto de Vista de Kevin Hartz sobre o Fenômeno
Questionado sobre o crescente número de jovens que embarcam na jornada empreendedora tão cedo, Hartz aponta para a questão do tédio em ambientes educacionais tradicionais. “Você encontra esses jovens incrivelmente brilhantes que estão simplesmente muito entediados na escola”, comenta Hartz. Ele cita casos de estudantes de universidades de elite, como Stanford, que, apesar de ingressarem em instituições renomadas, acabam por abandonar seus cursos devido a uma ânsia de construir, aprender e ir além dos limites impostos pelo currículo convencional. “Tivemos uma empresa onde os fundadores tinham 18, 18 e 15 anos. O CTO tem provavelmente 16 agora, mas tinha 15 na época em que investimos. E isso não é realmente incomum”, complementa, destacando a precocidade desses talentos.
Ao comparar a Z Fellows de Cory Levy com a mais antiga Thiel Fellowship, lançada por Peter Thiel, Hartz observa similaridades notáveis e diferenças estratégicas. “É incrivelmente semelhante. A diferença é que a Thiel Fellowship é uma organização sem fins lucrativos, e – sou um grande fã do Peter – mas, como sem fins lucrativos, talvez você não esteja tão empenhado em correr atrás como o Cory tem feito com a Z Fellows nos últimos anos”, explica. Ele reforça a visão de Peter Thiel como um visionário que antecipou o valor intrínseco e a ironia de oferecer dinheiro para jovens desistirem da faculdade. Esse fenômeno, impulsionado também pelo alto custo das universidades e um ambiente acadêmico muitas vezes percebido como tóxico e com administrações deficientes, leva cada vez mais adolescentes a questionarem: “Por que não abandono tudo e começo a construir?”
A Z Fellows opera com uma estratégia flexível em relação à participação societária, oferecendo um pequeno investimento inicial de US$ 10.000, geralmente sem a obrigação de equity imediato. Contudo, há um fundo subsequente que apoia empreendedores mais adiante nas rodadas de pré-seed, onde Cory Levy, o fundador da Z Fellows, seleciona alguns projetos para aportes de aproximadamente US$ 100 mil, evidenciando um modelo de apoio escalável para os promissores jovens fundadores.
O Novo Paradigma do Mercado de Trabalho e o Impacto da IA
Hartz também analisa o impacto das tendências do mercado de trabalho na motivação dos jovens. Ele prevê uma inversão estatística significativa por volta de 2026 ou 2027, quando haverá mais trabalhadores autônomos (referidos como 1099s nos EUA) do que empregados em regime tradicional (W-2s). “Isso significa que, há 30 anos, as pessoas trabalhavam para grandes corporações como Nestlé ou McKinsey. Agora estão trabalhando para si mesmas, negociando criptomoedas ou construindo seus próprios negócios. Isso aponta para o individualismo americano. É quase como se os Estados Unidos estivessem entrando em hipervelocidade empreendedora”, afirma. Este cenário é corroborado por estatísticas que indicam o crescimento do trabalho independente globalmente, onde cada vez mais indivíduos buscam flexibilidade e autonomia na carreira, refletindo uma transformação significativa na natureza do emprego. A própria Forbes tem destacado a ascensão contínua das relações de trabalho autônomas, onde indivíduos se movem de uma economia de emprego tradicional para modelos mais flexíveis e empreendedores, muitos deles motivados pela inovação tecnológica e a busca por maior controle sobre suas carreiras.
Ainda mais relevante é o impacto da inteligência artificial (IA) nas dinâmicas de emprego. Hartz observa que as eficiências proporcionadas pela IA estão levando muitas pessoas a serem “empurradas para fora de suas funções”, impulsionando-as, por necessidade ou oportunidade, a iniciar seus próprios negócios. A tese de Paul Graham, que defende que o sucesso precoce pode ser tanto benéfico quanto oneroso para jovens fundadores, transformando radicalmente suas vidas, ressoa com Hartz. Embora tenha achado a própria experiência de empreendedor jovem “exaltante”, ele reconhece os desafios e a intensidade que tal jornada acarreta. Aos dezessete anos, muitos jovens são conhecidos por sua audácia e falta de medo, características que os tornam, em certa medida, aptos a enfrentar os desafios implacáveis do empreendedorismo. No entanto, o VC questiona se as implicações a longo prazo deste fenômeno relativamente recente são plenamente compreendidas, dada sua novidade e rápido avanço.
Um Super Ciclo de Expansão na Tecnologia e IA
O atual momento, segundo Hartz, é apenas o “início do que chamaria de um super ciclo de expansividade em tecnologia, com a IA e tudo mais”. Ele enfatiza que ainda estamos nas fases iniciais do desenvolvimento da inteligência artificial, citando o crescimento acelerado de empresas como OpenAI e Anthropic no setor de modelos fundamentais. Agora, o foco se desloca vigorosamente para as camadas de aplicação, com exemplos como co-pilotos de codificação, a exemplo da Cognition, e empresas como Decagon e Sierra atuando proeminentemente no espaço de CRM (Customer Relationship Management) impulsionado por IA. Para Hartz, ainda há muitas categorias a serem disruptadas, e até mesmo as empresas que parecem inovadoras já estabelecidas, como Sierra e Decagon, estão muito no início de suas ambiciosas missões.
O Equilíbrio entre Faculdade e Empreendedorismo
Ao abordar a questão da faculdade em relação às suas próprias filhas, Hartz oferece uma perspectiva pessoal e equilibrada. Sua filha de 17 anos está no processo de candidatura para diversas faculdades e deseja “a experiência universitária”, um “sabor dessa vida”, sem realmente questionar essa rota tradicional. Hartz incentivou-a a considerar alternativas ao longo do tempo, e planeja fazer o mesmo com sua filha de 13 anos, que será a próxima a entrar nesse ciclo. Isso sugere que, embora Kevin Hartz valorize o empreendedorismo jovem e aposte nele, ele também compreende o apelo e a importância da educação formal e da experiência universitária para alguns indivíduos, sem impor um caminho único.
O Aumento Significativo do Investimento em Jovens Fundadores
Um dos dados mais impactantes da entrevista revela a evolução dramática do foco de investimento de Kevin Hartz. Ele estima que, atualmente, quase 20% das apostas de sua firma nos últimos 12 meses envolvem empreendedores adolescentes. Há apenas dois anos, esse percentual era significativamente menor, em aproximadamente 5%. Esse salto quadruplicado em tão pouco tempo demonstra claramente a crescente confiança e a firme crença de Hartz no potencial transformador e na crescente presença de talentos jovens no cenário global de startups. Sua aposta ressalta um reconhecimento cada vez maior de que idade é apenas um número quando se trata de capacidade inovadora.
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A crescente presença de empreendedores adolescentes no cenário das startups é mais do que uma mera tendência; é um indicativo de uma mudança profunda na mentalidade, nas expectativas e nas oportunidades disponíveis para os jovens. O caso de Kevin Hartz e seus ousados investimentos na A* Capital demonstra, de forma contundente, que o talento, a visão e a capacidade de inovação não têm idade, moldando de maneira significativa o futuro da tecnologia e do trabalho. Para se aprofundar nas discussões sobre as dinâmicas do mercado financeiro e as novas ondas de investimento que estão redefinindo o panorama global, continue acompanhando a nossa editoria de Economia, onde análises detalhadas exploram as movimentações cruciais que definem o futuro dos negócios e da sociedade.
Crédito da imagem: Connie Loizos
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