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Os cortes do Departamento de Energia sob a administração Trump, que totalizam quase US$ 8 bilhões em premiações, foram inicialmente apresentados como uma medida para priorizar os combustíveis fósseis em detrimento das energias renováveis. No entanto, documentos internos obtidos pelo TechCrunch revelam um cenário político e administrativo muito mais intrincado e multifacetado do que a mensagem simplificada que foi divulgada na ocasião.
Embora o Departamento de Energia (DOE) não tenha divulgado uma lista oficial das premiações canceladas, o TechCrunch teve acesso e analisou detalhadamente os 321 contratos que o órgão buscou revogar. Esta análise profunda desvenda as motivações e as consequências dessa decisão em larga escala, indo além da polarização inicial entre energias tradicionais e limpas.
Cortes Departamento de Energia Trump: Desvendando o Caos Político
A pesquisa sobre os documentos indica que nem todos os projetos impactados estavam exclusivamente focados em energias renováveis. Houve, por exemplo, iniciativas destinadas à redução das emissões de metano por parte de produtores de óleo e gás. Dois destes, um de US$ 300 milhões destinado à Colorado State University e outro de US$ 210 milhões ao Gas Technology Institute, exemplificam o cancelamento de esforços voltados para a diminuição da pegada ambiental de fontes de energia convencionais.
O Gas Technology Institute, uma renomada organização de pesquisa e desenvolvimento que atende predominantemente o setor de gás natural, foi severamente afetado pelos cortes. De acordo com os registros analisados, a instituição teve 12 premiações canceladas, somando um valor total expressivo de US$ 417 milhões. Esse montante destaca a amplitude do impacto das revogações, que transcendeu as divisões claras entre setores.
Projetos de captura e remoção de carbono também sofreram baixas significativas. Dez dos 21 projetos nesta área foram descontinuados, totalizando aproximadamente US$ 200 milhões em fundos. A análise revelou que muitos desses projetos estavam localizados em estados que votaram em Kamala Harris nas últimas eleições presidenciais, embora esta métrica não explicasse completamente o panorama dos cancelamentos.
Erin Burns, diretora executiva da Carbon180, ao comentar as implicações desses cortes ao TechCrunch, identificou três categorias predominantes para a interrupção dos projetos: localização, parceiros envolvidos e o status de avanço de cada projeto. Essas variáveis adicionam camadas de complexidade à interpretação das decisões do Departamento de Energia.
Geograficamente, os estados que mais apoiaram Kamala Harris no último pleito foram de fato os mais impactados. A Califórnia, por exemplo, registrou perdas de contratos no valor de, pelo menos, US$ 2,2 bilhões. Colorado, Illinois, Massachusetts, Minnesota e Oregon viram o cancelamento de prêmios que totalizaram cerca de meio bilhão de dólares cada um, enquanto o estado de Nova York teve, no mínimo, US$ 309 milhões em projetos descontinuados. Em contrapartida, os estados que apoiaram Donald Trump sofreram cancelamentos em valores que, em sua maioria, ficaram na casa dos poucos milhões de dólares.
Um dos maiores contratos cancelados, no valor de US$ 467 milhões, havia sido concedido ao estado de Minnesota. Originalmente concedido em 2021, como parte da Lei de Infraestrutura Bipartidária, este recurso tinha como objetivo modernizar as interconexões da rede elétrica em sete estados da região do Meio-Oeste. A conclusão desse projeto prometia adicionar cerca de 28 gigawatts de nova capacidade de geração, com grande parte proveniente de fontes solares e eólicas. Para contextualizar, a frota global de centros de dados, conforme dados da Goldman Sachs, consome 58 gigawatts.
Outro projeto substancial, de US$ 630 milhões, visava igualmente reformular a rede elétrica da Califórnia, testando condutores avançados e dispositivos de classificação dinâmica de linha para aumentar a capacidade de transmissão. Este empreendimento representaria um modelo crucial de modernização de rede, aplicável em todo o território nacional. Esses exemplos ilustram o foco dos cortes em iniciativas de grande impacto e infraestrutura.

Imagem: Getty via techcrunch.com
Um projeto de modernização de rede, que previa a instalação de uma linha de transmissão para as Tribos Confederadas de Warm Springs, no Oregon, também foi descontinuado. As tribos possuem aproximadamente meia dúzia de projetos de energias renováveis que dependiam de uma conexão de rede aprimorada, o que a premiação de US$ 250 milhões agora cancelada teria possibilitado. A iniciativa também incluía a instalação de cabos de fibra óptica ao longo do caminho da linha de transmissão, levando acesso à internet de alta velocidade a uma área rural do estado, evidenciando o potencial transformador do investimento perdido.
Courtni Holness, conselheira de políticas do Carbon180, sugeriu que os beneficiários de premiações que sobreviveram nos estados “azuis” poderiam estar mais alinhados com a administração vigente e participar de setores considerados prioritários. Esta perspectiva aponta para uma possível seleção política na manutenção de certos projetos.
Erin Burns também observou que alguns dos projetos menores poderiam ter sido cancelados independentemente, aludindo à abordagem geral dos Estados Unidos para a inovação energética, que frequentemente envolve um grande número de tentativas, em reconhecimento da incerteza sobre quais delas avançarão regional, tecnológica e economicamente, “atingindo muitos alvos de baixo custo”. Contudo, as implicações maiores para a indústria são notáveis. Alguns setores privados já estariam buscando ambientes com políticas governamentais mais previsíveis, como o Canadá, afetando investimentos domésticos e a estabilidade econômica.
Por fim, Holness levanta uma questão mais abrangente sobre a estabilidade do Departamento de Energia e sua capacidade de atuar como parceiro confiável para empresas dos EUA, oferecendo a previsibilidade necessária para investimentos de longo prazo. Essa preocupação sublinha os desafios enfrentados pelas entidades que dependem do suporte e direcionamento governamental em setores críticos.
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As complexas decisões que levaram aos vultosos cortes do Departamento de Energia durante a gestão Trump evidenciam um cenário intrincado que vai muito além das discussões simplistas. A análise aprofundada dos documentos revela uma interação de fatores políticos, regionais e técnicos que moldaram o futuro de projetos de energia e infraestrutura nos Estados Unidos. Para mais informações e análises sobre política energética e seu impacto, continue acompanhando nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Tim De Chant
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